O perigo das queimadas
Todos os anos, nesta época, o Corpo de Bombeiros e a Brigada Corta-Fogo criada pela Prefeitura de Sorocaba se preparam para um aumento absurdo de casos de queimadas urbanas, que poluem a atmosfera, colocam em risco imóveis, vidas humanas, além da fauna e flora, e ainda trazem sérios riscos para a saúde. A estiagem que caracteriza os meses de inverno são fatores que propiciam a propagação de queimadas, um crime previsto na legislação municipal desde 2012 e que prevê multas para os responsáveis.
Segundo levantamento da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) de Sorocaba, do início do ano até o começo de julho foram feitas 17 denúncias de queimadas da cidade, um número que infelizmente tende a crescer daqui para a frente. No ano passado foram 89 denúncias e em 2018 o número foi bem mais alto: 282 pedidos de ajuda chegaram até a secretaria. E a grande maioria dessas queimadas não ocorreu em áreas rurais próximas a núcleos habitacionais, mas na zona urbana mesmo. Geralmente alguém faz a roçagem de um terreno ou uma capinação no fundo do quintal e tem a infeliz ideia de se livrar do mato e do capim cortado usando o fogo. Atear fogo a esses resíduos já é considerado crime, mas em boa parte das vezes, o gesto de queimar mato cortado dá início a incêndios que podem fugir ao controle. Com a vegetação seca devido ao período de estiagem, é muito fácil perder o controle e provocar um grande incêndio, uma grande queimada, que traz prejuízos imensos para a qualidade do ar. Os dados do Corpo de Bombeiros são superiores aos da Sema. Relatório da corporação mostra que no ano passado, entre agosto e outubro de 2019, foram atendidas 384 ocorrências de queimadas tanto pelos bombeiros como pela Brigada Corta-Fogo do município. Pelo número de atendimentos em um período curto é possível perceber o desperdício de combustível, de tempo e horas de trabalho dos bombeiros e brigadistas para atender ocorrências que poderiam ter sido evitadas, sem falar nos problemas causados na qualidade do ar.
Muitos brasileiros, principalmente aqueles que têm suas origens na zona rural, têm o costume de queimar mato cortado ou mesmo lixo, um hábito comum entre agricultores. E muitos pesquisadores atribuem esse costume a uma herança dos nossos índios, os primeiros habitantes do continente. Até Monteiro Lobato atribuiu a prática das queimadas ao caipira, que teria recebido esse costume de seus antepassados índios. Pesquisadores do assunto descobriram que os índios, embora usassem o fogo eventualmente para limpeza de terrenos, usavam o recurso em pequena escala. O abuso na utilização do fogo para limpar áreas teria sido uma prática introduzida pelo homem branco para abrir grandes áreas a fim de dar lugar a pastos para o gado, para a plantação do café, mineração e mesmo urbanização.
O problema é que a prática persiste, com todos os seus resultados negativos e muitas vezes até provocam tragédias. Ocorre um enorme prejuízo ao meio ambiente. Influi no aumento na temperatura do ar e causa destruição na flora e fauna. As queimadas também são apontadas como um fator importante nas mudanças climáticas. Mas é na saúde humana que essa queima ilegal provoca os piores resultados. A poluição atmosférica provoca problemas gastrointestinais, oftalmológicos, doenças de pele, pulmonares, cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Mas dos problemas causados pelas queimadas, os problemas respiratórios são os mais evidentes. Pessoas que sofrem de bronquite ou asma sabem avaliar as consequências de uma exposição, mesmo que curta, à fumaça das queimadas. É nessa época do ano que prontos-socorros e unidades de saúde ficam cheios de pacientes em busca de ajuda por causa da poluição.
Este ano, entretanto, há um fator que complica e amplia muito mais o problema. A pandemia causada pelo novo coronavírus, basicamente uma doença que afeta os pulmões, já matou mais de 73 mil no Brasil e contaminou praticamente 1,9 milhão de pessoas. Como se sabe, a pandemia provocou a lotação -- e em alguns lugares o colapso -- do sistema de saúde do País. Fazer queimadas em um momento com este, em que a consequência será levar mais pessoas a procurarem pelos serviços de saúde é uma crueldade, pois os serviços de emergência, por mais limpos e higienizados que sejam, são potencialmente perigosos para a transmissão da Covid-19. E pessoas afetadas pelas queimadas dificilmente terão, neste momento, vaga para tratamentos de saúde mais complexos.
O mais correto é a mudança de hábitos. Descartar o lixo corretamente em local apropriado, assim como restos de poda e folhas secas. A saúde da população agradece.