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Tragédia ambiental

21 de Fevereiro de 2020 às 01:48

Uma série de adiamentos, compromissos não cumpridos, vista grossa da fiscalização e falta de sensibilidade para com os problemas e incômodos causados aos moradores do bairro Iporanga estão transformando o garimpo ilegal de peças de chumbo e cobre na antiga área da fábrica da Saturnia em um grande problema ambiental.

Parece piada, mas há mais de dois anos pessoas revolvem uma área particular maior que seis campos de futebol completamente contaminada por resíduos tóxicos e nada acontece. O garimpo continua lá colocando em risco as pessoas que mexem com a terra sem qualquer equipamento de proteção e inalando fumaça tóxica resultado da queima de carcaças de baterias. A fumaça tóxica contamina todo o bairro.

Além do problema ambiental há também um problema social, pois pessoas desempregadas colocam a saúde em risco para conseguir peças metálicas para vender no ferro-velho. Elas não têm noção dos problemas de saúde que poderão ter no futuro manuseando sem proteção uma área contaminada. Faz lembrar, guardando evidentemente as devidas proporções, o caso do Césio 137 que contaminou inúmeros locais em Goiânia e matou várias pessoas.

Em 1987, um aparelho de radiologia foi encontrado em uma clínica abandonada. Catadores de sucatas desmancharam o aparelho para vender as partes e, por absoluta ignorância, ao manipularem o material radioativo geraram um rastro de contaminação que afetou centenas de pessoas.

No caso de Sorocaba, felizmente não há material radioativo, mas há a possibilidade de contaminação dos sucateiros e dos moradores do bairro, atingidos diariamente pela fumaça tóxica. A produção de baterias exige uma série de produtos altamente tóxicos que não poderiam ter sido abandonados naquele local.

Depois de inúmeras denúncias sobre a situação do garimpo macabro e de uma série de reportagens de vários veículos de comunicação, em setembro do ano passado vários secretários municipais fizeram uma espécie de blitz no local onde encontraram dez pessoas garimpando no terreno. Foi encontrada também uma retroescavadeira que fazia movimentação de terra sem autorização da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

A máquina foi apreendida e as pessoas que procuravam peças de chumbo foram orientadas pela Patrulha Ambiental a saírem do local. Pouco depois, a prefeita Jaqueline Coutinho determinou a criação de um comitê para tratar exclusivamente dessa questão. O comitê foi formado por representantes da Prefeitura, do Saae, Ciesp, Cetesb, Câmara de Vereadores e Ministério Público, mas até agora não ofereceu uma solução para o caso.

O problema da área da fábrica abandonada também motivou a criação de uma Comissão Especial na Câmara que investigou a situação, visitou o local várias vezes, contou com o apoio de uma empresa especializada e, em dezembro do ano passado apresentou um relatório sobre o caso que foi entregue à Câmara.

Esse foi, possivelmente, o trabalho mais produtivo com relação à fábrica abandonada. De acordo com o que foi apurado pelos vereadores, existe uma área de 63 mil metros quadrados contaminada com resíduos sólidos altamente poluentes. Esse material está enterrado a uma profundidade de 1 metro e é o que os garimpeiros buscam. E de acordo com o relatório da comissão de vereadores, essa é a maior tragédia ambiental da história da cidade e uma das maiores do Estado, devido aos prejuízos causados no campo social, ecológico e de saúde pública.

O grupo reuniu durante 16 meses diversos estudos ambientais que mostram severa contaminação do terreno por chumbo e outros metais pesados no solo, na água subterrânea e na vegetação da área da antiga fábrica e em seu entorno. Ao revolver o solo em busca de polos de matérias com metais de algum valor, os garimpeiros só pioram a situação ambiental, pois expõem o material que estava enterrado.

O levantamento mostrou que os prejuízos ambientais são incalculáveis. A antiga fábrica recebia baterias automotivas inservíveis de diversas partes do mundo, triturava essas carcaças e retirava o chumbo para usar em outras baterias. As sobras das antigas baterias, com elementos químicos altamente tóxicos eram enterradas, ocasionando contaminação ambiental.

A área da antiga indústria foi vendida em leilão em dezembro do ano passado e os novos proprietários garantiram que seriam realizadas ações para cessar o garimpo em uma semana e que o local teria segurança 24 horas. Garantiram também que começariam ações para a descontaminação do solo.

Quase um mês depois, nada foi feito. Os garimpeiros continuam lá se contaminando e a população não aguenta mais a fumaça e o cheiro de carcaças de baterias queimadas. A Prefeitura e Cetesb precisam tomar uma atitude urgente. Alguma coisa precisa ser feita.