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Porque empresas não exigem mais diploma na contratação

08 de Maio de 2019 às 10:18

Atualmente, empresas de grande porte como a Apple, Google e IBM que, geralmente são da área tecnológica, estão oferecendo processos seletivos com outros critérios de seleção que não exigem mais o diploma do ensino superior.

Isso aponta para uma revolução no mercado de trabalho, pois coloca as grandes empresas de tecnologia à frente desta revolução que está começando a surgir.

Em um evento em São Paulo, organizado pela instituição Udacity (focada em educação à distância), a gerente de vendas Michelle Schneider, do LinkedIn, aponta:

“Esses tipos de empresa se movem mais rápido que os próprios governos, no contexto de compreender que a educação tradicional está mudando e o papel [seja diploma ou currículo] vai perder esse simbolismo.”

Mudança no mercado

Com isso, uma nova fase para o universo digital está acontecendo e, aos poucos, a educação, assim como o mercado de trabalho, estarão se adaptando a essas mudanças.

Seguindo desse mesmo ponto de vista, a gerente de marketing Ana Luísa Santos, da ONG educacional Khan Academy, afirma que daqui pra frente vai ser mais importante valorizar as realizações pessoais da pessoa do que o seu diploma e currículo.

“Eu já contratei pessoas sem diplomas e eram incríveis. Optei por elas porque apresentaram um portfólio do que já tinham feito – e aquilo foi mais que suficiente. Eu vejo uma tendência evidente de que o que está no papel não será tão importante quanto o que você pode executar e provar que sabe fazer”, afirma Santos.

O que as empresas estão levando em conta

Em primeiro lugar, as empresas estão atrás de funcionários que se adequem às necessidades específicas e possam proporcionar conhecimento adquirido dentro ou fora da universidade.

Mais de um terço dos recém-contratados pela IBM nos últimos dois anos, por exemplo, não se formaram diante dos padrões universitários tradicionais.

Além disso, há muitos anos que a Google tem divulgado ativamente que candidatos podem ter se formado em certa área, ou ter experiência equivalente.

“O que mais importa é ter as habilidades relevantes, que às vezes são obtidas através de treinamentos”, afirma Ginni Rometty, CEO da IBM.

Esses tipos de treinamentos podem ter diversos formatos, de um bootcamp de programação presencial a um curso online estruturado, como um programa Nanodegree da instituição Udacity, ou estudos autodidatas.

No entanto, o graduado em nível superior ganha mais um papel, o de oferecer treinamento para os que não tenham tido contato com a vida acadêmica.

As principais empresas, do Brasil e do exterior, que não exigem mais diploma

A Movile, empresa especializada em serviços móveis e proprietária de marcas como o iFood, não exige diploma universitário para nenhuma vaga. Assim como a Creditas, que segue a mesma política.

Para o Nubank, o diploma é visto como “referência” e não “ponto de corte”. No entanto, na ThoughtWorks, o certificado não é solicitado na hora da admissão.

Outro levantamento, feito pela empresa Love Mondays, com informações que foram enviadas por diretores de RH das empresas, aponta que há empresas brasileiras dispensando a obrigatoriedade do diploma na hora de contratar.

Desse modo, na prática isso significa que muitos candidatos não precisam ter uma formação acadêmica para ocupar diversas funções ou cargos.

Um traço em comum entre muitas das organizações que aparecem no levantamento é que são startups. Sob o mesmo ponto de vista, essas empresas seguem uma política praticada nos Estados Unidos por gigantes como, por exemplo, Google, Amazon e IBM, segundo o site de vagas Glassdoor.

