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Tropeços na flexibilização

13 de Junho de 2020 às 00:01

O município de Sorocaba passa por um período perigoso no enfrentamento da pandemia da Covid-19. De acordo com boletim divulgado pela Secretaria da Saúde nesta sexta-feira (12), a cidade contava com 1.716 casos da doença, sendo que 64 casos novos haviam sido registrados apenas nas 24 horas anteriores.

O número de mortos se mantém em 74. Há ainda um grande número de pessoas com suspeita de contaminação e que não receberam resultado de exames. Até agora, todos esses casos têm sido atendidos pela estrutura de atendimento montada pela Secretaria Municipal da Saúde (SES) com o auxílio do governo estadual.

Na Região Metropolitana de Sorocaba a situação também é preocupante. Levantamento realizado ontem por este jornal apontava que, em um mês, os casos confirmados de Covid-19 aumentaram 321,9%, com base em dados divulgados pelas prefeituras. Entre 13 de maio e 11 de junho os resultados positivos da doença passaram de 870 para 3.671.

Felizmente o número de pacientes curados cresceu ainda mais: 388,5%. Há, evidentemente, alguns problemas pontuais de pessoas que precisam de remoção ou internação rápida e não conseguem, situação compreensível diante do volume crescente de casos e dos cuidados que a doença exige.

Sorocaba nunca se distinguiu entre as cidades que obedeceram corretamente as orientações de isolamento social impostas pelo governo estadual, uma forma mundialmente utilizada para diminuir a velocidade de contágio e, com isso, ter condições de oferecer atendimento hospitalar para quem precisa.

O ideal de isolamento é de 70% e essa marca nunca foi atingida. Por esse motivo, quando teve início a flexibilização das medidas, a cidade ficou em uma fase intermediária, laranja, que permitiu a reabertura de alguns tipos de comércio e alguns setores do setor de serviços, mas com uma série de restrições. Desde o início da flexibilização das atividades econômicas, que começou no dia 1º de junho, Sorocaba registrou uma média de 42,7% no índice de isolamento social, de acordo com dados levantados pelo Sistema de Monitoramento Inteligente (SMI) do governo paulista.

O grande número de pessoas circulando no Centro após a abertura parcial do comércio preocupa as autoridades sanitárias. No primeiro sábado de abertura, o número de pessoas era tão grande que mais parecia véspera de Natal.

Para tentar conter o ímpeto das pessoas que insistem em ir às compras ou mesmo passear em determinadas regiões da cidade é que a Prefeitura criou a “Operação Todos Contra a Covid” em diversos pontos da região central. Durante os trabalhos é distribuído álcool em gel para os comerciantes, são feitas orientações sobre o uso correto das máscaras, são dadas informações sobre o distanciamento social, controle de acesso de clientes aos estabelecimentos e organização de filas.

Difícil dizer a razão de tamanho descaso de parte da população com as medidas de isolamento. É como se a doença -- gravíssima, diga-se de passagem -- e que já tirou a vida de mais de 41 mil brasileiros, não existisse. Passado este período mais crítico da pandemia, teremos aí um tema oportuno para ser estudado por sociólogos e psicólogos: o comportamento irresponsável de parte da população diante de uma catástrofe sanitária, comportamento que não encontra paralelo em outros países, mesmo na América do Sul onde nossos vizinhos Uruguai e Argentina são exemplos de disciplina na quarentena e com isso estão conseguindo êxito na luta contra a doença. Na Europa, Portugal deu exemplo de disciplina e conseguiu passar o período crítico da Covid-19 naquele continente com número baixo de doentes e mortes.

É neste contexto, quando autoridades estaduais analisam a possibilidade de Sorocaba recuar no nível de flexibilização, ou seja, voltar a fechar praticamente todos os estabelecimentos de novo, que um grupo de irresponsáveis realiza um “pancadão”, regado a grandes quantidades de bebidas alcoólicas e música alta reunindo cerca de mil pessoas que se aglomeraram praticamente sem qualquer tipo de proteção durante a madrugada.

Além de possível contaminação, os participantes da festa podem ter levado o vírus para suas famílias. A polícia chegou ao encontro realizado em uma chácara na zona norte após denúncia encaminhada ao Ministério Público do Estado de São Paulo.

Segundo informações da polícia, além do consumo de bebidas e drogas, praticamente ninguém usava máscaras de proteção, cujo uso é obrigatório no município. E esse não foi o único “pancadão” interrompido pela polícia nas últimas semanas. Já foram localizados vários deles, sempre com as mesmas características: alto consumo de bebidas e drogas e aglomerações de centenas de pessoas, um cenário ideal para a explosão de dezenas de novos casos de Covid-19.