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Presença: Talento sorocabano no Google

12 de Julho de 2020 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]

Presença: Talento sorocabano no Google Paulo Vinícius Zacchello é sorocabano de coração, estudou em escola pública a vida toda. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Ele nasceu na capital paulista, mais com três anos de idade veio morar na Vila Progresso, em Sorocaba. Paulo Vinícius Zacchello é sorocabano de coração, estudou em escola pública a vida toda, e, através de muita dedicação, venceu um Acidente Vascular Celebral (AVC) e conquistou um emprego na sede americana da renovada empresa de tecnologia Google. Conheça Paulo, o personagem da semana da coluna Presença.

Como foi sua infância, onde você nasceu?

Eu nasci em São Paulo, mas com três anos de idade meus pais se mudaram para Sorocaba, minha infância foi brincando pelas ruas da Vila Progresso. Estudei em escolas públicas de Sorocaba, desde o primário até o segundo ano do ensino médio. Estudei na pré- escola Francisca Moura Pereira da Silva, a CEI 07, ali na praça Pio XII; depois ingressei no Ezequiel Machado Nascimento, para fazer o ensino fundamental e consegui ingressar na Etec Fernando Prestes, onde fiz o 1º e o 2º colegial, juntamente com ensino técnico; dai fiz cursinho pré-vestibular e passei na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Engenharia da Computação, no ano de 1995, depois no mesmo curso na Unicamp em 1996, mas preferi seguir na UFSCar.

Você sempre quis ser Engenheiro de Computação ou quando criança pensava em seguir outra carreira?

Sempre gostei de computador e queria trabalhar com isto, quando era pequeno computador era muito raro, lembro que meu pai comprou um PC XT, era um computador com tela verde, muito limitado, e meu pai pagou o preço de um carro novo na época, eu fuçava aquele computador todo, procurava joguinhos, às vezes apagava alguns arquivos do meu pai sem querer com o XT, eu fui descobrindo aos poucos como fazer programação.

No ano de 1996 você estava com 20 anos e acabou sofrendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Como foi essa experiência em sua vida?

Eu sempre gostei de esportes, jogava basquete na UFSCar e durante uma partida eu acabei sofrendo o AVC, que acabou deixando totalmente paralisado o meu lado esquerdo. Graças ao socorro rápido, eu em pouco mais de um ano já estava com todos meus movimentos restabelecidos. Fiz muita fisioterapia e contei muito com ajuda dos meus pais e dos meus amigos. Esta experiência me fez refletir muito e fez perceber que era importante na vida dar valor a pequenas coisas. Não tive medo de morrer, o AVC em pessoas jovens é ainda muito desconhecido, sempre fui muito otimista e via sempre o lado bom das coisas, mesmo estando paralisado. Eu fazia fisioterapia na UFSCar, fiquei quatro meses de cama e meus amigos me ajudavam com as matérias durante todo o tempo em que fiquei com locomoção reduzida, não parei de estudar e me formei no prazo normal.

Como foi sua vida depois de formado?

Logo quando me formei fui trabalhar na IBM em São Paulo, fiquei lá por dois anos e depois na Telefônica, sempre na área de software e redes, depois disto fiquei dez anos trabalhando na HP em São Bernardo do Campo.

Mesmo estando empregado você resolveu ser um empreendedor e abrir seu próprio negócio?

Sim, eu sempre amei o cinema, em 2003 juntamente com um amigo resolvemos montar um locadora de video, nascia ali a Prime Videos, no Extra Santa Rosália, e em pouco tempo a locadora se tornou a maior da cidade, e abrimos uma filial em Piracicaba. Chegamos a ter 25 funcionários entre as duas lojas. Era muito legal, pois eu adorava recomendar filmes para os clientes. Quando começamos, os filmes ainda eram em fita, passamos para o DVD logo em seguida o Blu-ray, depois as transformações tecnológicas foram chegando e o hábito da pessoa mudou com a chegada dos Streaming de filmes. Daí fechamos as lojas em 2014.

Após fechar a locadora você decidiu pedir demissão do seu emprego de 10 anos na HP. Por que?

