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Vírus antecipa o futuro

30 de Abril de 2020 às 00:01

A pandemia do novo coronavírus, que neste momento atinge praticamente todos os países em diferentes níveis de contaminação, vai promover grandes mudanças. Há quem diga que o vírus chegou para antecipar o futuro.

O gigantesco número de casos e mortos e os efeitos do isolamento social forçado, em maior ou menor grau, têm potencial para mudar o comportamento da humanidade. Vai mudar principalmente hábitos de consumo, garantem especialistas.

A situação cria tantas dúvidas que a Fiat Chrysler Automóveis (FCA), gigantesco grupo econômico mundial com forte presença no mercado brasileiro, está recorrendo a um grupo de antropólogos para tentar decifrar como será o consumidor brasileiro do pós-epidemia.

Para tomar essa decisão, deixando de lado equipes competentes de engenharia, comunicação e marketing do grupo, a empresa leva em conta que, após a pandemia do novo coronavírus, haverá um “novo normal”, com mudanças nos comportamentos das pessoas e da própria sociedade.

A FCA quer estar preparada para atender os novos desejos do consumidor quando tudo isso acabar e uma possível nova demanda por automóveis que pode manter interesse por modelos atuais, mas com necessidades diferentes.

Antonio Filosa, presidente da FCA para a América Latina, tem certeza que encontraremos um novo consumidor após esse processo e haverá ainda um grande contingente de consumidores seriamente afetados pela crise econômica que gostariam de adquirir um carro e terão que adiar a compra.

Mas há um novo comportamento a ser analisado: enquanto não houver uma vacina e ela não for distribuída em massa, parte dos consumidores vai tentar evitar andar de transporte coletivo. Muitos optarão pelo uso de transporte por aplicativos e quem tiver condições financeiras poderá optar por adquirir um novo veículo.

Segundo o executivo, com dados que já dispõe, é previsível que o consumidor vai querer ficar dentro de uma cápsula, o que exigirá mudanças no interior do carro, incluindo mais equipamentos digitais. Há ainda uma forte tendência de que o consumidor vai preferir carros mais baratos, os chamados modelos de entrada, um segmento que nos últimos anos vem perdendo participação nas vendas.

Mas o pós-pandemia não afetará apenas a indústria automobilística que está praticamente parada em todo o mundo. As transformações serão mais profundas. Mudanças que levariam décadas para se consolidar acontecerão em poucos meses, garantem os especialistas.

Algumas delas, que já estavam em curso, estão se consolidando muito rapidamente. É o caso do trabalho remoto, antes utilizado por uma minoria e em apenas alguns setores da economia. Com a quarentena forçada e a necessidade de manter as coisas funcionando, muitos setores adotaram a alternativa, inclusive parte do serviço público.

Uma mudança que permanecerá, mesmo quando o isolamento social não for mais necessário. As pessoas e as empresas perceberam a praticidade do home office que evita deslocamentos desnecessários, cria horários alternativos e tem-se mostrado bastante eficiente.

A educação a distância, vista anteriormente com certa reserva por uma parte da população, está se revelando uma alternativa confiável. Usada anteriormente mais para cursos superiores ou cursos livres, a EaD passou a fazer parte do cotidiano de crianças do ensino fundamental e médio.

O consumismo desenfreado que vínhamos assistindo em alguns países deverá dar lugar à busca por sustentabilidade, garantem os estudiosos em comportamento. Consumir por consumir certamente vai sair de moda. As transformações passam pela economia, modelos de negócios, espaços públicos entre outros.

E o motor dessas mudanças é o fato de que além do período em que boa parte da humanidade esteve confinada, os efeitos da pandemia deverão durar pelo menos mais dois anos. A Organização Mundial de Saúde acredita que uma vacina só vai surgir dentro de 18 meses, o que significa que em muitos países haverá períodos alternados de abertura e isolamento.

A partir do fim do isolamento tudo indica que aumentarão a preocupação com cuidados com a saúde e o bem-estar das pessoas.

A ocupação dos espaços públicos e o receio com aglomerações também deverá persistir por um bom tempo, o que deverá levar o segmento de restaurantes, bares e academias a reestudar seus espaços de modo a evitar a aglomeração de pessoas.

Apresentações artísticas on-line, como as que já estamos assistindo durante o isolamento é outra tendência que veio para ficar, assim como as vendas pela internet, o que levará muitos comerciantes a reavaliar seus espaços físicos.

Uma coisa é certa, as privações, as incertezas e a dor que a pandemia trouxe levará ao fortalecimento de alguns valores como a solidariedade e ao questionamento de uma sociedade que antes se baseava apenas no consumismo.

A humanidade, se souber aproveitar os ensinamentos que o vírus trouxe, poderá sair melhor e mais responsável desse período doloroso.