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Presença: O garoto da Vila Santana

02 de Agosto de 2020 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]

Presença: O garoto da Vila Santana João Caramez é apaixonado por música. Crédito da foto: Divulgação

O empresário do ramo de eventos João Caramez é um sorocabano que tem sua raiz na Vila Santana. Filho de ferroviário, João é a grande locomotiva do setor cultural da cidade, em mais de 40 anos de carreira ele foi responsável pela maioria dos grandes shows de nossa cidade. Infância, carreira, família, curiosidades dos famosos são assuntos que a coluna Presença conversou com o João Caramez que é o personagem da semana.

Onde você nasceu?

Eu nasci na rua Borba Gato, 493 morava com meus pais e meus 10 irmãos. Sou filho de ferroviário, e mãe dona de casa, costureira. Na Vila Santana eu comecei a minha carreira vendendo ingresso com 8 anos, eu fazia um cineminha com fotos da revista “O Cruzeiro”, colocava elas em uma caixa de papelão e mudava elas através de um cabo de vassoura que ia girando, eu cobrava ingresso que era um palito de fósforo sem uso da criançada. Eu pegava o fósforo, pois era uma maneira de agradar a minha mãe, já que eu roubava a vassoura dela.

Como começou na carreira do mundo de shows?

Eu sempre gostei muito de música, até hoje ela mexe muito comigo. Eu lembro que 1958 fui assistir “Bill Haley e seus cometas” no ginásio de esportes lembro que eles fizeram shows em três cidades: São Paulo, Santos e Sorocaba e lembro que fiquei encantado com as luzes e o cara do contrabaixo. Depois eu me deparei com uma dupla sertaneja: “Cascatinha & Inhana”, que estavam perdidos na cidade e queriam chegar até a rádio Cacique.Lembro que levei eles até lá. Com 14 anos eu ouvia muita música e tocava na missa da igreja Santa Rita, acho que era o único espírita que tocava na igreja católica, lembro que o frei Atílio emprestava o salão paroquial para fazemos umas discotecas para a juventude do bairro, e eu sempre tomei a frente na organização. Em 1970 eu fiz um festival de música na antiga Concha Acústica, mas em 1976 eu fiz meu primeiro show de forma profissional, do Jorge Mautner e Nelson Jacobina que estavam com um sucesso com a música “Maracatu Atônico”, lembro que foi no teatro Maia, na rua Capitão Grandino. Em 1979, comecei no ginásio de esportes, lembro que trouxe Ivan Lins, meu primeiro sucesso de público foi um show da Rita Lee, que foi feito no meio da semana em uma quinta-feira e lotou o ginásio de esportes. No anos de 1980 o grande Pedro Solomão José, me chamou para ir fazer coisas com ele no Recreativo Campestre.

Esta sua parceria com o Pedrinho deu muito certo e colocou a cidade no mapa dos eventos do Brasil, como foi a parceria?

O Recreativo Campestre tinha acabado de ser inaugurado, era um espaço gigante, lembro que na época a Prefeitura me proibiu de colocar cartaz na rua, daí eu quebrei a cabeça e inventei umas placas que foram um sucesso. Os produtores da época foram me procurando, eu fui criando uma amizade no meio, o grande segredo de fazer sucesso no ramo de shows é atender o público e dar algo bacana para ele, o público está ali para se divertir. Graças a Deus sempre deu certo e os empresários dos artistas sempre me procuraram pois queriam estar em Sorocaba. Desde 1980 eu consegui trazer grandes nomes do cenário musical para Sorocaba, como Mamonas Assassinas, Fábio Júnior, Ivete Sangalo, Leandro e Leonardo, João Paulo e Daniel e tantos outros como o Rei Roberto Carlos, e a rainha dos baixinhos, Xuxa.

Como você conheceu a Márcia sua esposa?

A Márcia é 14 anos mais nova que eu, lembro que eu era muito mulherengo um típico jovem da época, lembro que um dia cheguei em casa e ela tinha ido lá e minha mãe gostou muito dela e falou “filho, é essa moreninha com quem você vai casar”, engatamos um namoro e eu casei em um dia 7 de janeiro em uma missa às 7 da manhã. Ela é professora aposentada, mas continua dando aula, eu a amo muito, é minha companheira que me apoia em tudo, meu deu dois filhos, o Felipe e o Gabriel que estão trabalhando comigo. Graças a Deus estamos juntos e nos damos super bem. A Márcia é o meu porto seguro.

Como foi o famoso Festival da Canção?

Quem começou foi o Pedrinho, lembro que eu participei do primeiro como músico, e logo depois ajudei ele na parte da produção, lembro que eu também criei o Festival Sorocaba de Música, no qual recebia inscrições do Brasil todo. Quero muito poder voltar com essas coisas logo, os artistas precisam de incentivo para o seu talento, todo mundo que tem um talento gosta de ser ouvido e aplaudido o Festival da Canção e Prêmio Sorocaba de Música, incentiva esses talentos e serve como vitrine.

O Teatro América marcou uma época cultural da cidade e também na sua vida?