A lista abaixo mostra as condutas de algumas das empresas consultadas pela Love Mondays:

  • Creditas: não exige diploma universitário para nenhuma posição, é um “diferencial para contratar desenvolvedores”;
  • EBANX: não exige para os cargos de desenvolvedores;
  • e-Core: não exige para as vagas de support engineer, premier support engineer, senior support engineer, analista de RH, desenvolvedor de software, suporte a aplicações e consultoria;
  • Loggi: não exige para cargos como de auxiliar e analista de logística;
  • Movile: não exige a apresentação de diploma para praticamente nenhuma posição;
  • Nubank: não exige para engenharia de software, customer experience analyst, business analyst;
  • Quero Educação: não exige diploma para os cargos de BI, planejamento comercial, guia do aluno, account manager, vendedor, bussiness development, auxiliar de serviços gerais, UX/UI designer, product design, executive assistant e todas as vagas de desenvolvimento;
  • ThoughtWorks: o diploma não é cobrado como documento admissional para nenhuma posição. As vagas mais comuns na empresa são: desenvolvedor de software, analista de qualidade, analista de negócios, designer de experiência.

Logo, a desobrigação do diploma é motivada principalmente por dois fatores:

O primeiro deles, para Luciana Caletti, CEO da Love Mondays, é a diversidade. As organizações estão se esforçando para atrair pessoas com perfis e formações diferentes.

“Se o corte na seleção dos currículos for feito pelo nome da faculdade que o candidato fez, fica difícil gerar diversidade na empresa. Fica difícil recrutar pessoas com orientações, gêneros, conhecimentos e experiências de vida diferentes. E as empresas perceberam que tudo isso gera mais valor.”

De acordo com Luciana Carvalho, diretora de gente (departamento de RH), da Movile, o segundo fator é técnico.

“Existem poucos cursos ou graduações que preparam as pessoas para o que precisamos e entendemos que existem outros caminhos que elas podem seguir. Então, tirar essa barreira do diploma facilita a contratação de pessoas que realmente possuem talento e não só um certificado”, diz.

Como resultado, na metade de 2018, a Movile estava com mais de 600 vagas abertas para a área de tecnologia. Sendo a maioria das vagas para desenvolvedores, arquitetos de software e profissionais com experiência em produto.

Como posso preparar meu currículo (com os cursos livres)

Para manifestar o seu potencial, principalmente quando se trata de empregos ligados à tecnologia, você pode investir em projetos pessoais e portfólios, que são uma forma tangível de demonstrar suas capacidades.

Além disso, outro ponto fundamental é se preparar para a entrevista. Em um artigo publicado pelo jornal The New York Times, Laszlo Bock, que foi responsável pela seleção da Google por dez anos, apresenta uma forma de se destacar nesse momento.

   1. Tenha (e mostre) persistência

Acima de tudo, a Google busca por habilidades cognitivas em geral, em outras palavras, “a habilidade de aprender e resolver problemas”.

De acordo com Bock, mesmo que você não seja o melhor em algo difícil, não significa que deva desistir – e é fundamentalmente útil persistir em treinamentos analíticos, lógicos e formais, que vão ajudá-lo mais para frente a assimilar novos conhecimentos.

“Um conjunto de conhecimentos que será inestimável é a habilidade de entender e aplicar informações”, continua. Isso o auxiliará a prosseguir em seus estudos, obter novas habilidades e criar novos projetos.

   2. Escreva um bom currículo

Segundo Bock, o segredo está em destacar suas virtudes da maneira correta. “Emoldure-as como: ‘Eu conquistei X, em relação a Y, ao fazer Z.’”, resume.

“A maioria das pessoas colocaria ‘escrevi editoriais para o The New York Times‘, mas seria melhor dizer: ‘Publiquei 50 editoriais, enquanto a maioria dos editorialistas publica 6, por ter oferecido insights aprofundados sobre uma dada área ao longo de três anos.”

   3. Se prepare para as entrevistas

Por fim, com essas virtudes bem destacadas no papel, é necessário se preparar para apresentá-las pessoalmente e agregar valor à sua candidatura.

“Você deve dizer: ‘Aqui está o atributo que vou demonstrar. Aqui está a história que o demonstra. E aqui está como essa história o demonstra’”, explica. “Em uma entrevista, a maioria das pessoas não explicita o raciocínio por trás de suas ações ou motivos.”

Em conclusão, o que realmente importa para as empresas, atualmente, é o conhecimento adquirido, e não o método que o levou a obter o aprendizado.