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Tráfico silencioso

16 de Junho de 2019 às 00:01

Crédito da foto: Pixabay

O tráfico de pessoas, principalmente de mulheres, parece uma realidade distante para a maioria dos brasileiros, coisa de novelas ou romances. Na verdade, esse tipo de crime muitas vezes é praticado ao nosso redor, sem que a maioria das pessoas se dê conta do que está acontecendo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas é a terceira atividade criminosa mais rentável do planeta, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas, atividades com as quais muitas vezes mantém estreito relacionamento.

O mais comum, de acordo com os registros policiais, é o tráfico de mulheres ou meninas para exploração sexual, mas há também outros tipos de tráfico destinados à exploração da força de trabalho, para transporte de drogas, para a retirada de órgãos, tecidos e cabelos e até para o uso da chamada “barriga de aluguel”. Segundo entidades internacionais que se debruçam sobre o tema, a movimentação financeira em torno desse tipo de crime move fortunas. Em 2015, por exemplo, um dos últimos dados disponíveis, movimentou mais de 31 bilhões de dólares e é apontada como a atividade criminosa que mais cresce na atualidade.

Foi para falar sobre esse tema pouco conhecido e aparentemente distante do nosso cotidiano que esteve em Sorocaba na semana passada a diretora-executiva da Associação Mulheres pela Paz, Vera Vieira, que participou de um painel público sobre o tema no auditório da Secretaria de Igualdade e Assistência Social. A especialista, que deu entrevista ao Cruzeiro reproduzida na editoria Mix de ontem, falou sobre os vários tipos de aliciamento, que vão da coação física pura e simples ao uso de promessas falsas de casamento, adoção e, principalmente, trabalho. Vera Vieira lembra que o pesadelo começa quando a realidade se revela distante das promessas que podem ser oportunidade de estudo em uma cidade grande para a menina que mora no interior, que se transforma em servidão doméstica, ou um emprego bem remunerado na Europa, que na realidade está relacionado à prostituição. Depois do aliciamento, as organizações criminosas se utilizam de ameaças, apreensão de documentos, dívidas forçadas e até cárcere privado para manter as vítimas em situação de exploração.

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) divulgou recentemente em Nova York um Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas. Ele mostra um número recorde de casos detectados em 2016 -- o levantamento mais atualizado -- e também a maior taxa já registrada de condenação de traficantes. O relatório foi realizado, segundo os dirigentes da instituição, para que se possa avaliar corretamente quem são as vítimas e quem está cometendo esse tipo de crime. Em 2003, relatório semelhante mostrou que 20 mil casos foram registrados naquele ano, enquanto que o número subiu para mais de 25 mil em 2016. Mas apesar da melhora na coleta de dados, a impunidade ainda prevalece. O relatório da ONU mostra ainda que mulheres e meninas continuam sendo o principal alvo do tráfico e a grande maioria das vítimas é destinada à exploração sexual. Descobriu também que 35% das vítimas de tráfico para trabalho forçado são do sexo feminino. O estudo conseguiu montar um mapa mostrando que a maioria das vítimas, especialmente nas Américas, Europa, Leste da Ásia e Pacífico, é destinada à exploração sexual, enquanto que a maior parte das vítimas da África Subsaariana e no Oriente Médio é destinada ao trabalho forçado. Foram detectados também tráfico para exploração da mendicância ou para a produção de material pornográfico, em diferentes partes do mundo.

Há, portanto, uma grande necessidade de prevenção desse tipo de crime, principalmente por meio do esclarecimento da população. Especialistas dizem que é preciso desconfiar sempre de grandes oportunidades de trabalho, adoção ou mesmo casamento. Promessas atrativas demais podem ser argumentos falsos dos aliciadores e eles agem cada vez mais no Brasil.