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... paz na Terra aos homens de boa vontade

24 de Dezembro de 2018 às 13:22

 

Muitos consideram a fotografia de Anders uma das mais profundas imagens da história da cultura humana. Foto: William Anders/NASA

 

Paz na terra aos homens de boa vontade. Isto é paz para muito poucos.

A irônica e sábia observação de Millôr Fernandes, uma das brilhantes cabeças que tivemos neste país, atualiza-se cada vez mais. Parafraseando Lucas 14-2, este um versículo de júbilo pelo nascimento de Jesus, que completa com o desejo de paz entre os homens de boa vontade, observa-se que a boa vontade é um artigo, uma atitude em franco desaparecimento. Poderia ser colocada junto às espécies em extinção.

E como precisamos da paz na terra, em especial nessa pequena terrinha ao sul da linha do Equador, assim mesmo uma imperceptível sujeira no Cosmos. A foto que ilustra a capa de nossa edição, tirada há exatos 50 anos ontem, pelo astronauta William Anders (quem se lembra dele da Apolo 8?) é uma daquelas imagens que mudaram a percepção que o ser humano tinha de si próprio. Sempre focado na Terra ao seu redor, até então observava-se a companhia de outro ser humano ou animal, ou da natureza ou mesmo do céu azul.

Algo começou a mudar com a famosa frase “A Terra é Azul” do primeiro cosmonauta que circundou a Terra, Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, portanto sete anos antes dessa fotografia. Não tínhamos ideia de que a Terra tivesse cor. Ou que fosse azul. Uma frase que começou a mudar nossa percepção.

Muitos consideram a fotografia de Anders uma das mais profundas imagens da história da cultura humana. A Terra vista de longe, como nunca antes, uma frágil e vulnerável esfera azul, solitária, nascendo ao fundo da superfície lunar mudou a percepção de nosso lugar no mundo até então conhecido. Mostrou nossa real insignificância como apenas um ponto pálido no Universo, como diria o grande Carl Sagan. Não foi a primeira foto da Terra vista da Lua, mas o nascimento da Terra, como vemos aqui, o da Lua, mudou nossa percepção. Talvez tenha mudado nossa sensação de que somos apenas isso, um pontinho no Universo que orbita uma estrela comum numa galáxia entre outros bilhões de pontos. Essa imagem gera emoção porque nos leva a sensação de insignificância que tem apenas alguma importância porque vivemos nela.

E vivemos aqui com nosso próximo, nosso vizinho, aquele que queremos ou apenas aturamos. Muitas vezes nem isso. Poucos homens de boa vontade.

Muitos homens e mulheres se aproveitam da boa-fé e da boa vontade dos mais humildes para exercer seu jogo de poder. Cada vez mais evidentes e comuns nas três esferas legislativas (e começam a surgir no Executivo também), cresce o número daqueles que invocam seu parco conhecimento das Escrituras -- como se fosse essa Verdade do Universo -- para subir no caixote de frutas em praça pública ou em púlpito na esfera dos homens -- de novo, Legislativo e Executivo -- para a dominação do rebanho sem qualquer distinção ou ainda pior, sem distinção da separação secular entre Igreja e Estado. Comportam-se como os vendilhões expulsos do Templo. Ou como os Fariseus que “limpam por fora o copo e o prato, mas por dentro estão cheios de ganância e de maldade.”

Paz na Terra aos homens de boa vontade é precedido pelo Glória a Deus nas alturas, uma posição declarada por este Jornal em seu cabeçalho. Uma posição que, no entanto, respeita e convive como a percepção diferente de Deus de cada um ou mais, com a liberdade de negação de sua existência. Sem imposições, sem pregação, apenas o respeito fundamental da liberdade individual, de escolha, de separação de poderes da República, de escolha íntima.

Depois de um ano de atrocidades verbais, de separação de pessoas queridas por fúteis motivos ideológicos -- somos apenas um ponto pálido no universo -- e pior, por reações rasas, em sua maioria sem fundamentos, está na hora de agir como uma Nação.

Paz na Terra ao nosso País que precisamos tanto. Mais que um desejo, a prática da Paz em nossos gestos menores, em nossas atitudes maiores. Em nossa compreensão de que somos uma nação, portanto um mesmo povo com necessidades diferentes e, mais do que nunca, com foco no bem comum.

Paz na Terra entre nossos legisladores federais, estaduais e, em especial, os locais, porque aqui está nossa terra. Paz entre Poderes. Boa vontade para com o povo da cidade, para aqueles que precisam muito.

Que não seja o desejo de um único dia, um desejo impresso de cartão de Natal. Que seja uma prática na vida diária. Uma atitude de um novo País.

Esse é o desejo de toda Diretoria e Redação do Jornal Cruzeiro do Sul aos nossos amigos e leitores, homens de boa vontade que já praticam a Paz a cada dia.

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