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Tradição centenária

26 de Agosto de 2020 às 00:01

Nesta terça-feira (25), foi celebrado o Dia do Feirante, data instituída em alusão ao decreto que autorizou, de maneira oficial, a primeira feira livre da capital paulista, em 25 de agosto de 1914, pelo então prefeito de São Paulo Washington Luís Pereira de Souza, que mais tarde foi governador do Estado e presidente do Brasil.

É evidente que o decreto apenas formalizou uma tradição que os brasileiros trouxeram dos países ibéricos e há muito eram realizadas, principalmente em cidades do interior.

É um costume que remonta à Idade Média em que inicialmente era utilizada para o escambo de mercadorias. Cada produtor levava seus produtos para trocar por aqueles que não produzia.

Ainda hoje a tradição das feiras livres é forte em vários países do mundo. Em Madri, na Espanha, a feira El Rastro atrai milhares de moradores e turistas todos os domingos.

Ela existe há mais de 500 anos. O mesmo acontece com a Tristán Narvaja, de Montevidéu, e a de San Telmo, em Buenos Aires, herdeiras da tradição hispânica das feiras.

Estas últimas parcialmente ocupadas por vendedores de antiguidades, mudando um pouco o perfil da feira tradicional como a conhecemos.

Mas no Brasil mesmo, todas as pequenas cidades do interior, principalmente no Nordeste, têm nas feiras semanais o ponto forte de seu comércio e de encontro de seus cidadãos.

A Feira de Caruaru é um típico exemplo de feira que sobreviveu a todas as mudanças no comércio das últimas décadas.

Sorocaba tem hoje, segundo reportagem publicada na edição desta terça-feira (25) 42 feiras livres, cobrindo praticamente todas as regiões da cidade.

Feiras como a do largo do Líder, no Além Linha, hoje realizada em local próximo a essa praça, e a da rua Santa Maria, no Além Ponte, ultrapassaram os limites de um evento comercial, tornando-se ponto de encontro daquelas comunidades.

Algumas ainda mantém o vigor de antigamente, mas outras definham a olhos vistos, como é a feira realizada às quintas-feiras na Vila Trujillo que chegou a ocupar vários quarteirões da rua Virgílio de Mello Franco e hoje utiliza menos de um quarteirão dessa via.

Há um bom tempo o movimento em algumas feiras vem caindo. E algumas conquistas dos últimos anos foram perdidas, como os banheiros químicos que estão ausentes das feiras há pelo menos um ano.

As feiras estão sem esse equipamento desde o mês de agosto do ano passado quando terminou o contrato firmado entre a Prefeitura de Sorocaba e a empresa responsável pela locação.

Segundo informações oficiais, já foi realizada nova licitação para a contratação de empresa responsável pela instalação dos banheiros, mas não se sabe quando eles voltarão a ser instalados nas ruas.

A chegada da pandemia do novo coronavírus também impactou a vida dos feirantes nos últimos meses.

Segundo a direção da Associação dos Feirantes de Sorocaba houve um aumento no movimento durante os períodos mais duros da quarentena, pois muitas pessoas declaravam que preferiam fazer compras ao ar livre a frequentar os ambientes fechados e com ar-condicionado dos supermercados.

Também nesse período muitos donos de bancas resolveram inovar e para facilitar a vida da clientela, adotaram a modalidade de delivery, a entrega em domicílio dos produtos das bancas.

Essa tradição de compras ao ar livre precisa ser mantida e há várias alternativas e algumas, inclusive, já estão sendo postas em prática.

É o caso da feira realizada no período noturno no interior da unidade de Sorocaba da Ceagesp, que caiu no gosto popular, até porque o local oferece infraestrutura diferenciada, como bares e pastelarias para atender os visitantes, apresentando até música ao vivo para atrair frequentadores.

Outra inovação que poderia ser adotada é a participação de bancas especializadas em produtos orgânicos, um tipo de produto que ganha adeptos a cada dia e não são facilmente encontrados no comércio convencional.

Também cresceu durante a pandemia a realização de feirinhas, muitas vezes realizadas por pequenos produtores rurais, dentro de condomínios, uma maneira de levar os produtos até os consumidores ainda temerosos de sair de casa para fazer compras.

Essas inovações são importantes e revelam como o setor pode se diversificar sem perder a essência dessa tradição centenária incorporada ao cotidiano de milhares de pessoas.