Solução primitiva
A Urbes - Trânsito e Transportes vai investir durante este ano quase meio milhão de reais para a construção de 70 novas lombadas e dez lombofaixas, aquelas faixas de travessia mais elevadas em que a passagem do pedestre é prioridade. A empresa pública não informa onde esses equipamentos serão instalados, apenas que a implantação ocorrerá ao longo do ano, até o mês de dezembro.
Lombada é um dispositivo que deve ser utilizado em último caso para coibir o excesso de velocidade. Na verdade é quase um monumento à falta de educação no trânsito.
Sorocaba tem centenas de lombadas e seria muito importante que as novas fossem implantadas em locais escolhidos por técnicos, para efetivamente cumprir o seu papel de forçar a diminuição da velocidade dos veículos. Durante muitos anos os critérios para a implantação desse dispositivo foram abaixo-assinados de moradores e requerimentos de vereadores. O resultado é o que vemos hoje nas ruas. Tanto que é possível encontrar lombadas em subidas em vias de mão única, verdadeiras aberrações.
As lombofaixas têm o importante papel de facilitar a travessia de pedestres em locais de grande movimento, geralmente perto de escolas, hospitais e outros pontos que atraem muita gente. As lombadas são dispositivos destinados a reduzir a velocidade dos veículos, mas têm uma série de inconvenientes. Em primeiro lugar causa desconforto aos ocupantes de veículos, principalmente de ônibus, pelos solavancos que provoca.
Se não forem bem sinalizadas podem causar acidentes, sem contar que o impacto de veículos, principalmente os mais pesados, prejudica as construções próximas, muitas vezes causando trincas e rachaduras em imóveis. Radares são muito mais eficazes para forçar os motoristas a trafegar na velocidade permitida, principalmente pelo valor das multas e a possibilidade do condutor perder a carteira de habilitação após atingir pontuação elevada.
O Brasil é um país com trânsito violento e Sorocaba não é uma exceção. Mesmo com um rígido sistema de multas para punir infrações, dados do DPVAT -- o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos -- revelam que 41.151 pessoas morreram vítimas de acidentes em 2017, o último dado disponível. E esse número já foi maior. O custo dessa mortandade toda, além dos dramas de cada família, segundo cálculo do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro, é que causam prejuízos equivalentes a 3% do PIB, ou R$ 200 bilhões, uma vez que 90% das vítimas estavam em idade economicamente ativa. Acidentes com motos são um problema à parte. Embora representem apenas 27% da frota nacional, os acidentes com moto significam 74% do total. Em 2017, mais de 50% deles deixaram sequelas permanentes em um grupo formado majoritariamente por homens de 18 a 34 anos. É um problema de saúde pública, embora acidentes possam ser evitados e prevenidos.
Dessa maneira, parece fundamental que o poder público invista em educação para o trânsito de maneira ampla, de tal sorte que noções de trânsito seguro comecem a ser ensinadas nos primeiros anos da escola, prossigam durante toda a vida escolar da criança e continuam para atingir os motoristas já habilitados. Hoje, o motorista que para diante uma lombotravessia para dar passagem aos pedestres fica preocupado com a reação dos demais condutores. Muitos buzinam, freiam em cima do motorista civilizado ou não param, colocando a vida de pessoas em risco.
Reportagem publicada por este jornal em dezembro do ano passado mostrou que a Urbes arrecadou somente com multas de trânsito nos nove primeiros meses do ano mais que R$ 17 milhões, um aumento de 22% em relação ao período anterior. Legalmente, boa parte do dinheiro arrecadado com multas deve ser aplicado em educação do trânsito e sinalização. Está aí um desafio aos nossos engenheiros e técnicos de trânsito. Criar um amplo programa de educação para o trânsito que permita, daqui alguns anos, noticiarmos o início da retirada de lombadas de nossas ruas.