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Subsídio e desafio

28 de Agosto de 2020 às 00:01

Reportagem publicada durante esta semana neste jornal mostra que o subsídio do transporte coletivo subiu 62,5% nos últimos quatro anos em valores brutos, ou seja, sem o desconto da inflação.

O valor do repasse do poder público para as empresas foi de R$ 41,85 milhões em 2015 e subiu para R$ 68 milhões no ano passado, segundo dados da empresa pública que coordena o transporte coletivo da cidade, a Urbes -- Trânsito e Transportes.

Para este ano, segundo projeção da empresa, o valor do repasse deverá chegar a R$ 80 milhões.

A inflação variou bastante nesses anos, principalmente em 2015 (10,67%) e 2016 (6,29%), resultado da desastrosa administração da ex-presidente Dilma Rousseff, que jogou o País em uma das maiores recessões de sua história.

Mesmo assim, o aumento dos subsídios foi bastante generoso nos últimos anos, e entre os principais motivos para esse crescimento estão o aumento das gratuidades, a elevação dos insumos e, principalmente, queda no número de passageiros pagantes.

O aumento da gratuidade é uma tendência nacional, na medida que a população brasileira está envelhecendo.

Em Sorocaba, o passe idoso pode ser retirado gratuitamente na Urbes por todas as pessoas que já completaram 60 anos de idade.

Esse número vem crescendo consideravelmente nos últimos anos e a tendência é aumentar ainda mais, como já foi comentado neste espaço dias atrás.

A população brasileira está envelhecendo e, dentro de alguns anos, essa faixa etária será maior que a dos jovens em idade produtiva.

Também não pagam passagem crianças com até cinco anos acompanhadas por pessoa responsável e usuários especiais que requerem identificação especial da Urbes.

A gratuidade também contempla agentes de fiscalização do transporte coletivo da Urbes, empregados de empresas de transporte coletivo e usuários definidos por lei.

Os insumos do transporte coletivo como peças de reposição, pneus, lubrificantes, combustíveis, evidentemente não pararam de aumentar no período em que o IPCA teve aumentos consideráveis: 2,95% em 2017; 3,75% em 2018 e 4,31% no ano passado.

Mas o que mais tem pesado ultimamente nas contas do transporte coletivo da cidade é a queda de usuários.

Essa tendência vem se confirmando no Brasil há pelo menos cinco ou seis anos.

Essa queda de usuários, num primeiro momento, é contornada pelas empresas com remanejamento de horários, diminuição de frota circulante, entre outras manobras operacionais.

Mas a queda progressiva de passageiros é uma realidade.

A crise econômica que começou em 2014, derrubando o poder aquisitivo da população e aumentando o desemprego, também influenciou significativamente na diminuição de passageiros.

E este ano tivemos outro complicador, a pandemia da Covid-19 e a política de isolamento social, que derrubou o movimento no transporte público.

Com a diminuição do número de passageiros surge uma dificuldade adicional para prefeituras responsáveis pela gestão do sistema de transportes.

E como a receita das empresas cai, é preciso readequar os repasses de recursos públicos.

Mas Sorocaba vive um momento especial nessa área.

O sistema de transporte convencional em uma região importante da cidade vai funcionar até este sábado.

Domingo, dia 30, começa a funcionar o sistema BRT para atender inicialmente corredores da zona norte.

A empresa responsável e a Prefeitura informam que o serviço será estendido para as outras regiões aos poucos, com a conclusão das obras prevista para o ano que vem. Mas a mudança é irreversível.

O BRT é resultado do investimento de R$ 384 milhões, dos quais R$ 133 milhões são de repasses do Ministério das Cidades, por meio de financiamentos; R$ 6,6 milhões de contrapartida do município e o restante de investimento obtido pelo consórcio que administra a obra e a operação do nosso sistema.

Todo esse investimento, teoricamente, terá que ser amortizado com o pagamento das passagens pelos usuários e aí surgem algumas dúvidas.

Várias pesquisas realizadas e o que se tem visto na prática em países europeus que estão em outras fases da pandemia, é que uma boa parcela dos usuários, principalmente aquela com mais poder aquisitivo, passará a preferir o transporte individual em vez do público, como forma de evitar aglomerações.

Dessa maneira, além da queda constante no número de usuários, os gestores do transporte coletivo terão mais esse problema pela frente.

Oferecer atrativos e convencer o usuário de que será seguro andar de transporte coletivo no pós-pandemia.

Sem vacinas eficientes e remédios específicos para a Covid-19, durante um bom tempo muita gente vai evitar locais fechados e aglomerações por medo da doença.

A Urbes e o BRT Sorocaba terão um grande desafio pela frente.