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Entrevista: Um mestre ao piano

24 de Maio de 2020 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]
Manuel Garcia [email protected]

Entrevista: Um mestre ao piano O pianista Rogério Koury. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Ele é um dos sorocabanos que a terra de Baltasar se orgulha -- e muito. Aos 47 anos, o pianista Rogério Koury é um dos mais renomados e reconhecidos pianistas do Brasil. Em suas redes sociais ele acumula uma legião de fãs, que fazem com que seus vídeos sejam vistos e compartilhados por todo o mundo.

Rogério fez seu primeiro show profissional aos 15 anos de idade. “Foi numa festa de ano novo em um hotel fazenda em Piedade. Na época tive que ser emancipado para poder tocar e minha mãe teve que ir junto”, conta o artista, que durante a quarentena vive uma das melhores fases de sua vida.

Presença - Você nasceu em Sorocaba, o que você se lembra de sua infância?

Rogério Koury - Minha infância foi sempre no Centro de Sorocaba, morei quase que toda minha vida na Afonso Vergueiro. Lembro da construção do Shopping Sorocaba e das brincadeiras em uma avenida Afonso Vergueiro que não tinha os milhares de carros que vemos hoje. Estudei no Getúlio Vargas, no Objetivo do Centro e me formei em Administração na Uniso.

P - Como foi sua introdução à musica?

R.K. - Minha mãe sempre tocou piano, ela era professora, e a minha avó também. Então, desde o útero da minha mãe eu sempre ouvi musica. Minha mãe dava aulas de piano em casa e eu vivia atrás da porta ouvindo suas aulas. Ouvi muita musica clássica, minha avó materna ama musica clássica e sempre me incentivou. Meu pai também teve uma loja de instrumentos musicais, na qual eu acabei tendo contato com quase todos os instrumentos e marcas disponíveis.

P - Quando você percebeu que queria ser pianista e que poderia fazer disso uma profissão?

R.K. - Ao 10 anos de idade a colunista social do Cruzeiro do Sul, Hélia Neves Fernandes, fez uma matéria comigo mostrando que na época eu já dominava o piano. Quando me vi estampando nas páginas desse importante jornal eu percebi que podia seguir carreira e que as pessoas acreditavam e confiavam em mim. Daí pra frente o piano foi cada vez mais meu melhor amigo e companheiro. Aos 15 anos ganhei meu primeiro cachê, foi algo que me fez sentir valorizado e perceber que dava para se viver de música.

P - Como foi a gravação do primeiro CD?

R.K. - Em 1994 eu fiz um show no teatro municipal, cujo nome era “As melhores do cinema”, no qual executava músicas de grandes clássicos do cinema. Esse show teve toda sua renda destinada ao Fundo Social de Solidariedade, que era presidido, na época, pela querida Norma Mendes. Foi um sucesso tão grande que tivemos que abrir mais apresentações e lotamos todas elas. Os jornais Cruzeiro do Sul e Diário de Sorocaba, esse através da saudosa Tereza Grosso de Luca, me deram uma divulgação incrível, algo que acabou chegando até a gravadora Zan Brasidisc, de São Paulo, que me fez a proposta para lançar meu primeiro álbum, que foi justamente o show que fiz em prol do Fundo Social. Lembro que a foto de capa foi feita pelo Teófilo Negrão no Teatro Municipal. Esse CD foi vendido no Brasil todo em grandes lojas como Mappin, Lojas Americanas e Carrefour. Um ano depois veio o convite da gravadora Cid Entertainment, do Rio de Janeiro, quando eu, de forma mais profissional, acabei lançando o CD intitulado Brasil Piano. Acabei fechando contrato de exclusividade com eles e lancei 12 trabalhos.

P - Como foi sua experiência tendo um programa diário na rádio Cruzeiro Fm, 92,3?

R.K. - Foi muito bacana, fiquei na rádio por quase cinco anos, fazia um programa ao vivo diário, se chamava “A magia do piano”. O convite veio através do Laor Rodrigues, então presidente da rádio. Poder levar o som do meu piano através das ondas do rádio fez muitas pessoas passarem a admirar essa arte, foi uma grande forma de mostrar que o piano pode e deve ser popular.

P - Você tem um conservatório de música que leva seu nome e que é muito conceituado e reconhecido. Como foi conciliar uma carreira de músico com a de professor e empresário?

R.K. - Vivi intensamente minha carreira, viajando pelo Brasil todo. Porém, em 1997, eu me casei e tive filhos. Achei melhor abandonar os palcos por um tempo, comecei a me especializar e estudar. Sempre fui reconhecido como músico, mas me faltava um diploma, algo que fui buscar. Me graduei em música, com licenciatura plena pela Uni Fiam-Faam e em música popular pela Faculdade Carlos Gomes. Me dediquei muito ao conservatório, fazia poucos concertos somente com alunos e amigos mais chegados.