Sim, eu junto como Pedrinho Salomão, estávamos conversando e ele queria fazer uma discoteca, eu falei que já estava velho para isto e queria fazer um teatro ele topou. O nome Teatro América vem em homenagem ao meu pai o senhor Américo. Pedrinho ficou comigo por uns dois anos no teatro depois ele quis sair e eu continuei por uns doze anos. Foi uma tarefa prazerosa, porém muito difícil, infelizmente o teatro não é algo que traz lucro para o empresário e não recebe incentivo nenhum, de ninguém, muito menos do governo. Mas o Teatro América foi maravilhoso, lembro de vários momentos lindo lá dentro e sinto muita saudades dele.

Por falar em teatro, por que Sorocaba, com quase 700 mil habitantes tem tão poucos teatros?

Temos o teatro do Sesi que está em reforma, é um excelente lugar e deve ficar melhor ainda, também temos o teatro do Sesc que é um dos mais modernos, e temos o Teatro Municipal que tem pouco mais de 400 lugares, eu lembro que na época que foi construído ele era para ser maior, para uns 600 lugares, porém, por falta de recursos ele ficou menor. Sorocaba tem uma força gigante na arte, temos ótimas academias de dança que não têm onde se apresentar, também temos ótimos cantores, bandas e grupos de teatro. Creio que em breve como nossa cidade está crescendo, vamos ter mais algum teatro, nossa cidade tem muitas indústrias acho que cresceu muito o lado industrial primeiro. Os empresários e os governantes têm que pensar também em cultura, Jundiaí tem um teatro para mais de 1000 pessoas, é tem uma população bem menor que Sorocaba.

Em 40 anos no ramo de eventos, você tem alguma ideia de quantos casais se conheceram em eventos que você produziu?

Sempre acontece de eu estar fazendo um show e chegar uma família e bater em meu ombro falar que se conheceram em um evento que foi produzido por mim. Eu não tenho ideia de quantos casais se formaram em todos estes anos, mas sempre que eles vêm falar comigo e me contam as suas histórias, eu fico muito feliz.

Qual foi seu maior sucesso de público?

Hoje sei que não consigo mais isto, pois a legislação não permite mais. Lembro que um show da Daniela Mercury quando estava estourada com a música “O canto desta cidade sou eu”, lotou o recreativo. Lembro que também quando acabei de fazer o Teatro América, eu fiz um show de Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho, eu marquei este show para o dia 15 de março, o valor do convite foi baseado em uma pizza que tinha época que custava R$ 15,00 o que eu não sabia na época é que os duas bandas estavam comemorando 15 anos de carreira, foi um sucesso o show e eu vendi 15 mil ingressos. Lembro que Monas deu também um público de mais 12 mil pessoas. Mais nem tudo são flores, já levei muita bordoada também, é um ramo difícil e incerto, às vezes achamos que vai vender muito e não vende.

Como é trabalhar na produção do show do Rei Roberto Carlos?

Eu sou contratado da produção dele para ser o produtor local, eu sou muito tímido, mas já tive algumas oportunidades de entrar no camarim dele e conversar com o Roberto. Lembro que em um show dele a secretária dele pediu para comprar uma “meia calça”, lembro que eu saí correndo comprar no Shopping Sorocaba, quando cheguei eu descobri que ele ia usar a meia para fazer touca no cabelo. Roberto é muito profissional, ele ama crianças. Lembro também de um show que me pediram para arrumar uma cortina, eu corri para arrumar e descobri que Roberto estava com o nervo ciático atacado e não estava conseguindo andar a cortina era para poderem levar ele ao palco e ele cantar sentando, porém não deu certo e tivemos que cancelar o show. O Roberto ficou muito preocupado neste dia com o público e seu empresário tratou de arrumar logo uma data na semana seguinte para realizar o evento. Trabalhar com o Rei é muito bom.

Como é preparar um camarim de um artista?

Hoje em dia é muito mais fácil, vem tudo pronto e escrito pela produção. Já tive problema, uma vez com a Beth Carvalho, que foi pedido rosas eu comprei vermelhas, mais eram para ser brancas. Lembro também do Ultraje a Rigor que fizeram guerra me melancia no camarim. Cada evento é uma história. Têm fãs que fazem de tudo para entrar no camarim, e nós, produtores temos que ter jogo de cintura, têm artistas que são super simpáticos e querem atender a todos, mas tem alguns que nem tanto.

Em todos estes anos de eventos, qual deles te dá mais saudade e gostaria de repetir?

Eu lembro que fazíamos um evento chamado “Ciranda da Alegria”, ele vinha com os Trapalhões, Angélica, e alguns outros artistas, e era gratuito no estádio do CIC, tinha ônibus para buscar as crianças nos bairros, quem bancou este evento foram os empresários. Tenho vontade de fazer novamente acho que os empresários têm que se unir novamente para fazer algo bonito para comunidade. Este evento levou umas 30 mil pessoas.

Como está sua vida durante a pandemia?

Não temos perspetivas nenhuma para fazer nada de eventos este ano, tínhamos marcado o Zé Ramalho, porém não podemos realizar o evento, nosso primeiro evento quando as autoridades sanitárias liberarem, vai ser ele, se tudo der certo, vai ser em Março de 2021. Estou vendo para fazer show de drive-in, um para 150 carros e outro para shows, porém temos que ver ainda como fazer. Tudo está muito incerto e neste ramo de eventos é tudo muito caro. O setor de eventos não teve nem um centavo de incentivo até agora. Precisamos voltar geramos renda, emprego e alegria.

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