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Passeio Regional

Piedade realiza sua primeira Festa Literária

A realização é da prefeitura municipal em parceria com a ONG Voz do Morro

23 de Abril de 2022 às 17:53
Rô Galvão [email protected]
"Folia Literária", apresentação da ONG Voz do Morro na 1ª Festa Literária de Piedade.
"Folia Literária", apresentação da ONG Voz do Morro na 1ª Festa Literária de Piedade. (Crédito: Roberto Duarte)

A 1ª Festa Literária de Piedade é um inédito modelo de evento para os piedadenses: um encontro especial da literatura promovido entre escritores nativos, regionais e os de projeção nacional. A festa também incorpora a música erudita e popular, a dança e os recitais da historiografia piedadense. À novidade deste modelo de evento soma-se uma tradição centenária: a ocupação do lugar onde já se travaram múltiplas relações para o desenvolvimento da literatura local e outras artes, o “Club Litterario”.

Instituído em 1887, tendo sido refuncionalizado e até abandonado, hoje é um lugar de significativo valor histórico para todos os envolvidos com a organização deste evento. Cedido em comodato para a prefeitura municipal, seu prédio passou a abrigar a Biblioteca Municipal e o Centro Cultural. Desde a quarta-feira, início da festa, tem recebido centenas de participantes em cada uma das 15 atividades de seu programa a ser finalizado nesta noite de sábado. A realização é da prefeitura municipal em parceria com a ONG Voz do Morro.

A programação

A bibliotecária Maria Salete Victor de Almeida: "A festa literária é um respiro para a literatura". - Rô Galvão
A bibliotecária Maria Salete Victor de Almeida: "A festa literária é um respiro para a literatura". (crédito: Rô Galvão)

A programação da 1ª Festa Literária contemplou o interesse de diferentes públicos, tendo sido previamente divulgada pelo Cruzeiro do Sul, na edição impressa da última terça-feira, dia 19, podendo ser conferida no portal.

“A Festa Literária é um respiro para a literatura”, considera a bibliotecária Maria Salete Victor de Almeida, citando a importância do evento para a revelação de autores, com a promoção de seus livros ou com a realização das mesas debatedoras. Salete também ressalta a amplitude de temas como um incentivo à conquista de leitores, confiante na capacidade de escolha deles para aquisição da prática da leitura. Ela, que trabalha há treze anos na Biblioteca Municipal, vibra com a realização desta 1ª Festa Literária a ponto de se tornar uma fiel divulgadora do evento, o que nos motivou a ir para Piedade conferir os preparativos para então fazer a sugestão de mais este passeio regional.

Benedito Maciel de Oliveira Filho narra a historiografia de Piedade na noite de lançamento da 1ª Festa Literária de Piedade. - Gabriel Antonio Cardoso
Benedito Maciel de Oliveira Filho narra a historiografia de Piedade na noite de lançamento da 1ª Festa Literária de Piedade. (crédito: Gabriel Antonio Cardoso)

A programação

A abertura da 1ª Festa Literária de Piedade, na quarta-feira (20), foi marcada por dois eventos principais: a historiografia piedadense, narrada pelo pesquisador e membro da Academia Sorocabana de Letras Benedito Maciel de Oliveira Filho. Esta atividade será uma das marcas deste evento, pois a história da cidade foi intensamente contada por Maciel antes ou depois de cada atividade programada durante os quatro dias, até o sábado (23). Entusiasta do evento, ele ainda se encarregou de inscrever as obras de historiadores, jornalistas e escritores sorocabanos na feira de livros, prestigiou as demais atividades da programação e reportou os principais fatos e presenças ilustres por meio de seu Facebook “Historiografia Piedadense”.

O trompetista Ravel de Camargo e o maestro Bruno Cardoso nos preparativos do auditório. - Rô Galvão
O trompetista Ravel de Camargo e o maestro Bruno Cardoso nos preparativos do auditório. (crédito: Rô Galvão)

Nossa visita ocorreu em meio aos últimos minutos de produção, quando pudemos conferir as importantes tarefas dos bastidores. A poucas horas do início do concerto sinfônico, os músicos da Banda Lira São João, o trompetista Ravel de Camargo e o maestro Bruno Cardoso dos Santos, finalizavam a distribuição dos equipamentos e partituras nas posições de palco que seriam ocupadas pelos quarenta membros desta centenária banda de percussão e sopro. Ali já constatamos que o empenho pessoal nesta produção tinha dupla razão de ser: a noite também celebraria a estreia da temporada da banda para o ano de 2022. Uma parte do concerto sinfônico pode ser conferida na página da Associação Musical Lira São João.