Estava morando em São Paulo e nesta época coincidiu que eu fui pagar a última parcela do financiamento do meu apartamento, quando sai do banco comecei a refletir e pensar no futuro, cheguei em casa e comecei a conversar com minha esposa, ficamos pensando juntos no que fazer. Foi aí que decidimos que queríamos uma vida nova. Minha esposa é economista, formada pela Unicamp, pedi demissão da HP e viemos para os Estados Unidos, queria fazer um curso de mestrado em Administração top de linha, fui aceito no Massachusetts Institute of Technology, o MIT, e também na Stanford University, a qual preferi iniciar meu curso. Eu não tinha o sonho de morar nos EUA como muitos, mas tinha o sonho de fazer um mestrado em uma faculdade boa de negócios, queria conhecer mais sobre o mundo business, queria aprender sobre liderança e ser mais profissional.

Como você conseguiu chegar até a gigante Google?

Quando terminei meu mestrado o Google me achou pelo Linkedin, eu não tinha me candidatado para nenhuma vaga, o meu processo todo de contratação entre entrevistas e envio de dados que eles me solicitavam levou aproximadamente quatro meses. Quando cheguei lá acabei sendo designado para área de filmes de TV, o Google tem uma sessão de Streaming que faz locação de filmes, eles estavam procurando uma pessoa com meu perfil, engenheiro de computação, com experiência em negócios, e que gostasse de filmes. Consegui esta vaga em 2015 e fiquei muito feliz

Como conseguiu o seu tão sonhado Green-card, que é a cidadania americana?

Estava com o visto de estudante, depois disto consegui um visto de estágio e acabei ficando no Google com este visto, eu estava tentando um visto de trabalho, mas acabei não conseguindo pois não fui sorteado, o Google então me mandou para Londres, onde fiquei por um ano e meio até que quando voltei para os EUA, em pouco mais de dois meses consegui o Green-card.

Como foi sua vida em Londres?

Foi muito legal, foi a primeira vez na minha vida que não tive carro, pois o transporte lá é muito bom, rápido e barato. Londres é uma cidade muito heterogênea, eles abraçam a diversidade. Viajei a Europa toda e foi muito mágico para mim e esposa a vida lá.

O que é o Vale do Silício onde você mora hoje?

É uma faixa geográfica localizada na parte sul da região da Baía de São Francisco, na Califórnia, que vai de São Francisco até a cidade de San José. O Vale do Silício reúne várias cidades pequenas com cara bem de interior. Nesta faixa geográfica com cidades com poucos habitantes, você acaba não sabendo onde começa uma e termina outra. Estas cidades abrigam muitas start-ups e empresas globais de tecnologia, como Apple, Facebook e Google, que são algumas das mais conhecidas. Na região, também há instituições com foco em tecnologia, estabelecidas próximas à Universidade Stanford, em Palo Alto. O Museu da História do Computador e o NASA Ames Research Center ficam em Mountain View, onde eu moro, e está localizado o Google. Ela é bem pequena, tem cara de cidade do interior. O Vale do Silício recebe pessoas do mundo todo para trabalhar e estudar, é uma miscigenação cultural muito grande.

Você imaginava que um dia estaria trabalhando em uma das maiores empresas do mundo?

Eu sempre gostei muito do Brasil, sempre gostei de estudar muito e sempre quis estar no “Everest” do mundo da tecnologia, o Google entrou na minha vida de forma natural, o fato de eu sempre gostar de estudar e sempre me desenvolver acabou me trazendo até onde eu estou hoje.

Como você avalia a evolução tecnológica que vivemos, principalmente, nos últimos 10 anos?

Eu acho fantástico, quando estava estudando na UFSCar lembro que para estudar eu corria pegar um livro na biblioteca, de certa forma no passado era tudo muito difícil e a informação era até meio ultrapassada, o Google tem um papel fantástico, ele conseguiu deixar tudo acessível para qualquer um em apenas alguns cliques. Quando lembro de quando comecei e olho para o que vivemos hoje, parece até um filme de ficção cientifica, a sociedade cresceu muito, e temos o universo em nossas mãos através de um smartphone, porém, temos que pensar também sobre para onde estamos indo como sociedade, ao mesmo tempo que temos um mar de informação, temos um mar de desinformação, a tecnologia ao mesmo tempo que traz coisas maravilhosas também traz coisas que temos que nos preocupar. Eu sou fã de termos cada vez mais informação, porém, sempre com responsabilidade e credibilidade.

