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Sobre sujeira, baratas e escorpiões. Uma solução ao alcance de todos

22 de Dezembro de 2018 às 00:01

É comum na Primavera e início do Verão o registro de pessoas picadas de escorpiões. Um levantamento da Secretaria da Saúde de Sorocaba, entretanto, deixou as autoridades sanitárias apreensivas. A cidade registrou neste ano, 118 casos de picadas de escorpião, um número muito superior aos 79 casos contabilizados durante todo o ano passado. Felizmente não ocorreram mortes como em Santa Barbara d’Oeste, onde uma criança de 10 anos morreu após ser picada no pé e na mão e não havia soro antiescorpiônico na cidade. Ainda ali naquela região, em Americana, há cerca de um mês foram contados mais de 13 mil escorpiões capturados nos cemitérios da cidade. 400 pessoas foram picadas pelos aracnídeos (8 patas) neste ano de 2018.

A pesquisa serviu também de sinal de alerta e a Prefeitura de Sorocaba anunciou uma série de medidas de combate ao escorpião, como a conscientização da população quanto às formas de prevenção ao aparecimento do aracnídeo e a criação de uma espécie de força-tarefa para descobrir e eliminar criadouros do bicho. Em apenas três dias de ações no combate aos escorpiões, com 339 casas visitadas na região da Vila Helena, foram encontrados 16 escorpiões e pelo menos 35 toneladas de entulho foram retiradas de áreas públicas. O número de escorpiões encontrado, segundo a Divisão de Zoonoses, revela infestação leve, mas que justifica o trabalho. Durante o trabalho os moradores são orientados sobre como evitar que os bichos invadam as casas e ocorra a procriação em quintais e terrenos baldios.

Mas não é somente em Sorocaba que o ataque desses animais tem aumentado. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de casos em todo o Brasil passou de 52.509 em 2010 para 124.903 em 2017, um aumento de 138% nos registros. As mortes em decorrência das picadas aumentaram mais ainda. Foram 74 em 2010 e 184 no ano passado. O aumento de casos é tão forte que o número de mortos por picadas de escorpião já ultrapassou o de picadas de cobras, que tradicionalmente lideram o ranking de animais peçonhentos que mais matam no Brasil. Os Estados de São Paulo e Minas Gerais lideraram o ranking das mortes no ano passado com 26 e 22 casos, respectivamente.

O número de notificações sobre picadas de escorpião aumenta com altas temperaturas como as registradas nos últimos dias e que deverão se repetir nos próximos meses. Eles têm mais atividades, pois cresce o número de presas (baratas, aranhas) à disposição. Durante o dia os escorpiões se escondem em locais onde há entulho, madeira ou tijolos empilhados e à noite saem para caçar.

O fato é que existe uma relação direta entre sujeira que atraem baratas e grilos, que atraem os escorpiões. O descarte incorreto de entulho -- restos de materiais de construção e madeiras -- assim como o descarte de lixo em locais inapropriados são os principais fatores que favorecem a sua proliferação. Locais escuros e úmidos abrigam, com conforto, os escorpiões, como ralos e esgotos domésticos, que por sua vez, são casas de baratas.

A Prefeitura eliminou nos últimos meses os Ecopontos, onde um conjunto de caçambas poderia ser utilizado para o descarte de entulho, justamente pelo uso incorreto da população que jogava materiais fora dos recipientes e também lixo, levando problemas para a vida dos moradores das proximidades. Agora a Prefeitura também localizou aproximadamente 100 áreas públicas consideradas pontos “viciados” para o descarte irregular de lixo. Mesmo a limpeza periódica desses pontos não impede que se transformem naturalmente em criadouros de escorpiões e outros bichos.

Não bastasse o grande número desses aracnídeos na cidade, Sorocaba está também sob alerta para a infestação do mosquito que transmite a dengue, o Aedes aegypti. Levantamento do Ministério da Saúde realizado nos meses de outubro e novembro apontou que 250 cidades do Estado de São Paulo correm risco de surto para a dengue, zika e chikungunya. E Sorocaba está entre elas.

Como a proliferação do mosquito ocorre também em locais onde há acúmulo de lixo e entulho, não há como não atribuir parte da responsabilidade dessa situação àqueles cidadãos que, sem se importar com a coletividade, emporcalham irresponsavelmente a cidade jogando lixo em qualquer lugar. Escorpiões, como foi dito, só aparecem onde há sujeira, atraídos pelas baratas e outros insetos. Na zona rural e em locais onde é permitido, galinhas comuns são usadas como uma excelente arma contra os aracnídeos, que entram na sua cadeia alimentar. Sorocaba tem um sistema razoável de coleta de lixo e milhares de contêineres espalhados pela cidade e mesmo assim muita gente prefere jogar lixo no terreno desocupado ao lado. A Prefeitura precisa desenvolver ações para punir quem suja a cidade, pois as campanhas de conscientização realizadas pelo poder público não têm funcionado como deveriam. Descartar corretamente lixo e entulho, uma obrigação de todos, poderia evitar a proliferação de escorpiões, roedores e até o mosquito que, como a chegada das chuvas, poderá trazer um novo surto de dengue e outras doenças para a cidade.