A expectativa de Bruno é que “a festa literária seja um marco histórico nesse retorno da arte ao centro da cidade, com a recém ocupação do ‘Club Litterario’”.

O maestro Bruno Cardoso é egresso dos conservatórios musicais regionais “Davino Tardelli da Silva”, de Piedade, e “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí. É bacharel em música, com performance em trompete. Tem especialização em ensino coletivo de música e é maestro da Bada Lira São João desde 2018.

Tiago José Garcia, tocando Clarinete na Banda Lira São João no concerto sinfônico de abertura. - Gabriel Antonio Cardoso
Tiago José Garcia, tocando Clarinete na Banda Lira São João no concerto sinfônico de abertura. (crédito: Gabriel Antonio Cardoso)

A quinta-feira começou com a “Folia Literária” da ONG Voz do Morro, parceira da prefeitura municipal na realização da 1ª Festa Literária de Piedade. A ONG trouxe seu bloco musical para um show com repertório carnavalesco, apresentando sambas-enredos tradicionais.

Para Alexandre Benato, coordenador musical da ONG Voz do Morro, “a festa literária é motivada pela necessidade de cultura, de arte, algo tão essencial quanto o ar que a gente respira. Às vezes a gente deixa em segundo plano, mas acredito que para a nossa saúde mental, ainda mais no pós-pandemia, a arte é fundamental”.

Equipe Voz do Morro: Alexandre Benato, Roberto Cavalcante, Nilson Nascimento, Egivaldo Queiroz. - Rô Galvão
Equipe Voz do Morro: Alexandre Benato, Roberto Cavalcante, Nilson Nascimento, Egivaldo Queiroz. (crédito: Rô Galvão)

O primeiro debate sobre literatura ocorreu em uma mesa composta por autores piedadenses: a educadora especialista em literatura infantojuvenil Camila Tardelli, o professor, ator e romancista Paulo Salveti, e o professor e cronista Duco Pietà.

Duco Pietà estava contente com a possibilidade de relançar seu segundo livro “Os desesperos da minha paciência”, já que o lançamento ocorreu em 2020, em meio à pandemia, sem a repercussão que o contato pessoal com público proporcionaria. Na Festa Literária, além do contato, a qualidade no debate de ideias também foi uma expectativa do autor. “Eu acho importante as pessoas trazerem as suas vozes para o debate, oferecendo suas visões. Porque sempre que o debate é fomentado e gera visões mais amplas sobre qualquer coisa se contribui para o processo democrático, desde que haja um pensamento elaborado.

A literatura tem esse poder, de gerar a capacidade de imaginação e de pensamento de forma muito mais ampla e qualificada do que aqueles que não leem. Essa festa literária também é um convite para se formar leitores, debatedores, que vão pensar a sociedade, os problemas, as soluções.”, defende Duco Pietà.

Duco Pietà, autor piedadense lançando seu segundo livro "Os desesperos da minha paciência". - Rô Galvão
Duco Pietà, autor piedadense lançando seu segundo livro "Os desesperos da minha paciência". (crédito: Rô Galvão)

Autores de fora da cidade

A Feira de Livros da 1ª Festa Literária de Piedade esteve aberta para a inscrição de autores de toda a região. Ainda nos preparativos do evento, já pudemos ver expostas as obras de vários autores sorocabanos, entre eles: Antonio Luiz Pontes, Benedito Cleto, Sérgio Coelho de Oliveira, Geraldo Bonadio, Sônia Cano, Carlos Araújo, Celso Marvadão Ribeiro e Denise Lemos Gomes.

Dois autores de expressão nacional também foram convidados para a 1ª Festa Literária de Piedade: o contista e romancista mineiro Evandro Affonso Ferreira, que se apresentou na noite de sexta-feira, e a escritora Aline Bei, atração de sábado.

