Buscar no Cruzeiro

Buscar

Trem e turismo

09 de Agosto de 2020 às 00:01

O Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano -- Itu/Salto (Citrem) aplicou, na última semana, uma providencial injeção de ânimo no projeto de retomada das atividades econômicas da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) no período pós-pandemia do novo coronavírus. A instituição formada pelas prefeituras dos dois municípios assinou contrato com a empresa Serra Verde Express para exploração do mais recente atrativo turístico e prevê o início das atividades ainda em 2020. Além de atrair mais visitantes para a região, o empreendimento deverá gerar empregos e renda.

A iniciativa chega num momento oportuno e o seu ineditismo no âmbito regional -- a despeito de todo o imbróglio envolvendo a execução das obras e do atraso de mais de uma década -- é compatível com o rumo assinalado pelos especialistas do setor sobre o chamado novo normal do turismo. De acordo com pesquisa realizada no mês de junho pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), a retomada das viagens de lazer, quando do abrandamento da crise sanitária mundial provocada pela Covid-19, se dará a partir dos destinos domésticos e, preferencialmente, localizados a distâncias que possam ser percorridas em menos de um dia. Com apoio da Universidade de Brasília (UnB), os dados coletados junto a 1.136 pessoas de todos os Estados, demonstram que cidades do próprio País representam 60% das viagens pretendidas. O Nordeste é o alvo preferido de 21,8% dos entrevistados, porém, o Sudeste aparece quase empatado, figurando como sonho de consumo de 19,8% dos futuros viajantes. Na sequência, os locais prediletos ficam no Sul (9,6%), no Centro-Oeste (5,7%) e no Norte (3,4%).

O mesmo estudo avaliou a tendência entre os empresários de turismo e verificou que a recíproca é verdadeira. Ou seja, os operadores entendem que os protocolos de segurança definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotados quase unanimemente pelos órgãos nacionais e regionais de saúde favorecem os roteiros internos ou, no mínimo, de percursos reduzidos. Segundo a Braztoa, 70% dos agentes pretendem aumentar a oferta de destinos nacionais. Para os 27 municípios da RMS -- especialmente para as quatro estâncias e os oito municípios de interesse turístico (MIT) --, esses dados são particularmente significativos. Seus inúmeros atrativos e a proximidade com três regiões metropolitanas paulistas -- da Capital, de Campinas e da Baixada Santista - os colocam nos roteiros das principais opções de lazer e entretenimento para aproximadamente 20 milhões de pessoas.

No ano passado, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Turismo, a região sorocabana recebeu cerca de 1,4 milhão de visitantes, que proporcionaram faturamento de, pelo menos, R$ 1,5 bilhão. Em 2020, o governo estadual estima que a movimentação de turistas na RMS deve apresentar resultados mais modestos, com retração pouco superior a um terço - algo em torno de 35,4% --, como consequência do isolamento social exigido pelo enfrentamento da epidemia. No entanto, a expectativa é de uma recuperação acelerada a partir da redução das restrições.

Com base na perspectiva da retomada das viagens de lazer sob a nova realidade, exigindo formatação e características diferenciadas, o Trem Republicano deve ser encarado como um exemplo a ser replicado. Não apenas as estâncias turísticas -- Ibiúna, Itu, Salto e São Roque -- e os MITs -- Araçoiaba da Serra, Boituva, Cesário Lange, Piedade, São Miguel Arcanjo, Tapiraí, Tatuí e Votorantim --, mas todos os 27 municípios da RMS precisam repensar as suas estratégias voltadas à exploração dos potenciais turísticos, a fim de se preparar para aproveitar as oportunidades prestes da bater nas suas portas.

Inédita na região de Sorocaba, a proposta do Trem Republicano aproveita o formato de outras linhas férreas turísticas bem sucedidas, como a Tiradentes/São João Del Rei e a Ouro Preto/Mariana -- ambas em Minas Gerais --, a Curitiba/Morretes (no Paraná) - por sinal, igualmente gerenciada pela Serra Verde Express -- e a Rota do Vinho, na serra gaúcha, além das três rotas paulistas -- Campos do Jordão/ Santo Antônio do Pinhal, Campinas/Jaguariúna e São Paulo/Paranapiacaba. O roteiro de 7,3 quilômetros entre Salto e Itu, percorrido em aproximadamente 40 minutos, proporcionará, literalmente, uma viagem no tempo. Puxados por uma autêntica locomotiva Maria Fumaça, três vagões com características diferenciadas levarão os turistas pela história do Berço da República e fazendas seculares, entre outras atrações.

No entanto, ainda que em caminhos distintos -- do ecoturismo ao turismo de aventura --, cada município da RMS pode e deve colher os frutos de sua localização privilegiada, de seus atrativos naturais e de suas atividades diferenciadas para incrementar a retomada da economia e recuperar os quase seis meses perdidos na luta contra os vírus.