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Patrimônio em chamas

01 de Maio de 2019 às 00:01

Um incêndio destruiu parcialmente na madrugada do último sábado um dos edifícios que compõem as antigas instalações da Fepasa em Sorocaba, integradas por prédios que abrigavam as antigas oficinas e setores administrativos. Boa parte dos edifícios que fazem parte do complexo de oficinas da ferrovia -- propriedade da União -- foi cedida para o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) para que instale seu campus. O prédio que pegou fogo no último final de semana, onde antes funcionavam setores administrativos da ferrovia, assim como os demais do complexo, estava abandonado. Localizado nas proximidades da Escola Municipal Matheus Maylasky e sem qualquer segurança, era utilizado com frequência por pessoas em situação de rua. Ainda não se sabe como o incêndio começou, mas é bem possível que tenha se iniciado em algum fogão improvisado por invasores.

Imóveis abandonados e de fácil acesso correm esse risco. Fato semelhante pode se repetir em prédios das proximidades, como a Estação Ferroviária, imóvel declarado de utilidade pública em 1997, ou nas demais dependências do complexo ferroviário, tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba em 2017. Em 2018 foi a vez do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) reconhecer a importância histórica e arquitetônica do complexo. A maioria das edificações daquele sítio começou a ser erguida na década de 1930, quando Sorocaba passou a centralizar as oficinas da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, antecessora da Fepasa. O conjunto de prédios é um dos mais representativos e completos conjuntos remanescentes da EFS, que já foi uma das principais ferrovias paulistas e nasceu na cidade que lhe emprestou o nome.

O risco de incêndio em prédios abandonados cresce no período de inverno, quando moradores de rua acendem fogo para se aquecer, apesar dos riscos que esse tipo de atitude representa em construções antigas. Como se viu, semanas atrás, até a Catedral de Notre Dame, igreja mais visitada de Paris, foi alvo de incêndio durante a realização de reforma de seu teto. Mesmo com alerta imediato dos trabalhadores que ali estavam e a chegada rápida dos bombeiros, o prejuízo àquele patrimônio histórico foi gigantesco. Vale lembrar também o caso do Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro que foi totalmente consumido pelas chamas no ano passado após um curto-circuito.

Há vários outros imóveis em Sorocaba nessa situação, além daqueles do complexo ferroviário. O prédio do antigo Fórum é outra edificação tombada pelo patrimônio histórico municipal que precisa de urgente restauração. O prédio está abandonado há vários anos após ter sua reforma interrompida ao serem detectados problemas estruturais e infiltrações graves. Há uma proposta viável de restauração e aproveitamento do prédio apresentada pela Associação Comercial de Sorocaba, encaminhada por intermédio da Prefeitura e que aguarda uma resposta do governo estadual, o proprietário do imóvel.

No caso do complexo ferroviário, sabe-se que ao IFSP quer se instalar naqueles prédios, mas no momento, segundo informações de sua assessoria de imprensa, não dispõe de recursos para manter vigilância constante no local. Diante dos fatos recentes, sabe-se que pretende cercar os imóveis, para impedir a presença de estranhos e de moradores de rua no local, mas depende de recursos do Ministério da Educação para restaurar os prédios que abrigarão seus cursos. O IFSP é uma instituição altamente respeitável pela qualidade de ensino que oferece e, por falta de instalações adequadas, funciona precariamente em Sorocaba. Ocupa algumas salas no centro administrativo da UFSCar, no bairro de Santa Rosália, e algumas salas de aula de uma escola estadual. Merece receber apoio de nossas autoridades para conseguir recursos para reformar os prédios a ele destinados para que possa ampliar o número de cursos no município, sempre carente de ensino público de qualidade.