Evandro Affonso Ferreira (77) viveu em Araxá (MG) até os 14 anos de idade. Depois, em Brasília durante três anos. Radicou-se em São Paulo a partir dos 18 anos. Foi comerciante, bancário e publicitário antes de se tornar livreiro. Publicou seu primeiro livro aos 51 anos. Aos 65 recebeu seu primeiro prêmio, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, pela publicação de “Minha mãe se matou sem dizer adeus”, considerado o melhor romance de 2010. Aos 68 foi vencedor do Prêmio Jabuti na categoria romance, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, com “O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam”.

A paulistana Aline Bei (34) é bacharel em letras e atuou como colunista e editora. Teve seu primeiro livro “O peso do pássaro morto” publicado em 2017, vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca. Seu segundo livro foi publicado pela Companhia das Letras: “Pequena coreografia do adeus”. Aline Bei iniciou sua trajetória além fronteiras em 2018 como escritora convidada da Primavera Literária da Universidade Sorbonne, França, e da Feira Internacional de Guadalajara, México.

Diretor de Turismo e de Cultura Fernando Maciel, o presidente da Academia Sorocabana de Letras Geraldo Bonadio e o escritor convidado da noite Evandro Affonso Ferreira. - Alexandre Benato
Diretor de Turismo e de Cultura Fernando Maciel, o presidente da Academia Sorocabana de Letras Geraldo Bonadio e o escritor convidado da noite Evandro Affonso Ferreira. (crédito: Alexandre Benato)

Foco no desenvolvimento do turismo

Falando sobre o planejamento da 1ª Festa Literária de Piedade, Fernando Maciel, que acumula as diretorias de turismo e de cultura do município, revela que as poucas iniciativas voltadas para a literatura na região foi um fator determinante para formatar este evento, como oportunidade de incentivo à cultura e como promoção do turismo. “A gente sabe que as cidades que investem em eventos literários acabam, com o decorrer dos anos, estabelecendo a sua marca de referência para o turismo. A primeira edição foi realizada de forma singela, dentro das capacidades atuais, mas com o intuito de se desenvolver para que haja um destaque regional e, quem sabe, futuramente, no cenário estadual e nacional”, revela Maciel.

Segundo ele, a Festa Literária também faz parte de uma política pública de valorização da região central de Piedade e do patrimônio histórico e cultural, muito vinculado ao que se passou no “Club Litterário”, espaço que já foi destinado ao primeiro cinema e ao primeiro teatro da cidade, entre outros fatos marcantes voltados à cultura que tiveram o protagonismo do equipamento. A ideia é somar esses fatos para o desenvolvimento da cidade enquanto Município de Interesse Turístico (MIT).

Para o pesquisador e bacharelando em turismo Gabriel Antonio Cardoso, “A prefeitura conseguiu salvaguardar valiosos registros sobre a história de Piedade e colocá-los em evidência, dando alma ao prédio do ‘Club Litterario’. Hoje temos uma estrutura com significado para a cidade”. Gabriel, que testemunhou a situação de precariedade em que se encontravam as obras literárias relativas à história de Piedade, devido ao inadequado ambiente do acervo, se emociona com a transformação para o bom estado de preservação atual.

Apoio à geração de emprego e renda

A Casa do Artesão foi convidada a expor aos visitantes da festa literária uma mostra de sua produção. Sua presidente, Maria Aparecida Martins da Cruz, a Cida, e a associada Osmilda Maria da Luz, levaram peças confeccionadas a partir de técnicas de pintura, crochê, bordado, amigurumi, argila, bambu entre outros materiais. Uma variedade ainda mais ampla dos artesanatos de seus 34 associados pode ser encontrada em espaço próprio, existente há dez anos, no conjunto edificado onde se localiza o “Clube Litterario”. A locação deste espaço também é um apoio da prefeitura municipal.

Maria Aparecida Martins, presidente da Casa do Artesão, e a associada Osmilda Maria da Luz. - Rô Galvão
Maria Aparecida Martins, presidente da Casa do Artesão, e a associada Osmilda Maria da Luz. (crédito: Rô Galvão)

Solidariedade

O Fundo Social de Solidariedade de Piedade (FUSPIE) arrecadou alimentos não perecíveis durante todos os dias da programação. Eles serão destinados às famílias em vulnerabilidade social de Piedade.

Galeria

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