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Um dia decisivo

29 de Novembro de 2020 às 00:01

Hoje é mais um dia destinado a entrar para a história de Sorocaba e de todos os sorocabanos. Neste domingo, 29 de novembro de 2020, das 7h às 17h, pela segunda vez em exatas duas semanas, os 485.962 eleitores aptos a votar têm a chance de decidir o futuro de toda a comunidade -- de si próprios e dos demais 200 mil conterrâneos que não têm idade para votar. O segundo turno da eleição municipal é o ponto final de mais um ciclo vital do processo democrático. Na prática, traduz a opção da maioria da população pelo caminho que a administração municipal deve percorrer no quadriênio seguinte.

No entanto, o julgamento que as gerações vindouras farão das deliberações sacramentadas ao final do pleito dependerá do grau de responsabilidade que cada um dos eleitores demonstrar no dia de hoje. O veredicto do amanhã, ao contrário do que algumas pessoas possam conjecturar, independe dos algarismos digitados nas urnas eletrônicas -- ou da contagem final superior para este ou para aquele postulante ao cargo de chefe do Poder Executivo. A sentença será correspondente à intensidade do comprometimento da sociedade contemporânea com aqueles que habitarão Sorocaba a seguir. Em outras palavras, o maior desafio é, justamente, convencer as pessoas a usufruírem do seu direito de escolher.

Lamentavelmente, o histórico eleitoral sorocabano demonstra uma clara tendência de crescimento do alheamento popular com relação às questões relacionadas à coletividade. A proporção da somatória dos chamados “votos inúteis” -- sufrágios nulos e brancos -- com as abstenções deixam claro que nós, os cidadãos votantes, estamos sucumbindo à negligência cívica. Sob as mais inverossímeis justificativas, milhares de sorocabanos simplesmente abrem mão do seu maior e mais legítimo poder.

É cada vez mais comum ouvir alegações do tipo “nenhum deles merece o meu voto” ou “tanto faz um como o outro, nada vai mudar” ou, ainda, “ninguém está preocupado com os nossos problemas”. Avaliações superficiais de eventos recentes registrados na política local -- interrupções recorrentes de mandatos por conta de denúncias de improbidade administrativa, quebra de decoro e prevaricação, entre outros crimes contra o povo --, podem comprometer a conveniente interpretação das prerrogativas constitucionais. Ou seja, votar e ser votado são a essência do Estado Democrático de Direito, precisamente a diferença fundamental entre uma sociedade livre e os regimes totalitários -- aqueles dos quais todos os cidadãos conscientes querem fugir.

As cifras referentes aos “votos inúteis” são alarmantes. Retrocedendo em apenas três edições das eleições municipais, uma regra de três simples escancara o tamanho do prejuízo que a falta de cidadania causou à democracia em apenas oito anos: 77,24%. Por incrível que pareça, o trio de inimigos da soberania popular pulou de 24,87% do eleitorado no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de Sorocaba em 2012 para 44,08% no dia 15 de novembro de 2020. Oito anos atrás, a primeira votação registrou 15,72% de abstenções (67.209 eleitores), 3,57% (12.879) de votos em branco e 5,58% (20.210) dos eleitores votando em branco. Resumindo: dos 427.542 “juízes” sorocabanos, 100.329 preferiram deixar que outras pessoas decidissem por eles.

Porém o comportamento que já se mostrava equivocado, piorou ainda mais em 2020. No primeiro turno do pleito para o cargo de prefeito, 162.277 eleitores do município desperdiçaram a oportunidade que só a democracia oferece. Desse total, 129.485 (26,65%) cidadãos sorocabanos no pleno gozo dos seus direitos políticos optaram por ficar em casa, duas semanas atrás, ao invés de investir alguns minutos no futuro dos seus descendentes. Muitas dessas pessoas fundamentaram a ausência na necessidade de proteção contra o vírus da Covid-19. Tendo em vista que a pandemia não deu, ainda, claros sinais de abrandamento -- apesar dos protocolos de segurança adotados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -- o argumento não pode ser desprezado. Todavia, isso não torna menos inquietante a conduta de 62.105 pessoas que foram até os postos de votação, cumpriram todos os procedimentos e, na hora “h”, esqueceram o seu verdadeiro papel, desperdiçando o voto. No total, 21.847 (6,14%) votaram em branco; outros 40.258 (11,29%) anularam seus votos.

No Brasil, o voto é facultativo apenas para analfabetos, jovens entre 16 e 18 anos e maiores de 70 anos. Apesar disso, o contexto a ser levado em consideração é o do direito, não o do encargo. Assim, vale repetir neste domingo a proposta de duas semanas atrás: consulte os protocolos de segurança, e, se não houver problemas, vá ao seu posto de votação levando caneta, máscara, documento com foto, título de eleitor e, principalmente, sua consciência.