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Jornada humana através da tela

13 de Setembro de 2019 às 00:01

Jornada humana através da tela Crédito da foto: Arte Lucas Araújo

Carlos Araújo - [email protected]

Nos tempos ancestrais, a tela era a parede da caverna, que deixou registros conhecidos como pinturas rupestres. A tatuagem transformou o corpo humano numa espécie de tela pulsante. A tela se converteu em espaços que eternizaram os gênios de Van Gogh, Dalí, Picasso. A tecnologia evoluiu e surgiram outros tipos de telas. As mais comuns estão incorporadas à televisão, ao celular, ao tablet, aos sistemas de controle e vigilância de governos e grandes corporações.

A tela dominou o mundo e produziu na humanidade um encantamento que provoca dependência e paixão. A tal ponto que, sem licença da metáfora, as criaturas modernas são compostas de cabeça, tronco, membros... e telas.

Imagine o homem ou a mulher no Brasil, na China ou em Varsóvia, que estende o braço para pegar o celular no instante em que acorda. O primeiro contato digno de registro fica sendo com a tela desse aparelho eletrônico que virou paixão universal.

Em seguida você liga a televisão, mas só para dizer que ligou, porque o que absorve mesmo a sua atenção é a tela do celular. Televisão e celular, concorrentes entre si, disputam a sua audiência desde que você desperta até quando vai dormir.

Mas não só isso. Outras telas estão ligadas a cada passo. Na rua, câmeras captam a sua imagem e, mesmo sem perceber, você está sendo monitorado em paredes de salas de controle que vigiam a sua cara, os seus gestos, os seus caminhos.

Cúmulo do absurdo, mas outro alguém pode saber aonde você vai, onde você está e até mesmo o que está fazendo, bastando acionar aplicativos. Não se assuste se conseguirem ler os seus pensamentos por meio de telas.

Foi de arrepiar quando denunciaram que as telas do celular, da televisão, do notebook, estavam sendo usadas como instrumentos de espionagem. Uma ligação atendida vira meio de captação de seus dados mais secretos. Um canal sintonizado de repente pode filmar a sua privacidade. Não se espante: a tela parece amiga e digna de confiança, mas também pode ser inimiga.

A tela tornou possível se conectar imediatamente com o que acontece do outro lado do planeta. Facilitou contatos. Em poucos minutos posso me comunicar com alguém em qualquer lugar do mundo. E de graça. Estão aí o WhatsApp, o Instagram, o Twitter. A tela encanta com poder de sedução. Parece maravilha. As facilidades que ela cria, as revoluções que ela permite, o alcance ilimitado, a capacidade de integrar o planeta numa aldeia como imaginou Macluhan, tudo isso faz com que a tela tenha assumido um domínio quase divino entre os homens.

A tela promete a magia de concretizar sonhos, de construir famas instantâneas, de acabar com reputações, de entrar nos sistemas de controle do Pentágono e do Kremlin e colocar a humanidade em perigo. Ou de salvar a humanidade, dependendo de quem aciona os atalhos.

A tela, pura imagem, celebrizou o verbo “viralizar” como num reconhecimento de que a linguagem pode ser atacada por epidemias. Não tenha dúvida: o Big Brother imaginado por George Orwel no romance “1984”, uma distopia aterrorizante, já é realidade e nos devora.

Faça um balanço do dia e veja quanto tempo você dedica às telas ao alcance dos seus olhos. As telas invadem o seu cotidiano com tanta voracidade que muitas vezes, seduzido pelas luzes que elas emitem, você deixa de pensar, conversar, ler, estudar, andar, beber, curtir o pôr do sol. Você se rende à tela porque ela contém todas as mídias e é farta em animações, jogos, pirotecnias. Mas não tem cheiro, sentimento, alegria real, coisas ancestrais que não nascem das antenas e nunca caem de moda.

Se a tela conquistou um status de maravilha, também é escravizante.

Há ocasiões, como nos megashows, em que uma só tela é insuficiente. Então ela se multiplica e se transforma em telão. E o público curte o telão com o mesmo frenesi de quem está diante do palco. A tela também é ilusão do real.

O medo é que até mesmo o amor seja destruído pela tela.

Não podemos esquecer que a tela, além de ditar comportamentos, representa um poder extraordinário para mudar a história. Pois é com o olhar na tela da urna eletrônica que escolhemos os políticos que decidem as nossas vidas. A tela elege presidentes.

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