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Um político arrojado

26 de Janeiro de 2020 às 00:01

Sorocaba perdeu na última sexta-feira, vítima de um acidente automobilístico na rodovia Raposo Tavares, o ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado federal José Theodoro Mendes. Foi um dos sorocabanos de maior projeção nacional por sua atuação como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, de 1983 a 1985, período de transição entre o regime militar e o regime democrático, e por sua participação na elaboração da Constituição no mandato posterior, de 1986 a 1990. Como prefeito de Sorocaba, de 1977 a 1982, realizou obras que mudaram a cidade.

Theodoro Mendes nasceu em uma família tradicional, filho de mãe professora e pai empresário, sócio de uma empresa familiar que se dedicava ao curtume de couros. Trabalhou na empresa da família, foi bancário, radialista, estudou Direito e Letras Neolatinas, foi professor de escolas secundárias e faculdades e promotor de Justiça até ser convidado para participar da vida política da cidade.

Amigos do ex-prefeito contam que ele começou a se interessar pela política ao perceber que tinha facilidade no relacionamento com as pessoas na função de caixa de uma agência bancária da avenida Coronel Nogueira Padilha. Com memória privilegiada, sabia os nomes de praticamente todos os correntistas a quem dava um atendimento diferenciado, para surpresa da clientela simples do bairro.

O ex-prefeito gostava de contar que foi convidado a entrar para o MDB, partido de oposição ao regime militar, pelo ex-deputado Ranieri Mazzilli, que teve passagens por Sorocaba como coletor de impostos, professor da Escola de Comércio e onde manteve relações de amizade. Mazzilli chegou a assumir a Presidência República na condição de presidente da Câmara em situações dramáticas: na renúncia de Jânio Quadros, quando o vice João Goulart estava na China e quando Goulart foi deposto, em 31 de março de 1964.

Theodoro foi eleito vereador em 1972 pelo MDB, e em 1974, antes de terminar esse mandato, surpreendentemente foi eleito deputado federal pelo mesmo partido, eleição que marcou o crescimento vertiginoso da oposição em todo o País. Com bom capital político, abriu mão do final do mandato para disputar a Prefeitura de Sorocaba, em 1976, quando foi eleito com 46.116 votos.

E é pela modernização da administração municipal e pelas obras arrojadas que certamente será lembrado pelos sorocabanos. Ele assumiu a Prefeitura em um momento de franco crescimento da cidade que havia criado uma nova zona industrial com empresas de peso na economia nacional.

Ao ser eleito, a Prefeitura de Sorocaba funcionava no antigo prédio do Teatro São Rafael, na rua Brigadeiro Tobias, onde hoje funciona a Fundec, que era acanhado para acomodar as secretarias que funcionavam espalhadas pela cidade em imóveis alugados. Theodoro montou uma equipe jovem, com nomes praticamente desconhecidos nos meios políticos.

Mesmo com forte oposição, decidiu construir um novo centro administrativo para a cidade, incluindo um novo prédio para a Prefeitura, o Palácio dos Tropeiros, que pudesse abrigar todas as secretarias. Também construiu o Teatro Municipal e reservou área para a construção da Câmara de Vereadores, construída anos mais tarde, e outros prédios administrativos. Hoje o novo centro administrativo é uma realidade. A região abriga hoje o Tribunal de Contas, o Fórum Cível e Criminal, Fórum Trabalhista e Biblioteca Municipal.

Foi no governo de Theodoro Mendes que foi concluído o estádio Walter Ribeiro (CIC), uma obra que se arrastava havia muito tempo. Ele conseguiu financiamento federal para a pavimentação de toda a zona industrial. Também foi responsável pela abertura da avenida Juscelino Kubitschek, antes um fundo de vale insalubre.

Por um golpe de sorte, praticamente toda a primeira avenida perimetral da cidade foi concluída em seu governo, o que mudou totalmente a circulação de veículos na cidade. Armando Pannunzio, o prefeito que o antecedeu, iniciou um grande número de obras viárias, entre elas a duplicação da avenida Dr. Afonso Vergueiro, asfaltamento da avenida Dr. Eugênio Salerno e trechos da avenida Dom Aguirre. Ocorre que a empresa que foi contratava teve problemas financeiros e na reta final das obras a cidade teve um período anormal de chuvas intensas.

Resultado: as obras não ficaram prontas, a cidade se transformou em um canteiro de obras inacabadas, o que certamente contribuiu para a eleição de um partido de oposição. Eleito, Theodoro concluiu todas essas obras. Embora seja natural que a administração de Theodoro Mendes seja lembrada por obras de porte, o trabalho nas áreas da educação e saúde foi importante e inovador.

Quando assumiu, a Prefeitura tinha cinco pré-escolas e ao sair deixou 11 unidades funcionando dentro do conceito inovador das PEMSO. Também foi nessa época que começou a expansão da rede de unidades básicas de saúde nos bairros. Os sorocabanos têm uma dívida com Theodoro Mendes. Parlamentar brilhante e prefeito ousado, teve papel importantíssimo no desenvolvimento e modernização da cidade.