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Os números do Pisa

05 de Dezembro de 2019 às 00:01

Os brasileiros ficaram sabendo nesta semana como foi a avaliação de milhares de seus jovens na faixa dos 15 anos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), um exame aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos.

O resultado mostrou que, em termos de qualidade de ensino, o país está estagnado, fruto de um projeto de educação equivocado e que coloca nossos jovens em uma das piores classificações entre os participantes.

Apesar da nota dos estudantes brasileiros terem mínima melhora em relação ao último exame, as provas do maior teste de avaliação de educação básica do mundo mostraram que de cada dez estudantes brasileiros, quatro não têm capacidade sequer para identificar a ideia central de um texto, resolver problemas simples com números inteiros, interpretar gráficos e entender experiências científicas por mais simples que sejam.

O Pisa foi aplicado em 2018 para 600 mil alunos de 79 países e deu ênfase para a leitura.

É esse o resultado que estamos conhecendo agora. Participaram da avaliação 17,5 mil brasileiros, a maioria das escolas públicas.

A prova trouxe também questões de Matemática e Ciências, misturando questões abertas com as de múltipla escolha e é feita por computador. E o Brasil voltou a ter um resultado muito ruim na avaliação, ficando em 54º lugar no ranking na prova de Leitura.

Dos jovens brasileiros avaliados, somente 26,7% conseguiram entender o significado literal de frases ou passagens curtas. Em Ciências houve uma pequena melhora, considerada irrelevante pelos organizadores e que colocou o Brasil em 66º lugar entre os 79 países participantes. Somente 1% dos nossos jovens atingiram os maiores níveis de desempenho, dominando conceitos científicos sobre a vida no espaço e detendo conhecimentos superiores ao que se espera de um adolescente nessa faixa etária.

Mas foi na prova de Matemática que os representantes do Brasil tiveram pior resultado, ficando em 70º lugar. De todos os estudantes brasileiros avaliados, somente 32% estão no nível considerado básico ou acima dele. Eles conseguem, no máximo, comparar distâncias entre duas rotas ou converter preços em diferentes moedas.

O Brasil sempre ficou abaixo da média nos resultados do Pisa desde sua criação. Além da constatação óbvia de que nosso ensino vai mal e precisa ser melhorado se quisermos acompanhar a evolução dos demais países, há outros fatos importantes que os resultados revelam.

A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, uma entidade especializada em educação, a Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) analisou os resultados e concluiu que há uma disparidade gritante entre o ensino oferecido no Brasil pelas escolas particulares de elite e as escolas públicas. Mesmo entre estas, há disparidades entre escolas federais e estaduais.

Os analistas constataram que as notas obtidas pelos alunos das escolas particulares de ponta colocariam o Brasil na 5ª posição do ranking mundial em Leitura, ao lado da Estônia, que tem o melhor desempenho da Europa. Já o resultado isolado das escolas públicas estaria 60 posições abaixo, na 65ª posição.

Em Ciências, os alunos dessas escolas de elite ficariam na 12ª posição, ao lado da Nova Zelândia e acima do Reino Unido e Alemanha. Tabulando todas as escolas particulares, não só as de elite, o Iede constatou que o desempenho delas colocaria o Brasil na 11ª colocação em Leitura, acima da Suécia e em 23º em Ciências, empatando com os resultados da Suíça.

Constataram também que as desigualdades estão presentes até mesmo na rede pública. Alunos das escolas públicas estaduais tiveram nota de Leitura que as colocaria em 62ª posição, enquanto que os alunos das escolas federais ficariam na 16ª posição, desempenho próximo dos estudantes australianos.

As diferenças de avaliações dos estudantes brasileiros com o de outros países são gritantes.

São alarmantes também as diferenças de desempenho entre os próprios brasileiros, quando comparados aqueles que têm acesso a um ensino particular de qualidade e os que frequentam escolas públicas.

Essa situação mostra que o projeto educacional do País, principalmente dos Estados, faliu, não funciona, não acompanha a evolução que ocorre no mundo. Esse abismo entre estudantes é lamentável e não só por uma mera colocação em uma prova internacional.

Reflete que o Brasil não está preparando seus jovens como deveria, o que vai refletir necessariamente na produtividade e no desenvolvimento do País no futuro. É preciso rever o ensino público no País a começar pela formação dos professores e sua remuneração.

Criar planos de carreira com evolução por desempenho e tornar a escola um local atraente. Um desafio que precisa ser encarado de imediato.