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Quando carece o apoio a população

12 de Dezembro de 2018 às 11:36

Em 13 de dezembro de 1968, quando o governo Costa e Silva impunha ao País o Ato Institucional nº 5, o vice-presidente Pedro Aleixo foi o único a discordar dos termos da regra do regime de exceção. “Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o País. O problema é o guarda da esquina”, disse Aleixo.

O guarda da esquina da Guarda Civil Municipal anda colocando receio à população de Sorocaba. Não são todos, talvez sejam bem poucos, não se sabe ao certo. Com um efetivo acima de 415 pessoas em 2017 -- o número atual não é declarado “por motivos de segurança” --, a GCM completou 31 anos no dia 4 de dezembro, em grande celebração no Teatro Municipal. E fatos recentes, muitos recentes, publicados não apenas neste Jornal, mas em outros veículos de comunicação -- e em especial nas mídias sociais -- têm contribuído para azedar o brinde ao sucesso dessa organização que foi criada para atuar “de forma preventiva e comunitária, e tornou-se uma instituição de apoio à população. Ela realiza o patrulhamento em centenas de equipamentos públicos -- escolas públicas, unidades de saúde, parques, áreas de lazer e demais edificações públicas -- inibindo invasões, furtos, danos e depredações.” E é exatamente nessa declaração oficial, que se encontra na apresentação da organização no portal web da Prefeitura de Sorocaba, que os fatos mostram que alguma coisa não anda bem.

Há cerca de duas semanas, o Cruzeiro do Sul informou aos seus leitores: “A Escola Municipal Dirceu Ferreira da Silva foi furtada dois dias seguidos, no bairro Caguaçu, em Sorocaba. Na última ação dos criminosos, ocorrida sexta-feira (23), foram levados diversos eletrodomésticos como geladeira, freezer, fogão, televisão, liquidificador, utensílios domésticos e até um botijão de gás.”

Há de convir que geladeiras e toda essa linha branca, mais os eletrodomésticos não são rapidamente carregados de um lado para outro. Nem são transportados em carrinhos de mão. Há uma pequena logística envolvida, que não se passa despercebida por vizinhos, pelo patrulhamento que se espera ter nas escolas públicas municipais -- missão da GCM -- em especial depois de se constatar que há cinco anos, 2013, de acordo com dados da Polícia Militar, “até o início de setembro Sorocaba somava 57 furtos a escolas estaduais e municipais e pelo menos outras três ocorrências foram registradas nos últimos dias em unidades de ensino da cidade. Tendo como base o número oficial, a média é de uma ocorrência a cada 15 dias. Desde janeiro, 28% das escolas municipais foram furtadas na cidade. De acordo com a Secretaria de Educação 37 das 132 escolas municipais foram alvo de bandidos durante o ano.” Informou também este Jornal em 2013. Melhorou de lá para cá?

Em reportagem deste mesmo Cruzeiro do Sul, há dois dias, mostra que de acordo com a Secretaria de Educação, do início do ano até hoje, as unidades escolares municipais sofreram 318 invasões. Ou seja, ao término dos 365 dias de 2018, quase uma invasão diária -- 0,90 para ser exatos até a data -- e “a Secretaria de Educação solicitou a intensificação da ronda da GCM nos perímetros escolares com maiores índices de invasão e ampliou a informação às comunidades para auxiliar na fiscalização de qualquer movimento suspeito e ligar para o número 153.” O cidadão comum poderia esperar que caberia ao efetivo de mais de 400 guardas municipais que estivessem vigilantes aos, ao menos, prédios públicos, em especial aqueles que formam cidadãos. Quase nos leva a pensar que o Executivo, antes de discutir o polêmico conteúdo educacional, poderia priorizar a segurança nas escolas.

Outra informação do quadro estático de segurança nas escolas públicas municipais em Sorocaba foi publicada em julho com o título de “Escolas municipais têm mais de um furto ou depredação por dia”: “Entre janeiro e junho deste ano, mais de 200 invasões foram registradas em escolas municipais, incluindo casos de furto, depredação e vandalismo, de acordo com informações da Secretaria de Comunicação (Secom). Nos primeiros seis meses de 2017 foram registradas 103 invasões em escolas municipais.” Qual foi a orientação desde então?

Terminando a ladainha de informações que podem estar aborrecendo o leitor e que, infelizmente, demonstram a realidade em nossa cidade, a reportagem de dois dias passados: “Criminosos invadiram, pela quinta vez consecutiva em 14 dias, o Centro de Educação Infantil João Salerno Engenheiro (CEI-57), no bairro Júlio de Mesquita, em Sorocaba. A invasão ocorreu no último sábado (8) e foram furtados um rádio e uma impressora, assim como 25 quilos de leite em pó, 5 kg de arroz e sete garrafas de óleo. Além dos itens subtraídos, os invasores destruíram a decoração natalina que vinha sendo produzida pelas crianças da unidade.”

Dois outros assuntos muito recentes mostram o estado de coisas: “uma mulher sofreu uma agressão por parte do guarda civil municipal que fazia a segurança na unidade médica (...) ela filma o momento em que o GCM pede para ela parar de filmar (...) Sem ser obedecido, o GCM investe contra Célia e a segura pelo braço e dispara a arma de choque contra a barriga dela, que cai ao chão.”

E este outro muito lamentável, também pouco exemplar. Um homem procurou a Redação do Cruzeiro do Sul há poucos dias, onde expôs seu caso e deixou-se fotografar com seus ferimentos: “Um catador de material reciclável alega ter sido agredido por um agente da Guarda Civil Municipal (GCM) em Sorocaba. O caso teria ocorrido sábado (1º), no período da noite, no interior do Terminal Santo Antônio, o maior e mais movimentado de Sorocaba.”

O problema é o guarda da esquina, como diria Pedro Aleixo se estivesse entre nós? Ou está numa política ineficiente de segurança dos bens públicos, que deve vir de cima, e consequentemente, do preparo daqueles que se colocam na posição de “uma instituição de apoio à população”?