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Prédios abandonados

26 de Outubro de 2019 às 00:01

Em um período pré-crise econômica, quando a arrecadação crescia de maneira generosa, Sorocaba criou vários projetos de cunho educacional ou de mobilidade importantes e criativos. Foi nesse período em que houve grande expansão das ciclovias e a introdução das bicicletas públicas como novo modal da cidade. Também nesse período de recursos abundantes foi possível implantar, em todas as regiões da cidade, o projeto Sabe Tudo, um audacioso programa de inclusão digital que oferecia cursos para jovens e demais moradores da comunidade em que o núcleo estava inserido, e permitia o acesso gratuito à internet em uma fase que antecedeu o uso generalizado dos smartphones. O projeto começou em 2006 e em 2015, por falta de recursos, a ong que gerenciava o projeto começou a diminuir as atividades por falta de repasses da Prefeitura, até encerrá-las definitivamente no ano seguinte.

As ciclovias que cortam boa parte da cidade e têm baixo custo de manutenção sobreviveram, assim como as bicicletas de uso coletivo, mas os bicicletários e outros equipamentos que seriam instalados para atender os ciclistas não resistiram à época das vacas magras. Alguns desses módulos seriam destinados à comercialização de artigos para bicicletas e outros seriam para a instalação de estabelecimentos do ramo de alimentação ou bares. Só sobraram alguns prédios ou esqueletos das construções originais. O que restou dessas instalações hoje é ocupado por pessoas em situação de rua ou por usuários de drogas. Um desses locais abandonados, localizado perto da ponte Francisco Dell’Osso e que nunca foi ocupado por comerciantes, serviu de esconderijo recentemente para a prática de estupro, conforme denunciou a vítima, uma jovem de 22 anos.

O projeto Sabe Tudo era ainda mais audacioso e drenou recursos importantes da Prefeitura de Sorocaba que construiu 32 instalações nos bairros da cidade. Com o fim do projeto, desde então os prédios estão abandonados, alguns bastante danificados por vândalos e que necessitarão de grandes investimentos para serem utilizados novamente. A Prefeitura criou há um ano o programa Unidade de Proteção Cidadã que previa a ocupação dos prédios por entidades dispostas a desenvolver programas de integração nessas comunidades. Das 32 unidades do Sabe tudo, como mostrou reportagem publicada por este jornal, somente duas estão ocupadas. A unidade do Jardim Maria do Carmo é utilizada pelo Investe Sorocaba, um órgão ligado à administração municipal. Nela trabalham cinco funcionários e dois estagiários na autarquia que foi criada para atrair investimentos para a cidade. O prédio do bairro Paineiras foi colocado à disposição da Associação Antonio José Guarda, que ministra cursos profissionalizantes. O prédio cedido em março deste ano, ainda passa por adaptações e reformas e serve como “laboratório” para os alunos do curso de eletricidade que recuperam as instalações. Os prédios foram desenhados especificamente para o projeto Sabe Tudo e precisam de modificações para atender outro tipo de atividade.

As reportagens publicadas pelo Cruzeiro do Sul sobre o abandono tanto dos bicicletários como das instalações do Sabe Tudo se tornaram pauta do Legislativo de Sorocaba na sessão da última quinta-feira. Vereadores usaram a tribuna para tratar do problema. No caso das unidades do Sabe Tudo um vereador propôs que seja feito um chamamento público para que entidades possam recuperar e administrar os locais, lembrando que, sem manutenção, os prédios estão se deteriorando.

Todos esses equipamentos custaram muito dinheiro público. Se perderam a função original por uma série de razões, é preciso que a Prefeitura encontre outra utilidade para eles. A cessão para entidades e associações de moradores parece ser uma boa ideia, mas é preciso dinamismo nessas iniciativas. Sorocaba não pode se dar ao luxo de ver dezenas de prédios abandonados se deteriorarem sem ter qualquer utilização. Pior que isso é ver muitos deles sendo usados pelo tráfico, prostituição ou como local para ataques sexuais, sem qualquer intervenção da polícia ou da Guarda Civil Municipal, que deveria zelar pelo patrimônio público.