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Os pancadões e a má-educação

27 de Dezembro de 2020 às 00:01

Apesar da determinação de fase vermelha em todo o Estado de São Paulo para reforçar o distanciamento social diante do avanço da segunda onda da pandemia do novo coronavírus, o clima na noite de Natal não foi nada tranquilo em alguns pontos de Sorocaba e Votorantim.

Nesses locais, em vez da paz e tranquilidade que o período natalino deveria propiciar, o que se viu foi aglomeração de pessoas, som alto e muita algazarra.

Moradores de ao menos três bairros da zona norte da cidade -- Vitória Régia, Paineiras e São Bento --, do Cajuru, na zona industrial, e da Vila Nova, em Votorantim, passaram a noite de Natal em claro.

E não foi pela chegada do Papai Noel. Quem apareceu foram os bandos de arruaceiros, gritando e berrando ao som do funk no volume máximo nos diversos pancadões que tomaram conta de algumas vias públicas nesses locais.

Segundo relatos em redes sociais e denúncias feitas à polícia, a agitação em Votorantim, por exemplo, reuniu cerca de 1,5 mil pessoas aglomeradas em três quarteirões, e só terminou depois do amanhecer, por volta de 7h30.

Não foi a primeira vez que tivemos esse tipo de ocorrência, claro, e infelizmente não será a última.

Os pancadões realizados sobretudo nas periferias de grandes cidades do país já se tornaram uma tremenda dor de cabeça para alguns dos envolvidos: moradores dessas áreas, policiais e autoridades. E por que dor de cabeça? Pois o tema é complexo e de difícil solução.

A começar por uma questão de segurança. Por se tratarem de aglomerações espontâneas em locais públicos, a atuação da polícia tem certas limitações. E pior, os locais são migratórios, ou seja, caso um determinado local seja monitorado e controlado pela polícia, os pancadões trocam de endereço e a farra continua a ser feita em outras ruas.

Ainda assim, a polícia e as autoridades precisam fazer mais. É necessário montar alguma estratégia para combater esse absurdo distúrbio da ordem alheia.

A população de bem reclama que os locais são conhecidos de cor e salteado por todos. E são mesmo. Nesse ponto a polícia deveria ser mais efetiva no combate a essas badernas populares.

Quem sabe uma estratégia seja ocupar ostensivamente esses locais pré-determinados a fim de impedir as aglomerações. É enxugar gelo, já que as festas vão mudar de endereço? Provavelmente sim, mas é um gelo que precisa ser enxugado permanentemente.

E mesmo esse monitoramento e ocupação ostensiva precisam ser feitos com muito cuidado e critério.

O que ninguém quer que aconteça é algo semelhante ao ocorrido em São Paulo em dezembro do ano passado durante uma ação da Polícia Militar no Baile da 17, uma festa de funk que costumava reunir milhares de jovens em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo.

Com a ação da PM, nove jovens morreram pisoteados na correria causada pela debandada.

Ou seja, é preciso encontrar uma forma para combater e proibir essa desordem, sem perder a mão na hora de reprimir. Por isso, iniciamos dizendo se tratar de uma questão complexa.

Atualmente, há também a questão sanitária. Não é novidade para ninguém que o mundo atravessa uma pandemia sem precedentes e que aglomerações de qualquer natureza são totalmente desencorajadas para se evitar o avanço do contágio.

Os hospitais estão cheios, o sistema de atendimento está no limite e é responsabilidade de todos o cuidado consigo e com o próximo.

Há também aquela turma que, sempre que o assunto pancadão vem à baila, apela para a questão social, dizendo que os jovens da periferia e menos favorecidos não têm opção de lazer.

Sim, isso é verdade, faltam opções de lazer e de entretenimento. Mas justificar pancadão somente com isso é balela.

Curiosamente, os lacradores que insistem nisso vivem bem distante dos locais afetados pelo barulho e dormem tranquilos em suas casas.

É aí que entra a questão principal deste editorial. O maior problema dos pancadões tem início em algo básico: educação.

Qualquer pessoa que tenha o mínimo de boa educação sabe que seu direito termina quando começa o direito do outro.

Pessoas minimamente bem-educadas sabem que se deve respeitar a ordem. Quem é bem-educado sabe que as pessoas têm direito ao descanso e ao silêncio após determinado horário.

Mas não é o que acontece com a juventude que participa ativamente dos pancadões. Gostam de música alta, gostam de acelerar suas motos pela simples vontade de fazer barulho.

Gostam de fazer algazarra, de se exibir, de beber até cair. E sobretudo adoram desafiar a lei e a ordem.

Ai de algum morador dessas áreas afetadas pelo pancadão que se levantar da cama e questionar tal bagunça. Corre o risco real de ter sua casa depredada pela horda de arruaceiros. Dependendo da situação, corre o risco até de ser linchado sem dó nem piedade pelos vândalos.

Mas são jovens mal educados, sem escala de valores, sem perspectiva. Trata-se de uma questão social? Sem dúvida alguma. Mas trata-se também da mais pura má-educação, falta de empatia e de respeito às outras pessoas.