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Um abusivo aumento nada filosófico

18 de Outubro de 2018 às 09:39

O injustificável aumento da energia elétrica, anunciado ontem pela CPFL Piratininga, ao redor de 20% para o setor industrial e quase 19% para o setor residencial, ou seja, para o cidadão comum está muito próximo daquilo que se pode chamar de abusivo. Próximo não, é simplesmente abusivo.

Faltando dois meses e meio para o encerramento do ano, com uma inflação prevista de tão somente 4,5%, e um pífio crescimento do Produto Interno Bruto de irrisórios 1,30% -- há quem diga que se deve apostar em 1% -- o impacto de um serviço tão vital como a energia elétrica é brutal. E escabroso. Nada justifica. Nada.

Em primeiro lugar porque esse gigantesco aumento que vai cair sobre toda a população e, sim, aumentar a inflação e diminuir atividades produtivas -- será a nova desculpa como “a greve dos caminhoneiros” -- não chegou por acaso, não foi concedido pela Aneel sem um pedido da CPFL, hoje uma gigante chinesa sob um nome inglês, State Grid. Com justificativas plenamente contestáveis: secas dos mananciais e alta do dólar, e outros, como subsídios para irrigação e afins.

Pelas secas dos mananciais, pela diminuição do volume d’água que teria obrigado as geradoras a cobrar mais pela energia que passaram a comprar de usinas termoelétricas (diesel) foram criadas as fatídicas bandeiras vermelhas que vêm na conta de luz. Patamar 1: condições mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 3 a cada 100 kWh. Bandeira vermelha -- Patamar 2: condições ainda mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 5 a cada 100 kWh. Há quanto tempo se paga por esse acréscimo, mensalmente? Dois anos ou mais? Bandeira que mudou pouco de cor na época das chuvas. E que foi criada exatamente para essa finalidade, de compensar a energia mais cara gerada pelas termoelétrica. Nunca é suficiente.

Outra fraca argumentação para esse terrível aumento: a alta do dólar. Energia comprada em Itaipu seria em dólar e o dólar subiu, como se toda Itaipu fosse paraguaia. O dólar subiu bastante, chegou à marca dos R$ 4,15 quando, possivelmente, esse cálculo foi feito. E agora está R$ 3,68 o menor patamar desde março, ou seja, há mais de seis meses. E pode continuar a cair pelo resultado aparente das eleições presidenciais. Somente esta queda supera os 11,5%, um dos componentes de planilha de custos.

Nada disso, no entanto, estaria acontecendo e não estaria a CPFL Piratininga contribuindo com inflação e diminuição da atividade industrial, e onerando ainda mais as famílias das cidades atingidas por absurdo aumento, se não fosse o fim de festa do governo federal, que está proporcionando esse trem da alegria à fornecedora de energia. Como poucos burocratas irão se responsabilizar por esse caríssimo aumento, sobra uma autorização sem face, sem responsabilidade e sabe-se lá, a quais interesses, que certamente não são da população da RMS.

Isso também não estaria ocorrendo se já estivesse ocorrendo no Brasil a portabilidade -- como no setor de telefonia -- dos serviços elétricos, como ocorre já em países europeus. Esse assunto, muito bem escondido, que seria uma forma de acabar com a cartelização do setor elétrico, que rumores dizem que pode ocorrer ao final da década de 2020, quando outras formas de geração de energia já estarão nas veias da economia, poderia ser um forte remédio: concorrência.

Com um serviço de prover energia elétrica ao cidadão e às indústrias ainda com muitas falhas e interrupções em nossa região, com falhas sensíveis na área rural e dificuldades para assumir responsabilidade nos danos elétricos causados ao consumidor, a CPFL Piratininga, com seu aumento desproporcional -- quatro vezes a inflação projetada enquanto a população mal consegue uma atualização salarial -- procura ser filosoficamente interessada no bem-estar das mentes e das cabeças pensantes com seu Café Filosófico. Uma teoria que pouco se observa em seu núcleo de negócios que é entregar energia elétrica para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade.