Buscar no Cruzeiro

Buscar

Saúde em crise

26 de Julho de 2018 às 14:31

Em resposta a um requerimento encaminhado por um vereador que pretende mapear as áreas onde mais faltam profissionais na área da saúde, a Prefeitura de Sorocaba elaborou um verdadeiro dossiê sobre a falta de profissionais nas diversas unidades do município. Foi por meio dessa resposta que ficamos sabendo que há um déficit gigantesco no número de profissionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a porta de entrada dos pacientes para o sistema de saúde municipal. Hoje trabalham 220 médicos nas 32 UBSs da cidade, quando o número ideal seria de 500 profissionais de diferentes especialidades. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES) do município, a situação é precária também nas Unidades Pré-Hospitalares (UPHs), o segundo degrau no atendimento à saúde no município. O ideal para essas unidades seriam 139 clínicos e 56 pediatras, mas hoje estão contratados somente 99 clínicos e 31 pediatras.

O levantamento encaminhado pela SES, conforme mostrou reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul, mostra que de 74 categorias profissionais que atuam na área da saúde, somente 17 têm número ideal de profissionais. O déficit total de pessoal chega a 645 pessoas, entre médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos e pessoal administrativo. O maior déficit está entre os auxiliares de enfermagem, categoria que perdeu 114 profissionais entre 2013 e 2018 por exonerações, mudanças de secretaria ou aposentadorias e não foram repostos. Em seguida vêm os enfermeiros, que registram uma carência de 95 profissionais. Entre os médicos, o maior déficit está entre os clínicos gerais. Faltam 114 desses profissionais para um atendimento satisfatório, pois, desde 2013, 122 profissionais deixaram a área e somente oito foram contratados. O número de obstetras, ginecologistas e pediatras também está abaixo do necessário.

A carência de profissionais na área da saúde não para por aí. Na Policlínica há carência de profissionais que realizam ultrassonografia e neurologistas. Na cardiologia adulta também não há número de profissionais suficiente, como ocorre em outras especialidades.

Com um quadro desses, é evidente que o atendimento nas unidades básicas continuará demorado e filas continuarão se formando. O atendimento nas UPHs continuará abaixo do ideal e as filas de espera para consultas com especialistas seguirão crescendo. É evidente que em algum período houve falha de planejamento na área da saúde. Se existe mobilidade de profissionais em razão de exonerações, transferências e aposentadorias, a reposição deveria estar prevista.

Na área da saúde, assim como em todos os setores da administração pública, deveria haver continuidade de projetos. Muitas vezes um prefeito inicia um projeto que não é muito bem visto pelo seu sucessor que o acaba interrompendo. Exemplo clássico aconteceu em Votorantim. A prefeitura local solicitou e o governo federal atendeu construindo dois prédios para Unidades de Pronto-Atendimento. As unidades foram concluídas em 2014, mas nunca entraram em funcionamento porque o município não tem condições de mantê-las. Com isso o governo federal desabilitou as unidades e a prefeitura terá que devolver os recursos gastos com as obras. Em resumo, perdeu o governo federal que investiu na construção dos UPAs, perdeu o município que não conseguiu colocar o serviço em funcionamento e, principalmente, perdeu a população que continua carente de atendimento de emergência.

A Prefeitura de Sorocaba informa que para não ultrapassar o limite de gastos com pessoal determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal está impedida de realizar concursos para contratar profissionais da saúde, uma situação que precisa ser analisada com mais profundidade. Propõe a implantação de serviços terceirizados para suprir as carências. Essa posição é combatida por parte do funcionalismo e sindicatos de médicos e de servidores, que pedem exatamente o oposto, a realização de novos concursos e novas contratações, parecendo preocupar-se somente com interesses corporativos, esquecendo-se que o objetivo final é o bom atendimento da população tão necessitada, exatamente quem está no meio desse fogo cruzado. Ou seja, a população fica cada vez mais carente de serviços de saúde de qualidade.