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O lado mais fraco

17 de Outubro de 2020 às 00:01

Há vários anos é perceptível o aumento dos serviços de entrega de comida e mercadorias, acionados por aplicativos ou pela internet, que se utilizam de motociclistas para atender à clientela.

A pandemia causada pelo novo coronavírus e a quarentena adotada em todo o País como forma de reduzir a velocidade do contágio, entretanto, provocaram uma verdadeira explosão nesse tipo de serviço que, até pouco tempo, era comum apenas para o atendimento de pizzarias, lanchonetes e farmácias.

Desde que as pessoas foram obrigadas a trancar-se em casa para evitar contaminação, esses serviços cresceram e multiplicaram-se.

Pessoas que, até então, não tinham qualquer habilidade para trabalhar com aplicativos ou fazer compras on-line foram obrigadas a adaptar-se e o que se viu foi uma explosão de serviços e de motoboys, a ponta mais visível desse comércio, a quem cabe fazer a maioria das entregas.

Na verdade, para alguns segmentos comerciais, a presença dos entregadores de motocicleta ou mesmo bicicleta foi fundamental nos últimos meses; e separou aqueles que conseguiram até crescer no período daqueles que amargaram prejuízos.

Não é à toa que o mercado de motocicletas cresceu no período.

Em um primeiro momento, com a paralisação da produção das fábricas do setor, concentradas na Zona Franca de Manaus, houve crescimento pela procura de motos usadas.

Os estoques existentes nas fábricas e nos concessionários foram logo esgotados, e as revendas precisaram adotar um sistema de lista de espera para atender aos interessados.

Com o retorno da produção, registra-se agora um vigoroso crescimento de vendas no setor.]

Segundo dados da Fenabrave, entidade de alcance nacional que reúne os concessionários de veículos, no mês de agosto, houve um crescimento de 12,7% nas vendas em relação a julho e 8,29% em comparação ao mesmo mês de 2019.

O maior volume de vendas concentra-se na faixa das motos de baixa cilindrada, justamente as mais utilizadas em serviços de entrega pelo baixo preço de manutenção e, principalmente, pelo baixo consumo de combustível.

Mas não foram somente as pessoas interessadas em trabalhar com entregas que aqueceram o mercado de veículos de duas rodas.

Pessoas que querem fugir do transporte coletivo -- e as inevitáveis aglomerações, tanto nos terminais quanto no interior dos ônibus -- também engordaram as vendas desse tipo de veículo.

Com as mudanças aceleradas pela pandemia, é fato que as ruas estão cada vez mais cheias de motos de entregas, um caminho sem volta, a menos nos próximos anos, com o crescimento cada vez maior do e-commerce.

E, com isso, cresce uma categoria profissional que, por trabalhar de forma autônoma, praticamente não tem direitos e recebe baixa remuneração: a dos entregadores de mercadorias com o uso de motocicletas.

Nesta semana, a Câmara de Sorocaba aprovou um projeto -- em duas discussões, o que significa que só é preciso ser sancionado pelo Executivo para entrar em vigor -- que é um pequeno passo para oferecer algum tipo de benefício e conforto para os entregadores.

O projeto prevê que todas as empresas que se utilizam de motoboys para a entrega de seus produtos, quaisquer que sejam eles, serão obrigados a criar um espaço, um ponto de apoio físico na cidade para os trabalhadores responsáveis pelas entregas.

Essa base de apoio deverá acomodar os entregadores enquanto aguardam as ordens de entrega e precisa ser equipada com sanitários, ter produtos de higiene à disposição e água potável.

A prefeitura ainda deverá regulamentar o projeto, e as empresas terão um prazo para que cumpram a norma.

É uma boa iniciativa que reconhece a precariedade da profissão, mas ainda é pouco.

Com o desemprego alto, são muitas as pessoas que usam suas reservas para comprar uma moto e ingressar, mesmo sem ter muita habilidade no trânsito, na profissão de entregador por aplicativos.

Seria importante que a Urbes, até em parceria com empresas ou fabricantes, oferecesse cursos de pilotagem defensiva e outras atualizações de pilotagem para os motoboys, novos e veteranos na profissão.

O risco de acidentes a que muitos correm durante as entregas, tanto por falta de prática como por excesso de confiança, é enorme.

Outras medidas podem e devem ser tomadas para dar um mínimo de segurança para a parte mais visível -- e mais frágil -- do comércio virtual, um segmento do varejo que promete crescer cada vez mais daqui para frente.