O que o Google está preparando para a sociedade para os próximos anos?

Tem muita coisa que não posso falar e muita coisa que não sei pois o Google tem vários departamentos em partes diferentes do mundo. Eu vejo coisas como a realidade aumentada que usa os dispositivos para adicionar conteúdo digital ao mundo real. Ao contrário da realidade virtual, você não precisa de headsets, óculos, nem outros equipamentos adicionais. Basta usar a câmera do seu celular. Isto pode ajudar muito no campo de educação, de medicina, em planejamento de designer de produtos novos. A inteligência artificial também, pois ela está cada vez mais inteligente e o Google é um dos líderes no setor e investe pesado nisto. Creio que muitas coisas em breve que são hoje difíceis de se fazer possa ficar mais fácil e rápido através da inteligência artificial. Temos também uma evolução no setor de games, onde através do console da Google você pode ter acesso a vários jogos de forma on-line.

Como você avalia o home-office?

Devido à pandemia, o Google deixou grande parte de sua equipe trabalhando em home-office, eu vou ficar até dezembro pelo menos, creio que depois desta pandemia vamos viver uma filosofia nova de trabalho. Todas as grandes empresas de tecnologia estão falando de após a pandemia de se ter um trabalho mais em casa, mais perto da família com menos deslocamento, estas empresas influenciam muito as práticas dos trabalhos no mundo todo. O Google foi uma das primeiras empresas a oferecer confortos para seus colaboradores, e foi copiado por empresas no mundo todo. Estou curioso para ver o futuro pós-pandemia, acho que vai ter um efeito positivo no bem estar dos funcionários. A vídeo conferência virou o novo padrão, todo mundo está fazendo, reunimos 15, 20 pessoas na tela do computador, algo que até dezembro do ano passado era pouco frequente.

Você tem vontade de voltar para o Brasil?

Sempre amei meu país, tenho saudade da minha família, dos meus amigos. Ao mesmo tempo que sinto falta tenho que pensar no meu aspecto profissional e de evolução sempre. Eu acho que o Brasil, fora o aspecto de violência que me deixa preocupado, tem uma ótima qualidade de vida, além de ser lindo. Porém, eu não vejo um desenvolvimento industrial tecnológico igual tem nos Estados Unidos, pelo menos pelos próximos dez anos pretendo ficar aqui, ou volto antes se o Brasil começar a trazer empresas que buscam o desenvolvimento tecnológico.

Qual a dica você dá para os jovens que estão na faixa dos seus 15 anos, que em breve vão ter que escolher uma carreira, o futuro é a área tecnológica?

Acho que não importa qual seja sua idade ou sua profissão, acho que você tem que dominar a tecnologia. As crianças e adolescentes se aprenderem a saber como as coisas funcionam mais a fundo acabam se desenvolvendo mais. Aprender uma segunda língua, aprender sobre artes é muito importante. Aprender sobre tecnologia também, pois abre a cabeça de todo mundo e desenvolve o cérebro. Quando comecei na faculdade eu tinha que pegar um livro gigante e um computador que custava uma fortuna e pesava muito, hoje em dia temos informação rápida e fácil e um celular compacto pode ser usado para aprender programação. A informação está no Google, no YouTube, os jovens que se interessarem por tecnologia, certamente vão ter um bom emprego no futuro.

Como você se imagina daqui 10 anos, já que tudo evolui muito rápido?

É até difícil de se pensar, eu acho que tenho muito ainda para desenvolver no Google, quero fazer mais cursos e aprender mais. Tenho uma veia empreendedora muito grande, talvez no futuro me aposentar do Google e continuar trabalhando, gosto muito de educação, talvez fazer algo voltado para educação de crianças, que eu gosto muito.

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