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Retomada da despoluição

14 de Julho de 2019 às 00:01

O governador João Doria anunciou na última sexta-feira um plano ousado de desassoreamento do rio Pinheiros. Em um ano, segundo Doria, serão retirados 1,2 milhão de metros cúbicos de areia, lodo e outros sedimentos depositados no fundo do rio, misturados à enorme carga de esgoto doméstico que chega sem tratamento àquele curso d’água. O rio Pinheiros, em alguns pontos, por conta do assoreamento acumulado nos últimos anos, tem uma profundidade não superior a 1 metro. O governo estadual informa que para fazer o desassoreamento será utilizada a técnica de escavadeira embarcada em plataformas flutuantes. Esse equipamento retira a lama do fundo do rio e a deposita em barcaças que leva o material até a margem e de lá seguirá para disposição final na Cava de Carapicuíba. O objetivo é remover 2,4 milhões de metros cúbicos de sedimentos nos próximos anos.

Durante a última campanha eleitoral Doria dizia que São Paulo não pode conviver com dois rios altamente poluídos, referindo-se ao Pinheiros e ao Tietê. Parece ter optado por atacar a situação do primeiro rio, que nasce na zona sul da Capital e, teoricamente, é mais fácil de ser despoluído. No caso do Tietê, a complexidade é maior porque ele recebe esgoto sem qualquer tratamento de vários municípios antes de chegar a São Paulo. O Tietê tem seus primeiros 130 quilômetros totalmente dominados pela poluição, desde Itaquaquecetuba, quando o rio começa a tomar volume e recebe grande carga de esgotos.

As primeiras tentativas de despoluir o rio Tietê começaram em 1992, quando recebeu financiamento internacional e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social (BNDES). O governador da época chegou a prometer que beberia água do rio ao fim dos trabalhos, previsto para 2005.

Esse prazo estourou faz tempo e até agora o Tietê continua totalmente poluído e sem vida na Região Metropolitana de São Paulo. Os especialistas na área explicam que limpar um rio é basicamente deixar de jogar poluentes nele.

Se o esgoto for manejado corretamente, por exemplo, o que está na água vai embora e o rio fica limpo. A maior parte dos detritos, que vão hoje para o Tietê, tem origem doméstica.

Quando o trabalho de despoluição começou, em 1992, a coleta de esgoto atingia 70% das residências e apenas uma parte desse total (24%) era tratada. As primeiras fases do projeto preveem a criação de coletores de esgoto e estações de tratamento. Houve um avanço, pois hoje perto de 90% do esgoto é coletado e 59% tratados. A evolução ainda é insuficiente para evitar que o rio permaneça poluído.

Se o trabalho de desassoreamento do rio Pinheiros é relativamente simples, pois depende exclusivamente de equipamentos para retirar os sedimentos e transportá-los para longe e ter local para acomodá-los, a despoluição é muito mais complexa. A Região Metropolitana de São Paulo tem 22 milhões de habitantes e em torno de 40% do esgoto não recebe qualquer tratamento.

A maior dificuldade, e a parte da obra mais cara, é a construção de redes de coleta de esgoto, que muitas vezes tem de atender bairros já estabelecidos, colocando a rede em ruas já pavimentadas e muitas vezes sob as construções já existentes. Pior situação é quando se trata de ocupações irregulares onde, evidentemente, não existe rede de escoamento de esgoto e as casas despejam os dejetos diretamente no córrego mais próximo, contribuindo de maneira direta para a poluição do rio.

Sem contar o problema de descarte inadequado de lixo nas ruas e em córregos, um problema ambiental facilmente constatado após uma chuva forte quando a cidade de Salto, na Região Metropolitana de Sorocaba, se transforma em uma espécie de ralo de São Paulo com a retenção de milhões de garrafas pet e outras embalagens plásticas.

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Essas dificuldades em despoluir os maiores rios da capital paulista têm de servir de exemplo para cidades de porte médio, como Sorocaba, que conseguiu nos últimos anos praticamente eliminar a poluição do seu principal rio. É preciso atenção constante para que a expansão urbana seja acompanhada de coleta de esgoto, sem descuidar, evidentemente, de seu tratamento. Também é preciso cuidado especial com ocupações irregulares e áreas invadidas, situação que foi deixada em segundo plano na Grande São Paulo e agora se transformou em um problema de difícil solução.