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Recuperação e cautela

17 de Dezembro de 2020 às 00:01

Enquanto o Brasil e o mundo lutam contra a forte segunda onda da Covid-19, curiosamente nos últimos dias temos constatado notícias e dados positivos em relação à economia. Anteontem (15), por exemplo, a Bolsa de Valores atingiu algo que parecia bastante improvável até alguns meses atrás. Ao romper novamente o nível dos 116 mil pontos e fechar em alta de 1,34%, o Ibovespa zerou as perdas do ano de 2020. Ou seja, de um modo geral, conseguiu recuperar toda aquela turbulência e forte queda ocorridas em março com a chegada da pandemia.

Para surpresa de muitos, tal recuperação da Bolsa brasileira aconteceu bem antes do previsto e surpreendeu até os investidores mais calejados. Muitos deles acreditavam que o índice encerraria o ano de 2020 no campo negativo. Para se ter uma ideia da força da retomada, em março, por conta da Covid-19, o mercado - que até então vinha muito bem nos dois anos anteriores - mergulhou numa espiral e despencou 30%, a maior queda mensal ocorrida desde 1988. O fundo do poço aconteceu no dia 23 de março, quando o Ibovespa ampliou as perdas e acumulou uma desvalorização de 45%, sobretudo pela preocupação com o avanço da doença no Brasil e no mundo.

No caso da Bolsa, a recuperação sofreu altos e baixos, conforme as notícias locais e globais, e também o humor do mercado. O auge da retomada aconteceu em novembro, com valorização de 15,9 %, o melhor desempenho da Bolsa brasileira no mês de novembro desde 1999. Além disso, o saldo de investimento estrangeiro no Brasil atingiu recorde mensal desde o início da série histórica, em 1995, com valor positivo de R$ 31,5 bilhões.

Outros números também vêm mostrando o fortalecimento da economia. O PIB brasileiro cresceu 7,7% no 3º trimestre com relação ao 2º trimestre de 2020. A indústria total registrou avanço de 14,8% e a indústria de transformação, alta de 23,7%. Além de recuperar parte da queda registrada no período de abril a junho, esse aumento do PIB no 3º trimestre é o maior da série histórica. No caso da indústria total e de transformação, os resultados também são recorde.

As medidas econômicas adotadas pelo governo federal na área de crédito, emprego e de transferência de renda foram cruciais para a rápida reação da economia. Agora, para este ano, os especialistas projetam uma queda de 4,5% do PIB. Claro que ainda é negativo, claro que é preocupante, mas para se ter uma ideia do cenário, os pessimistas estimavam uma queda de até 9%.

Outra notícia animadora para a economia vem lá do outro lado do mundo. Segundo dados oficiais, a atividade econômica da China vem apresentando forte crescimento. Em comparação com novembro de 2019, por exemplo, a produção industrial aumentou 7% no mês passado, ampliando ainda mais o excelente ganho de 6,9% que já havia sido relatado em outubro. E como sabemos, boa parte ou quase tudo do que acontece no Dragão Vermelho reverbera e gera consequências no resto do mundo.

Por outro lado, o que também chama a atenção é que tal recuperação vem acontecendo justamente no meio da segunda onda da pandemia de Covid-19. Talvez uma das explicações venha daquele velho ditado ‘se correr o bicho pega, se pegar o bicho come’. Ou seja, por mais que tenhamos de cumprir todas as determinações sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos órgãos governamentais, como isolamento, distanciamento social, uso permanente de máscaras, uso irrestrito de álcool em gel etc, uma grande parcela da população mundial simplesmente não pode se dar ao luxo de parar de trabalhar e produzir. É preciso levar para casa o pão nosso de cada dia. Está claro que, em muitos casos, setores da economia conseguiram se adaptar para manter as atividades de comércio, indústria, serviços e construção ativas, mesmo com as dificuldades impostas pela epidemia. Muitos segmentos se ajustaram às restrições para seguirem vivos e funcionando. Ponto importante em todo esse cenário, há também a questão do auxílio emergencial. Inicialmente no valor mensal de R$ 600 - e depois R$ 300 -, a ajuda compensou o desaparecimento de muitos postos de trabalho e o fechamento de diversas empresas. E temos de lembrar que esse auxílio emergencial vai acabar no final do ano.

Mas então a crise econômica já passou? Infelizmente, não é bem assim. Ainda temos um grande desafio e um longo caminho pela frente. Por um lado, é preciso combater fortemente essa segunda onda da pandemia que, infelizmente, chegou muito forte - tanto que pelo segundo dia seguido o Brasil contabilizou mais de 900 mortes, algo que não víamos há um bom tempo no País.

Por outro lado, é preciso tentar manter o fôlego dessa recuperação da economia sem os bilhões que foram injetados por conta do auxílio emergencial. Será necessário encontrar alternativas e condições para a criação de empregos e oportunidades. E para que tudo isso possa acontecer, no campo político é fundamental a retomada da agenda de reformas.

Ou seja, a recuperação é uma realidade, mas ainda há muito a fazer.

Portanto, mãos à obra!