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Tensão na fronteira

01 de Novembro de 2018 às 09:14

É difícil prever como terminará a tentativa da caravana de imigrantes centro-americanos de entrar no território dos Estados Unidos nos próximos dias. De um lado, o governo norte-americano reforça a segurança da fronteira e, de outro, o séquito de migrantes ganha cada vez mais corpo com a adesão de mais pessoas.

A marcha dos desesperados começou em meados de outubro na localidade de San Pedro Sula, em Honduras, e foi formada inicialmente por cerca de mil hondurenhos que fogem do desemprego e da violência. O início da caminhada ganhou projeção com reportagens divulgadas pela imprensa e pelas redes sociais, fazendo com que mais hondurenhos e cidadãos de outros países da América Central aderissem à marcha ao cruzar a Guatemala em direção ao México. Esses cidadãos da América Central fogem de regiões muito pobres onde as oportunidades de emprego são raras e onde há violência extrema, inclusive com recrutamento forçado por gangues. Aquela região, segundo dados da ONU, tem as maiores taxas de homicídio do mundo. Honduras liderou o ranking global, com 55,5 mortes para cada 100 mil habitantes em 2016, quando o Brasil ocupava a sétima posição, com 31,3 para cada 100 mil habitantes. Esses fatores já fizeram com que pelo menos 10% da população de Honduras, Guatemala e El Salvador tenha deixado esses países e boa parte deles vive ilegalmente nos Estados Unidos.

A formação de caravanas é um fenômeno recente. Embora essa corrente migratória em direção aos Estados Unidos exista há muitos anos, a formação de grupos torna os deslocamentos mais seguros, principalmente para os mais vulneráveis como mulheres, crianças e idosos, alvos fáceis de quadrilhas durante o caminho. Migrantes são sequestrados com frequência por traficantes de pessoas e por gangues de tráfico de drogas que os obrigam a trabalhar para eles.

Fato é que o grupo gigantesco, com mais de 5 mil pessoas conseguiu chegar ao território do México e ruma em direção à fronteira norte-americana e não se sabe qual será seu destino. Uma caravana dessas em direção aos Estados Unidos irrita profundamente o presidente Donald Trump que prometeu durante sua campanha eleitoral acabar com a imigração ilegal e tomou, já como presidente, uma série de medidas para impedir a entrada de ilegais. Ele foi eleito com o voto dos cidadãos norte-americanos que se incomodam profundamente com a presença dos imigrantes, pois acreditam que estão tirando seus empregos e oportunidades. O presidente segue fielmente os anseios desse eleitorado extremamente conservador que quer ver florescer novamente a indústria norte-americana e grande número de empregos. É por eles que Trump anunciou a saída de seu país do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. É visando ao eleitor do cinturão da ferrugem, formado por estados que perderam indústrias para países vizinhos, que ele denunciou o Nafta e criou outro acordo comercial com México e Canadá. É olhando para esse eleitor que ele quer tirar a cidadania automática de filho de imigrantes que venham a nascer nos Estados Unidos.

Mas há um fator político que deixa esse episódio ainda mais explosivo. Os Estados Unidos terão, em menos de uma semana, as chamadas eleições de meio de mandato, nas quais o Partido Republicano de Trump corre o risco de perder o controle do Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados. Por esse motivo, o presidente quer manter o tema da imigração em evidência. Com o avanço da caravana, como era esperado, o governo despachou mais de 5 mil soldados para a fronteira, que se juntam a um grande contingente que estava na região desde o mês de abril. Uma verdadeira operação de guerra.

A caravana de migrantes, acusada de querer entrar ilegalmente no país, sem querer, à medida que se aproxima da fronteira, trabalha a favor de Trump e seu partido. E o presidente não perde a oportunidade de alertar a todo momento seu eleitorado para que se lembre dessa “ameaça” na hora do voto.