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Critica teatro: Uma certa Branca de Neve

17 de Julho de 2018 às 11:24

Critica teatro: Uma certa Branca de Neve

Branca de Neve é um clássico da literatura infantil que ganhou o mundo a partir das mãos, principalmente, dos irmãos Grimn. Eles foram os responsáveis por coletar e divulgar muitas das histórias para crianças que conhecemos atualmente. No final de 1812, os irmãos apresentaram 86 contos, coletados da tradição oral da alemã, num volume intitulado “Kinder-und Hausmärchen” (Contos de Fadas para o Lar e as Crianças), entre eles: “A Bela Adormecida”, “A Gata Borralheira”, “Branca de Neve”, “Rapunzel”, “A Pastora de Gansos”, “João e Maria”, etc. É importante destacar que nem sempre os contos coletados pelos irmãos Grimn eram voltados para as “crianças”. Isso porque o conceito de criança e infância na época eram distintos daqueles que vivemos contemporaneamente. Mas este é outro assunto.

Considerando a matriz oral dos contos, também, não é de se estranhar que existam versões diferentes daquelas histórias coletadas e publicadas pelos irmãos Grimn. Por exemplo, a versão russa da Branca de Neve, de Alexander Puskin : “O Conto da Princesa Morta e os Sete Reis", dentre outras.

Todavia a versão Disney de Branca de Neve, em meio as várias versões, talvez tenha sido a de maior impacto no imaginário dos adultos e crianças dessa história. Na versão Disney se adicionou o nome aos anões, foram cortadas algumas maldades da rainha e assim por diante.

“Uma Certa Branca de Neve”  foi adaptada por Mario Pérsico em 1996. Na adaptação Pérsico manteve o eixo central da trama. Isto é, a princesa Branca de Neve é perseguida pela Rainha Má, sendo protegida pelos anões. Na adaptação os anões passaram a ser chamados de zezinhos. Mas como se viu é comum mudar ou alterar, nas várias versões existentes, quem protege a personagem Branca de Neve. A montagem, também, faz referência ao grupo musical Mamonas Assassinas que despareceu num trágico acidente em 1996. Talvez na época esta relação ficasse mais explicita. Porém, passados  mais de dez anosas crianças de 7 a 12 anos podem nem sequer saber quem  são. Todavia, isso não prejudica o andamento ou a compreensão da peça.

A montagem é divertida e tem boas soluções cênicas. É certo que na estreia nem tudo funciona como se deve no palco. São necessários ajustes no ritmo de algumas cenas, os atores precisam jogar “com mais confiança entre si” e, fundamentalmente, que se realizem ajustes nas questões técnicas envolvendo a sonoplastia.

Do conjunto as interpretações de Rai Queiroz (Rainha Má) e Rafael Milbio (Espelho) são destaques na montagem. Uma diversão vê-los em cena. Rafael Milbio (espelho) traz à cena a personagem de um espelho um tanto histriônica.  Quase no limite da caricatura. Mas consegue dar a volta, fugir das armadilhas do riso fácil das primeiras cenas e à medida que acena avança a personagem ganha desenvoltura e consistência. Rai Queiroz (Rainha Má) por outro lado constrói a  personagem com gestual seguro e contido. Move-se lentamente em cena, densa, e não deixa dúvidas que a personagem é malvada. Não cai na tentação de transforma-la numa boba ou numa louca. Ela é má. Rai Queiroz faz isso. Numa dada cena ela se agiganta diante do público apenas com a modulação da voz e o movimento dos braços. É de dar medo. E o olhar da Rainha Má? Vale a pena conferir.

Por fim, excelente a proposta do Teatro Escola abrir o espaço de termporada para a produção destinada ao publico infantil. É necessário que outros grupos de teatro da cidade realizem temporadas destinadas ao público infantil (e que não sejam espetáculos pontuais e nem mesmo gratuitos). Afinal esta é uma das boas práticas para a formação de público. Que venham outras montagens e quem sabe de autores brasileiros.

FICHA TÉCNICA

Texto/Direção: Mario Persico

Elenco:

Rainha: Rai Queiroz

Espelho: Rafael Milbio

Arauto: Sergio Bacceti

Príncipe: Edgar Sewaibricke

Caçador: Marco Abreu

Bruxa: Lenice Gomes

Branca de Neve: Ana Paula

Zézinhos : Débora Júlia

Nathalia Rodrigues

Sandy Cajal

Marina BF

Rary Owen

Camila Rodrigues

Serviço

Teatro Escola Mario Persico

rua da Penha, 823

Julho

Domingo/17h