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Vacinação precária

19 de Julho de 2018 às 10:52

As autoridades da área da saúde registram preocupante queda nas coberturas vacinais no Brasil. De 2016 para cá, várias doenças consideradas erradicadas do território nacional voltaram a trazer preocupação. Em 2016, por exemplo, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) certificado de eliminação de circulação do vírus do sarampo. Mas este ano, Estados como Roraima, Amazonas, Rio Grande do Sul, Rondônia e Rio de Janeiro já confirmaram casos da doença.

O que preocupa as autoridades sanitárias é que a aplicação de todas as vacinas do calendário adulto está abaixo da meta no País, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), incluindo a dose que protege contra o sarampo. A situação não é muito diferente na cobertura vacinal infantil. No ano passado, somente a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingiu a meta de 90% de imunização. Outra informação que deixou profissionais da saúde com cabelos em pé e que já foi comentado neste espaço é que em 312 municípios brasileiros, menos de 50% das crianças foram vacinadas contra a poliomielite, uma doença erradicada no Brasil desde 1990, mas que ainda é endêmica em alguns países da África e da Ásia. Uma fraca cobertura vacinal pode abrir as portas para que a doença volte a circular no Brasil.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), que defende uma taxa de imunização de 95%, emitiu um alerta sobre a situação atual e o próprio Ministério da Saúde, por meio de comunicado, informou que as baixas coberturas vacinais deixam o país em situação vulnerável.

A preocupação do momento é o surgimento de casos de sarampo, uma doença infecciosa aguda, grave, de natureza viral e altamente transmissível, principalmente entre crianças desnutridas e que ainda não completaram 1 ano de idade. Há uma provável relação entre os casos de sarampo registrados no Brasil com o movimento migratório de cidadãos venezuelanos que fogem de uma economia caótica ou perseguição política em busca de melhores condições de vida. Segundo a Opas, aquele país registrou 84% dos casos de sarampo de 11 países da região que reportaram a doença. Também ocorreram naquele país 35 mortes desde meados de 2017. Dos 1.685 casos confirmados da doença nas Américas, 1.427 estão na Venezuela, resultado da desnutrição de boa parte da população. Neste ano, os casos de sarampo estão dobrando e o surto já foi confirmado em 17 dos 23 estados daquele país. O Brasil enfrenta hoje pelo menos dois surtos de sarampo na atualidade, em Roraima e no Amazonas. Até o final de junho foram 265 casos confirmados de sarampo no Amazonas, com 1.693 casos sob investigação. O Estado de Roraima confirmou 200 casos da doença e ainda tem 179 em investigação. Casos isolados, todos importados, foram localizados em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Rondônia. Outros Estados têm casos suspeitos, mas ainda não confirmados.

Diante desse quadro de recuo nas campanhas de vacinação, a Organização Pan-Americana de Saúde detectou um problema de notícias falsas sobre vacinação que circulam sobretudo nas redes sociais e aplicativos de mensagem, muitas vezes desencorajando a população a tomar vacinas. Especialistas da entidade que prestam assistência ao Ministério da Saúde perceberam que a influência de movimentos antivacina é pequeno no País, mas as fake news são motivo de preocupação. Com isso, a Opas estimula uma ampla divulgação de informações sobre as doenças, com base em evidências, para estimular a vacinação. Além de sarampo e poliomielite, uma série de outras doenças voltaram a ameaçar o Brasil por conta da imunização deficiente, como é o caso da rubéola, doença aguda de alta contagiosidade e a difteria, causada por bacilo que frequentemente se aloja nas amígdalas, faringe ou laringe e outras mucosas da pele.

É imperdoável que o desleixo ou a falsa sensação de que essas doenças estão erradicadas levem as pessoas a não tomarem vacinas. Várias delas rondam o País e podem retornar a qualquer momento.