Pragas urbanas
Com a proximidade da primavera e o aumento gradativo da temperatura e a volta das chuvas, começam a surgir em várias regiões da cidade alguns visitantes indesejáveis e perigosos, as chamadas pragas urbanas.
Algumas dessas pragas, como os escorpiões, que permanecem escondidos durante boa parte do inverno, começam a sair de seus esconderijos com o calor e invadir residências.
É o que registrou reportagem deste jornal na edição de ontem, mostrando casos de infestação do aracnídeo no bairro Lopes de Oliveira e o que levou os moradores a reclamar da situação para a Divisão de Zoonoses da Prefeitura de Sorocaba.
Segundo esse órgão da Prefeitura, somente neste ano 87 pessoas já foram picadas pelo animal peçonhento, um número que tende a crescer nos próximos meses, mais quentes e mais úmidos.
No ano passado, 143 pessoas foram picadas por escorpiões e 68 por aranhas, animais peçonhentos que entram nas casas.
Nos centros urbanos, entulho e lixo em terrenos baldios são os locais mais propícios para a reprodução desse tipo de praga.
Os escorpiões, por exemplo, se alimentam de baratas e outros insetos, que proliferam nessas áreas.
Uma moradora do bairro Lopes de Oliveira, na zona norte de Sorocaba, reclama da existência de um terreno repleto de entulho nas proximidades, possível foco da infestação de escorpiões das casas da vizinhança.
Ela lembra que dias atrás encontrou um deles no meio de um cobertor e outros foram encontrados espalhados pela moradia.
A picada do escorpião é muito dolorida e por conta do seu veneno é preciso socorro imediato da vítima para tratamento específico.
A picada de um escorpião amarelo, bastante comum, pode matar uma criança ou um idoso, tal a potência do veneno.
A recomendação do pessoal da Zoonoses é para que as pessoas não toquem nos aracnídeos e mantenham móveis distantes pelo menos um palmo da parede.
Verificar roupas e calçados com atenção antes de vesti-los pode evitar surpresas e é aconselhável ainda vedar frestas de portas, janelas e ralos, para impedir invasões.
Em caso de picadas, a orientação da Secretaria da Saúde é para procurar atendimento médico imediato, utilizando as unidades como PAs, UPHs e, UPAs.
Mas essas infestações de animais peçonhentos e as invasões de residências em diversos pontos da cidade são reflexo de um problema mais complexo que precisa ser enfrentado.
Há anos as autoridades da área da saúde insistem para que a população mantenha limpos os quintais e terrenos baldios por conta do perigo que representam.
Os mesmos terrenos e o mesmo entulho que serve de esconderijo para aranhas ou escorpiões, também servem para a reprodução de mosquitos, entre eles o nosso conhecido Aedes aegypit, transmissor da dengue, doença presente na região de Sorocaba onde ainda faz vítimas, independentemente da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Um boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES) em julho mostrava que a cidade registrou no primeiro semestre 1.820 casos confirmados de dengue e uma morte em consequência da doença.
A pandemia do novo coronavírus alterou a rotina das equipes da Zoonoses nos últimos meses, com a interrupção das visitas nos imóveis. Atualmente, somente a parte externa dos imóveis é vistoriada.
Quando há necessidade, as nebulizações são realizadas com os moradores fora da residência, aguardando a uma distância pré-estabelecida entre núcleos familiares, uma forma de evitar aglomerações.
O último levantamento sobre o trabalho de retirada de entulho e lixo de terrenos e quintais foi divulgado no mês de maio e segundo a Divisão de Zoonoses da SES, até o início daquele mês haviam sido retiradas mais de 220 toneladas de criadouros do mosquito.
No mesmo período, mais de 156 mil imóveis tinham sido visitados ao redor de locais onde havia casos confirmados de dengue.
Esses “arrastões” de entulhos e materiais inservíveis de terrenos e áreas públicas mobilizam funcionários e mais parece uma tarefa de enxugar gelo, pois áreas limpas em determinado mês, com a retirada de centenas de quilos de recipientes que acumulam água, estão novamente atulhadas de lixo no mês seguinte.
O novo coronavírus mostrou a fragilidade do ser humano diante de uma pandemia.
É preciso que a maioria da população entenda que a limpeza de quintais e terrenos é fundamental para a saúde coletiva, pois a dengue, a chikungunya, zika ou mesmo as pragas urbanas, continuam fazendo vítimas.