Uma posse nada protocolar
A cerimônia de posse do presidente foi protocolar. Visita ao Congresso, o desfile na Esplanada, o discurso para os políticos que se acotovelavam para ouvi-lo, o recebimento das autoridades brasileiras e internacionais, tudo dentro do protocolo. Seu discurso foi tranquilizador para a economia, que mereceu um maior destaque em grande parte do pronunciamento. Agiu com simplicidade destoando do que se viu nos últimos anos. Postura que agrada e sugere que o presidente busca apoio da população e do Congresso, como se manifestou no plenário que conhece bem por ter sido deputado por duas décadas. Lembrou valores que defendeu durante sua campanha, mais segurança, crescimento econômico e combate às ideologias.
O que fugiu protocolo foi a participação da primeira-dama. Em geral as primeiras-damas ficam relegadas à posição secundária, andando um passo atrás do presidente ou da autoridade, quase sempre de forma decorativa a exceção de algumas mulheres que foram expoentes da história brasileira, em alguns períodos históricos: quem se lembra de Maria Tereza de João Goulart? Ou, mais recentemente, de Ruth Cardoso, esposa de Fernando Henrique e nos Estados Unidos, Michelle Obama e Hillary Clinton?
Na posse do presidente Bolsonaro, desde o primeiro momento em que aparece a primeira-dama ao seu lado, em desfile em carro aberto, o famoso Rolls-Royce, o que se observa é uma mulher preocupada com o equilíbrio do marido. Não do Presidente, do marido. Seu braço direito amparando as costas dele, quando ela mesmo estava frágil naquela posição e poderia desequilibrar-se, o tempo todo olhando para o marido com um sorriso, com uma atenção diferenciada. De novo, não para o presidente, mas para o marido; e prosseguiu assim por toda a cerimônia. Interessante observar que o Rolls-Royce vem de um país onde mulheres se destacaram no mundo, têm sido protagonistas por muitos governos como Margareth Thatcher e Theresa May. E por muitas e muitas décadas, a rainha Elizabeth II.
Talvez o ponto alto da cerimônia tenha sido a quebra de um protocolo, quando a primeira-dama falou através da linguagem libras, da qual ela é especialista, do parlatório no Planalto do Palácio, para a população. E ainda que com o gesto das mãos, mais a expressão do rosto, transmitiu simpatia e uma alegria muito grande. O presidente visto com um militar, um capitão, uma pessoa com apreciação maior pelas armas, percebido por muitos por linguagem grosseira e atuações que lhe valeram problemas com deputadas no Congresso -- era essa a ideia que passava -- de repente se viu coadjuvante da primeira-dama. O protagonismo das mulheres que vem crescendo cada vez mais no mundo e que, para nossa surpresa, contrariando os protocolos e contrariando a ideia do “Bolsonaro Militar”, dos militares, do discurso, da postura machista etc. falou na frente do presidente de uma forma simpática e portou-se o tempo todo de uma forma discreta, e ao mesmo tempo agradável, com empatia, cuidando do seu marido, que por acaso, é o Presidente da República, sem perder a leveza e a alegria do momento.
Não passou despercebido a muita gente que no Rolls-Royce presidencial, um dos filhos de Bolsonaro foi sentado no banco de trás, parecendo um segurança. Seria isso mesmo? Ou pode-se imaginar o núcleo familiar, filhos, esposas, maridos, gente como a gente, como uma pessoa apenas, que assumiu o poder.
Jair Bolsonaro, com mais de 20 anos de Congresso (e não se pode considerá-lo um homem comum), teve ontem um comportamento de um cidadão indo a uma festa com sua família. Tomara que essa festa tenha tido como convidados o Brasil todo.
Uma das poucas notas que destoou em toda cerimônia de posse foi a forma como alguns jornais, correspondentes internacionais e a maior rede de comunicação foram tratados pela segurança. Precisa ser explicado e revisto.
Em meio a tanta pompa, circunstância, expectativas, o que se via era um casal recebendo o País em uma casa que é nossa.
Ganhou o Brasil, ganhamos nós. Ganha a família brasileira.