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Romaria adiada

10 de Dezembro de 2020 às 00:01

Pela segunda vez este ano, a Arquidiocese de Sorocaba vai suspender a mais tradicional manifestação religiosa da região por conta da pandemia do novo coronavírus, a romaria de Aparecidinha, uma procissão que há 122 anos traz a imagem da Padroeira do Brasil do santuário localizado no bairro de Aparecidinha, até a Catedral Metropolitana, no centro da cidade.

Essa manifestação de fé que anualmente reúne milhares de fiéis percorrendo as ruas da cidade na manhã do primeiro dia do ano tem sua origem em outro momento crítico na área da saúde para os sorocabanos. Embora existam registros históricos mostrando que a romaria foi realizada entre a catedral e o bairro de Aparecidinha desde o início do século 19, ela ganhou um calendário próprio no final daquele século, quando a cidade passou por uma epidemia de febre amarela, que matou muita gente e ainda foi um fator decisivo para o encerramento do ciclo de feiras de muares até então realizados anualmente na cidade. Era costume trazer a imagem da santa para a cidade em momentos difíceis, quando ocorriam epidemias, até mesmo secas ou enchentes.

O atual calendário -- de levar a imagem para o Santuário em romaria no meio do ano e retornar com ela no primeiro dia do ano seguinte, foi estabelecido por aqueles que lutaram contra a febre amarela, entre eles o Monsenhor João Soares. A romaria trazendo a imagem representava uma oportunidade, para os fiéis da época, de receber bençãos da santa e proteção contra a peste. Ironicamente, tanto a romaria que levaria a imagem no mês de julho, como a que a traria, no dia 1º de janeiro, foram suspensas por conta de outro problema sanitário, a pandemia causada pelo novo coronavírus.

É evidente que o arcebispo de Sorocaba, dom Julio Endi Akamine, conta com a compreensão dos fiéis, uma vez que o distanciamento social e evitar aglomerações continua sendo muito importante neste momento em que a epidemia dá mostras de expansão. Aglomerar milhares de pessoas em um trajeto de 14 quilômetros, mais os milhares de pessoas que anualmente aguardam a “chegada da santa” na região central de Sorocaba, poderia se transformar em uma tragédia em termos de contaminação, uma espécie de bomba-relógio para os meses seguintes.

Foi pensando nesses problemas que a romaria que aconteceria no dia 12 de julho foi igualmente cancelada, pois ocorreria em um período que a pandemia avançava forte no Estado e Sorocaba vivia um período de quarentena severo.

Em carta aberta aos fiéis da Arquidiocese de Sorocaba e aos devotos de Nossa Senhora Aparecida, divulgada na última terça-feira, o arcebispo afirma que a igreja esperava a superação do quatro de contaminação pelo novo coronavírus, o que infelizmente não aconteceu e por isso, decidiu suspender novamente a romaria.

No mesmo documento, a autoridade religiosa pede aos devotos de Nossa Senhora Aparecida que não deixem de manifestar sua fé no dia 1º de janeiro e sugere que sejam expostas imagens no exterior das casas para homenageá-la e, principalmente, que as famílias se reúnam para fazer orações.

Essa preocupação de impedir aglomerações e evitar o contágio demonstrado pelas autoridades religiosas devem servir de exemplo para todas as situações, principalmente neste final do ano, quando há forte apelo para vários tipos de confraternizações. Com o recrudescimento da pandemia nas últimas semanas, quando os sorocabanos podem constatar que praticamente todos os leitos de UTI, tanto da rede pública como dos hospitais privados, estão ocupados e cresce o número de pessoas infectadas, em todas as faixas etárias.

O mesmo exemplo deveria ser seguido por empresários que, dando as costas para a saúde pública, promovem raves e encontros do gênero reunindo milhares de jovens em aglomerações prolongadas e extremamente perigosas para a disseminação da doença. Também deveria servir de exemplo para aqueles que frequentam bares e casas noturnas onde o distanciamento não é respeitado, muito menos o limite de ocupação, como prevê a fase amarela do Plano São Paulo de recuperação econômica. Até os encontros familiares e de grupos de amigos, tão comuns nestes dias finais do ano, terão que ser reavaliados. Estamos muito próximos de campanhas de vacinação que, finalmente, trarão alguma segurança para a população. Esperar mais um pouco para participar de encontros religiosos, familiares, de amigos e de companheiros de trabalho será uma demonstração de respeito à saúde do próximo.