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Tragédia que se repete

30 de Outubro de 2018 às 08:06

Um policial militar de 44 anos, que retornava do serviço ontem pela manhã pilotando sua motocicleta, foi atingido no pescoço por uma linha cortante quando passava pela avenida Dom Aguirre, uma das mais movimentadas de Sorocaba. O policial perdeu o controle da moto e caiu na pista. Ele chegou a ser socorrido por uma unidade do Samu e encaminhado ao Hospital Regional, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos. O caso do policial se soma a vários outros registrados nos últimos anos em que pessoas pilotando motos, ou mesmo em automóveis (com o braço para fora, por exemplo), são atingidas por linha cortante, uma verdadeira praga que foi introduzida na até então agradável e inocente brincadeira de soltar pipas. O problema é que essa linha torna-se altamente perigosa, corta como uma navalha, principalmente se atingir motociclistas ou ciclistas em movimento.

O problema é tão sério que a Câmara de Vereadores criou uma lei específica que prevê multa para quem comercializa esse material e para quem usa linhas com cerol. No caso de menores de idade, a responsabilidade pelo pagamento da multa recai sobre seus pais e hoje está em torno de R$ 1.600. Mesmo assim, o uso desse brinquedo criminoso continua nos bairros da cidade. Após a publicação da morte do motociclista no portal do Cruzeiro do Sul, vários leitores alertaram para o perigo que corre quem passa pelo trecho final da avenida Américo Figueiredo nos finais de semana, onde se realiza uma verdadeira batalha campal entre jovens para ver quem derruba a pipa do outro.

Sorocaba é uma cidade que tem uma frota de motos imensa e uma cidade, pela extensão de suas ciclovias, que incentiva o uso de bicicletas, expondo dessa maneira milhares de pessoas, todos os dias, a acidentes semelhantes.

Empinar pipas com cerol envolve na grande maioria dos casos menores de idade. O mesmo ocorre, com a invasão de escolas e creches da rede pública, onde são praticados pequenos furtos e atos de vandalismo. Segundo informação da Secretaria de Segurança e Defesa Civil de Sorocaba, em nove meses deste ano foram registradas 128 ocorrências em Centros de Educação Infantil (CEIs), entre furtos e atos de vandalismo. Na madrugada que antecedeu a votação do segundo turno, desconhecidos invadiram duas escolas estaduais. De uma roubaram equipamentos e cortaram a fiação, de outra danificaram várias urnas eletrônicas que precisaram ser substituídas para a votação.

Sorocaba tem índices de criminalidade dentro de parâmetros aceitáveis, muito abaixo de outras regiões do País. Mas esses pequenos delitos que podem resultar em grandes tragédias, produzem uma justificada sensação de insegurança na população.

Combater esses pequenos delitos com ações conjuntas envolvendo as polícias Civil e Militar, Guarda Civil Municipal, Conselho Tutelar e secretarias municipais certamente minimizaria o problema. É preciso desenvolver atividades educativas para evitar esses delitos, mas também é necessária uma fiscalização mais rigorosa para coibir esses atos antissociais. A conhecida “teoria das janelas quebradas” utilizada com sucesso por várias cidades do mundo e que deu base à política de “tolerância zero” para a polícia de Nova York, mostra que quando os pequenos delitos são atacados, a tendência é a diminuição de crimes mais graves nessas localidades e consequente aumento da sensação de segurança.

Mas é preciso ir além. É preciso que a Polícia Civil tenha uma participação mais efetiva nesses casos por meio de investigações. O cerol ou a linha chilena, por exemplo, são vendidos por pessoas inescrupulosas na cidade, assim como fiação e equipamentos furtados das escolas e creches são absorvidos por uma rede de receptadores que, ao adquirir os produtos furtados, incentivam a prática dos crimes. A Guarda Civil Municipal também precisa criar um plano de trabalho que efetivamente evite os furtos nas escolas. Não é possível que toda semana crianças fiquem sem aulas por conta de furtos e vandalismos. Está mais do que na hora de uma grande ação conjunta, uma forte mobilização para reverter esse quadro, pois pequenos delitos, como empinar pipas com cerol, podem acabar levando outras pessoas à morte.