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Proteja a vida

20 de Setembro de 2020 às 00:01

A cada 12 meses, pelo menos 40 mil brasileiros perdem a vida em consequência de acidentes envolvendo veículos motorizados. Além disso, para cada óbito registrado nas vias urbanas e rodovias nacionais, outras sete vítimas -- cerca de 280 mil pessoas -- sofrem ferimentos cuja gravidade exige tratamento prolongado em unidades de terapia intensiva (UTI). Os desastres ainda provocam sequelas em aproximadamente 400 mil pessoas, sendo que, por volta de 9% desse total -- algo em torno de 36 mil homens e mulheres de todas as idades -- tornam-se permanentemente inválidos. Na lista das inúmeras decorrências danosas das colisões, capotamentos e atropelamentos, ainda se pode incluir a ocupação de cerca de 60% dos leitos hospitalares disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Por fim, vale destacar o prejuízo financeiro: R$ 52 bilhões saíram do bolso dos contribuintes em 2018 apenas para custear o tratamento médico dos acidentados.

Embora o balanço trágico divulgado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) por ocasião da abertura da Semana Nacional do Trânsito, na sexta-feira (18), não seja propriamente uma novidade, tem um pendor de chamar a atenção de muitas pessoas alheias à guerra travada diuturnamente no trânsito, de Norte a Sul do País. Durante alguns dias -- semanas, no máximo --, a sociedade comenta as estatísticas do irracional confronto, escancarando um dos mais bizarros e corriqueiros paradoxos. Inexplicavelmente, ao mesmo tempo em que ratificam a relevância das campanhas de conscientização na complexa tarefa de refrear a barbárie recorrente, testemunham a inconsciência que, lamentavelmente, ainda comanda as atitudes de parcela significativa dos protagonistas dessa verdadeira tragédia social.

Resumindo a questão em uma frase: a maioria dos motoristas, motociclistas e pedestres tem plena consciência do que é necessário fazer para tornar o trânsito mais seguro, porém, nem todos estão dispostos a -- ou sabem como -- colocar em prática essa teoria. A preocupação com o fenômeno é evidenciada no tema “Perceba o risco, proteja a vida”, escolhido para a Semana Nacional do Trânsito de 2020. A proposta do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), um dos organizadores da campanha no âmbito nacional, é exatamente passar à sociedade o conceito de percepção de risco, um termo já amplamente difundido entre os técnicos de segurança viária, mas que apenas começa a ser absorvido pela população. Significa, por exemplo, que quando o cidadão entende que, o cinto de segurança pode salvar a sua vida, passa a usá-lo mesmo nos deslocamentos mais curtos. A mesma estratégia é válida em todas as circunstâncias, seja para eliminar a utilização do celular quando estiver dirigindo, para não dirigir após ingerir bebida alcoólica, para dar a devida atenção à manutenção preventiva do veículo, para respeitar semáforos e a velocidade máxima permitida em cada trecho ou para adquirir o hábito de acionar as setas indicativas antes de qualquer manobra.

Outro viés do tema aberto à discussão na campanha deste ano é menos prático e mais psicológico. Diz respeito ao bom senso, respeito às demais pessoas no trânsito e, principalmente, à educação ao dirigir. A proposta elementar é evitar o costumeiro pré-julgamento com relação às atitudes dos demais motoristas, motociclistas e pedestres com quem se compartilha as vias públicas. Ou seja, para entender e respeitar as necessidades e direitos das outras pessoas, é necessário aprender a se colocar no lugar delas. As estatísticas sobre acidentes não registram, mas a pura e simples observação do comportamento no trânsito demonstra que a primeira opção quando algo foge ao controle é culpar quem está à volta.

Conforme publicou o jornal Cruzeiro do Sul, a Semana Nacional do Trânsito prossegue até sexta-feira (25) -- com inúmeros debates virtuais, cumprindo os protocolos para evitar a proliferação do novo coronavírus --, no entanto, os esforços para transformar as ruas e estradas em locais mais seguros para todos não têm prazo para acabar. Somente o debate permanente e o envolvimento de todos os segmentos da sociedade serão capazes de reverter as estatísticas negativas e pôr um fim à tragédia nossa de cada dia.