Ruínas históricas
Quem passa pelo final da rua Paes Linhares, na Vila Fiori, muito próximo ao rio Sorocaba, tem a oportunidade de ver no meio de um terreno amplo um prédio histórico prestes a desaparecer. Aquela edificação de tijolos aparentes, que está no mais completo estado de abandono, já foi o Matadouro Municipal e é um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico do município em 1996.
O edifício de valor histórico não é o único em condições precárias de conservação em Sorocaba. Na realidade, são muitas construções que testemunham a rica história do município, mas, possivelmente, é o que está mais perto de desaparecer, se medidas urgentes para a sua recuperação não forem tomadas.
O Matadouro Municipal foi construído em 1928, na margem esquerda do rio Sorocaba, para centralizar todo o abate de bovinos e suínos para serem consumidos na cidade, atendendo aos padrões de higiene e à legislação do início do século passado.
O local funcionou ininterruptamente até 1975, quando deixou de atender aos padrões de higiene e instalações necessárias exigidas pelo Ministério da Agricultura.
O Matadouro foi construído em estilo arquitetônico inglês, com os tradicionais tijolos aparentes, ocupando originalmente uma área de 25 mil m2. Enquanto esteve funcionando, o Matadouro Municipal evoluiu pouco tecnicamente e periodicamente era alvo de críticas por parte da população e imprensa em razão da falta de higiene.
Em junho de 1959, essa situação foi alvo de ampla reportagem do Cruzeiro do Sul que denunciava a falta de água encanada no local (o abastecimento era feito por caminhões-pipa) e a falta de supervisão por um veterinário.
O prédio tem 370 m2 de área construída e hoje está totalmente tomado pelo mato no centro de um terreno que tem 4 mil m2. Tinha inicialmente capacidade para abater 150 animais por dia. Depois de desativado, a prefeitura tentou dar diversas destinações ao imóvel, mas o mesmo continuou sem uso, eventualmente servindo de depósito para setores da administração pública.
Devido a seu valor histórico, foi tombado em 1996, quando o então prefeito Paulo Mendes pediu estudos para transformá-lo em um espaço cultural para o município, mas o projeto foi abandonado pelos prefeitos que o sucederam.
Recentemente, o prefeito cassado José Crespo levantou a possibilidade de levar para a área do entorno do Matadouro a tradicional Feira da Barganha, hoje realizada em área do Horto Florestal.
O próprio Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP) apresentou um projeto nesse sentido, prevendo não só a restauração do prédio, como também a recuperação de seu entorno, instalando iluminação, estacionamento e banheiros para dar suporte aos participantes da Feira da Barganha.
Como mostrou reportagem publicada recentemente por este jornal, a recuperação do prédio é bastante difícil, pois até o telhado está comprometido. E a recuperação do imóvel a cada dia fica mais cara, pois a degradação é contínua. Há quem tema pela segurança do prédio que pode até desabar com os temporais comuns no verão.
A exemplo do que acontece com essa edificação, há outras igualmente ameaçadas à espera de restauração. O ritmo lento da restauração do Mosteiro de São Bento, que marca a fundação da cidade, mostra que para esse tipo de obra os recursos são sempre mais escassos.
Não faltam exemplos de abandono, mas, talvez, o mais gritante seja o prédio do Fórum Velho, na praça Frei Baraúna. O prédio é de propriedade do Estrado e sua restauração foi interrompida quando a empresa contratada constatou sérios problemas estruturais, o que aumentaria muito o custo da obra.
A Associação Comercial de Sorocaba apresentou um projeto viável para sua recuperação, mas para isso é preciso que o edifício seja cedido ao município. A demora mostra que o governo de São Paulo não está nem um pouco interessado no assunto, assim como os nossos ilustres deputados estaduais, que não fazem a pressão necessária junto ao Palácio dos Bandeirantes para que o caso seja solucionado o mais rápido possível.
O antigo Matadouro é apenas mais um dos prédios de alto interesse histórico abandonados de Sorocaba. O que chama a atenção é que ele se encontra em condições tão precárias que pode ruir a qualquer momento, privando a cidade de uma parte de sua história.