P - Como voltou aos palcos?

R.K. - Em 2018 eu resolvi pegar o celular e gravar um vídeo tocando. Aquela que foi a primeira música que eu gravei, “Em algum lugar do passado”. Gravei e coloquei em meu Facebook e no YouTube. Fui viajar e acabei ficando 15 dias fora. Quando retornei tinha mais de 300 mil visualizações. Esse vídeo acabou chegando a mais de 1,5 milhão de visualizações. Acabei ganhando seguidores e admiradores e resolvi, em um domingo, fazer uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. Acabou “bombando”, prometi que no próximo domingo voltaria a fazer. Estou há dois anos fazendo lives todos os domingos, às 20 horas. Acabei recebendo muitos convites do Brasil todo para realizar shows, resolvi abandonar minha carreira de professor e pôr o pé na estrada novamente. Rodei nesses últimos dois anos o Brasil todo, acabei fazendo shows também em Nova York e Portugal. Hoje tenho meu trabalho em todas as plataformas digitais e seguidores do mundo todo.

P - Você sempre tocou musicas populares no piano. Sempre teve esse gosto?

R.K. - Eu levo recordações, eu já ouvi muitas críticas no começo da minha carreira. No meio dos músicos acabei por sentir um certo preconceito por ser muito popularesco, eles falavam que músicas de Chico Buarque, Ivan Lins e até o hino sertanejo “Evidências” eram músicas de “elevador”. Não acho isso. Acho que a música tem que trazer recordações e sentimentos. Gosto muito do erudito sim, vou sempre em concertos na Sala São Paulo, porém eu gosto do popular e esse nicho, que é pouco explorado, que me faz ser o que sou hoje, reconhecido e lembrado pelas pessoas, pois elas precisam disso, são carentes de boas musicas. Eu dou tratamento acadêmico em minhas músicas, sofisticando em cima de um repertório que todos ouvem, eu faça adaptações. Sou clássico mas popular. É claro que não da para tocar um funk no piano, toco somente aquilo que me faz bem e feliz e me dá liberdade de criar.

P - Como foram seus últimos trabalhos?

R.K. - Achei que merecia gravar algo, apesar de ter meu trabalho nas plataformas digitais, o meu público queria, gosta muito do CD físico. Resolvi fazer de forma independente. Gravei o CD “A arte do piano popular”, que reflete o minha nova fase de amadurecimento. É um trabalho que tem no repertório músicas que me fazem lembrar de experiências que vivi comigo e contam histórias. Acabei também, durante as minhas viagens, conhecendo o então padre Sergio Bedin. Ele manifestou o desejo de gravar um trabalho musical, acabamos nos unidos e gravei pela primeira vez algo que unia voz e piano.

P - O que mudou em sua vida nessa retomada da sua carreira?

R.K. - Estou completamente realizado, amadureci muito durante os anos, voltar aos palcos me fez me sentir feliz e vivo. Receber o carinho do público, estar em contato com ele é o melhor de tudo. Poder viver daquilo que mais gosto, que é o piano, me faz muito bem. Nesse tempo acabei vivendo um momento meio turbulento, pois acabei me separando de minha esposa. Conversamos muito e percebemos que nosso amor é muito grande, porém nos tornamos bons amigos. Tenho uma família linda de dois filhos, uma menina de 20 anos que esta cursando Medicina e um adolescente de 15, que são as coisas mais preciosas da minha vida. A Renata, minha ex-esposa, me apoia muito, ela está em um novo relacionamento e eu também, nos respeitamos muito e ainda vivemos juntos na mesma casa. Descobrimos que podemos ser uma boa família nos respeitando e cuidando de nossos filhos juntos.

P - Quais seus projetos pós-quarentena?

R.K. - Antes dos decretos de isolamento social eu tinha uma turnê agendada em Miami e no Rio Grande do Sul. Elas tiveram que ser remanejadas. A princípio irei realizar elas em setembro, porém o futuro das artes ainda está muito incerto. Não sabemos se vai ser permitida a reabertura das casas de espetáculos. Espero poder em breve voltar aos palcos. Por outro lado, essa quarentena tem sido muito boa para mim, estou ganhando muitos seguidores e tenho ajudado muitas pessoas a se entreter e até a sair de depressão, afinal a música tem o poder de acalmar e levar alegria. Faço lives quase que diárias. Acho incrível o poder da internet de informar, de entreter e até relevar talentos.

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