Buscar no Cruzeiro

Buscar

O lado obscuro

07 de Dezembro de 2018 às 08:48

O cidadão sorocabano que nos últimos meses cruzou a pé algumas ruas ou praças da região central de Sorocaba no período noturno deve ter sentido o que trouxe o Cruzeiro do Sul desta quinta-feira em sua manchete: Insegurança e medo. Aos poucos, começam a surgir em Sorocaba algumas áreas centrais em que se concentram desocupados, mendigos, vendedores e consumidores de drogas e a violência se espalha começando com pequenos furtos até chegar aos assaltos à mão armada, como já se registra nos dias atuais.

Como mostrou a reportagem, o entorno da estação rodoviária da cidade -- que ali funciona décadas após o vencimento do contrato com a Prefeitura -- está se transformando em uma região extremamente perigosa. Estabelecimentos comerciais são furtados, residências invadidas e assaltos se multiplicam. A reportagem encontrou um grupo de moradores que, para se proteger e proteger seu patrimônio, criou um grupo de WhatsApp para funcionar como uma espécie de vigilância voluntária, vizinhos avisando vizinhos sobre eventuais perigos. Há relatos de pessoas assaltadas mais de uma vez e do comerciante que afirma que seu estabelecimento foi alvo de mais de 20 furtos. Existe ainda escola infantil que foi invadida rotineiramente durante o período de construção e até na véspera da inauguração, quando levaram chuveiros, maçanetas e aparelhos eletrônicos.

Mas não é só no entorno da Rodoviária e bairros próximos que a situação está pesada. Fora deste período de compras natalinas, que leva movimento para a região central, é arriscado cruzar durante a noite a praça Coronel Fernando Prestes, caminhar pelo Bulevar Braguinha, no entorno do Mercado Municipal e outras ruas centrais.

Segundo os urbanistas, toda cidade sofre, em determinados pontos, o que se chama de deterioração urbana. Isso ocorre muitas vezes por conta de alguma atividade existente na região que atrai durante o dia grande número de pessoas e acaba por desvalorizar a vizinhança. É o início de um processo que resulta muitas vezes em abandono de edifícios, queda no valor dos imóveis, o surgimento de casas de diversão noturna, pensões, hotéis populares e até casas de prostituição. Essa decadência afeta bairros bem estruturados localizados próximos às áreas centrais. É o que aparentemente está acontecendo com alguns bairros como o Vergueiro e Lajeado que hoje sofrem com a violência. O traçado de uma ferrovia ou uma obra viária construída em má localização também podem causar a degradação de regiões inteiras.

Embora a população clame por mais segurança, não se pode dizer que a área foi abandonada pelas autoridades. O que ocorre é que há um contingente muito grande de moradores em situação de rua, dependentes químicos e mendigos perambulando pela região e ladrões e traficantes se misturam com essa população. Seria necessária uma vigilância constante e rigorosa de uma área bastante extensa, e certamente não temos policiais e guardas municipais suficientes para fazer vigilância 24 horas por dia. Segundo a Polícia Civil, neste ano foram presas 14 pessoas por furtos nessa área, o que é muito pouco. É praticamente um suspeito por mês, muito pouco para a solução do problema. A Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias) continua com sua Operação Dignidade abordando pessoas em situação de rua e oferecendo ajuda, mas nem todas as pessoas abordadas aceitam a ajuda oferecida.

O poder público precisa tentar reverter a situação de degradação dessas áreas já identificadas, impedir seu crescimento e o surgimento de novos pontos semelhantes na cidade. A queda na violência neste período do ano no centro da cidade, com o comércio funcionando até mais tarde por conta das compras de Natal, com decoração festiva e grande movimentação de pessoas mostra o caminho para eventual recuperação de áreas degradadas. O comércio aberto atraindo consumidores, transporte público disponível, muita gente nas ruas e um bom esquema de segurança tornam essa região segura e agradável, como deveria ser o resto do ano. Sorocaba já tem uma lei que permite a abertura do comércio fora do que se convencionou chamar de “horário comercial”. O funcionamento noturno de estabelecimentos comerciais, policiamento ostensivo e atrações culturais podem ser um bom começo para a recuperação de áreas hoje consideradas perigosas. Os cidadãos ocupando o espaço que lhes pertence.