Outubro Rosa
Por mais enfadonho que possa parecer -- ou, de fato, o seja --, é imperativo repetir que a pandemia de Covid-19 e o isolamento social necessário ao seu controle não podem servir como justificativas para o afrouxamento das ações básicas de prevenção ao sem-número de doenças que colocam milhões de vidas em risco diariamente em todos os recantos do planeta. O alerta vale especialmente para o câncer de mama, cuja periculosidade é oportunamente ressaltada neste Outubro Rosa. Motivo: a desinformação e as interpretações equivocadas dos protocolos sanitários para evitar a proliferação do novo coronavírus. Em sua 30ª edição, a campanha anual identificada pelo laço cor-de-rosa agrega como missão extra demonstrar que uma precaução não pode inviabilizar a outra.
De acordo com levantamento efetuado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o número de consultas com médicos especialistas no tratamento de enfermidades nas glândulas mamárias sofreu redução média de 43% entre os meses de abril e agosto de 2020 no País, na comparação com o mesmo período do ano passado. O estudo também revelou que a queda na busca por orientação profissional atingiu indistintamente a clientela do Sistema Único de Saúde (SUS) e as pacientes da rede privada.
Lamentavelmente, fenômeno semelhante vem sendo constatado em todos os exames utilizados na detecção desse tipo de carcinoma. O cenário mais preocupante é o das mamografias, justamente a tecnologia com eficiência reconhecida e difundida para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Conforme os dados da SBM, o total de rastreios por imagem do tecido mamário para identificação de nódulos realizados nos primeiros oito meses deste ano no âmbito do SUS não atingiu a metade dos efetuados em idêntico período de 2019. Outras técnicas investigavas utilizadas em mastologia também estão sendo menos acionadas em 2020, incluindo ultrassom, ecografia, ressonância magnética, termografia e mamotomia.
O conjunto de efeitos da repentina suspensão das formas mais efetivas de diagnosticar e acompanhar a evolução do câncer de mama ainda é imprevisível. Neste momento, instituições e pesquisadores não têm condições de afirmar que o número de mulheres portadoras da doença irá aumentar nos próximos meses ou anos por conta do hiato na profilaxia recomendada. No entanto, todos concordam que uma das consequências imediatas da retração dos procedimentos preventivos e de diagnoses antecipadas será o retardamento das estratégias de contenção e/ou reversão da neoplasia maligna. Em outras palavras: nada indica que a taxa média verificada nos últimos anos no Brasil -- um diagnóstico positivo a cada oito minutos -- será significativamente alterada; porém, seguramente, o número de casos constatados em estágios mais adiantados irá crescer. Isso equivale a dizer que a proporção de pacientes que necessitarão de tratamentos mais agressivos tenderá a aumentar.
Em Sorocaba, vale destacar o trabalho realizado por entidades como a Liga Sorocabana de Combate ao Câncer, que já viabilizou a realização de aproximadamente 2 mil exames de mamas e exames ginecológicos para mulheres da cidade, que aguardavam na fila pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer os procedimentos.
Nunca é demais lembrar que o câncer de mama é o tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres -- fica atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Além disso, está provado que acima dos 35 anos, sua incidência cresce progressivamente. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que todas as cifras referentes à doença são superlativas: no País, são confirmados aproximadamente 70 mil novos casos por ano; desse total, cerca de 20% -- pelo menos 14 mil -- das pacientes não resistem e vão a óbito. Somente na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) são diagnosticados cerca de 600 novos casos a cada 12 meses, com média de 120 mortes. Um detalhe que vale a pena destacar é que, apesar de raro, este tipo de câncer também pode acometer homens, representando 1% do total de casos.
A boa notícia é que, não obstante a gravidade e abrangência do câncer de mama, a doença apresenta elevado índice de cura. Dependendo da precocidade com que o tumor é identificado e rapidez para início do tratamento, as chances de recuperação sem sequelas chega a 87%. O desafio do Outubro Rosa neste “novo normal” consiste, exatamente, em garantir a 100% das mulheres as chances de nunca sofrer desse mal, ou, na pior hipótese, o poder de derrotá-lo. Visto que a rota para esse objetivo passa obrigatoriamente pela conscientização, cabe a todos nós buscarmos as informações corretas que a campanha de 2020 proporciona em todos os meios de comunicação e fazer delas o balizador das nossas ações.