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O poder mágico das luzes

03 de Janeiro de 2020 às 00:01

O poder mágico das luzes Crédito da foto: Arte Lucas Araújo

Carlos Araújo - [email protected]

As luzes são fenômenos de tirar o fôlego e ganham dimensões extraordinárias nesta época do ano. Multiplicam-se em cores, tamanhos, formas, efeitos. E estão nos interiores das casas, nas fachadas dos prédios e monumentos, nos corações e mentes, em toda parte. Nos shows de música, os celulares formam um mar de luzes.

Na virada do ano, as luzes geram imagens espetaculares. Copacabana e outros pontos turísticos do Brasil e do mundo atraem multidões. Coisa de filme. As imagens aumentam as audiências de todas as mídias. Mais do que iluminar horizontes, inspiram sentimentos de alegria, viram símbolos de felicidade, fé, esperança.

Na praia, as luzes explodem nas formas de fogos de artifício. São grandes espetáculos para multidões na areia, no mar, no alto dos edifícios. Compõem pinturas pós-modernas em movimento, Encantam e fazem vibrar as sensações que refletem o melhor das pessoas.

Exceto o Batman e os vampiros, não há quem não goste das luzes e tudo de bom que elas representam. Luz é vida. Na dúvida, experimentem apagar a luz e vejam que tudo desaparece numa fração de segundo.

As luzes evocam aspectos religiosos, científicos, econômicos, artísticos, culturais, filosóficos. Quando refletidas na água, provocam sensações de arrepiar.

No campo religioso, a abertura de Gênesis, versículo 3, registra: “E disse Deus: ‘Haja luz’. E houve luz.” Na ciência, a figura de Einstein se projeta com os seus cálculos de gênio que tentam decifrar os mistérios do espaço, do tempo, da velocidade, da origem do universo.

Luzes inspiram as artes. Marcam presença nas telas de Salvador Dalí, no cinema, na literatura, na fotografia, na dança, na música. “O século das luzes” (Alejo Carpentier) e “Luz em agosto” (William Faulkner) são exemplos memoráveis de obras de ficção inspiradas em iluminações dos sentidos da existência. No cinema, “Luzes da ribalta” (Charlie Chaplin) é a recordação imediata. Na filosofia, o Iluminismo é outro símbolo emblemático.

As luzes cumprem o papel de fazer uma espécie de oposição às trevas. O marco inicial desses contrastes também é registrado na abertura de Gênesis, no versículo 4: “E Deus viu que era boa a luz: e fez Deus separação entre a luz e as trevas.”

E eis que a humanidade condenou as trevas a serem as referências de associação com o mal. Desde então, as luzes se desdobraram em novos significados, habitualmente vinculados ao bem.

Enquanto a criança morre de medo do quarto escuro e suplica à mãe para deixar a luz acessa, o adulto vive a sua dose de pânico ao entrar numa rua escura e deparar com o risco de ser assaltado a cada passo em direção à casa onde mora.

Quando interceptadas por obstáculos físicos, as luzes também criam zonas de sombras. A luz do Sol não impede a existência do buraco negro. E as trevas têm a singularidade de serem utilizadas como ferramenta adicional de sofrimento para os sistemas de punição. O ambiente das masmorras e das prisões é habitualmente escuro e frio.

Mas o ambiente iluminado não é totalmente seguro, pois pode ser alvo de ameaça. Nas guerras, como no Dia D, os piores ataques acontecem ao amanhecer. Foram em manhãs claras que explodiu a bomba atômica de Hiroshima e que terroristas destruíram as Torres Gêmeas em Nova York.

E não poderia ser de outra forma, pois as luzes são instrumentos do bem ou do mal no que depender da forma como são usadas, nas mãos de quem, para quais objetivos. Nas mãos de um cronista, a iluminação da tela do computador vira palco de ideias e histórias; no universo do “sniper”, um pequeno raio de luz pode ser o suficiente para indicar a posição do alvo a ser abatido.

Inacreditável como os efeitos de luzes são indispensáveis à representação nos palcos dos teatros em todo o mundo. Ao mesmo tempo, incrível como as luzes dão ritmo às criações de músicos e poetas. E é impressionante como essa energia consegue ser tão prioritária para os sistemas de produção e geração de riqueza.

No campo das sensações, as luzes estão mais para a poesia do que para ditar os rumos da história. Embalam as ilusões, como na virada do ano, e essa é a melhor parte. É por isso que as luzes estão tão presentes em todas as comemorações e continuarão a emoldurar os sonhos das pessoas em todos os dias e noites de 2020. Ainda que com atraso de três dias, feliz 2020 para todos.