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O caminho do diálogo

04 de Março de 2020 às 00:01

Os moradores do Jardim Tatiana, um bairro de Votorantim que tem mais ligações urbanas com a zona oeste de Sorocaba, têm toda a razão de estar indignados.

A rua Salvador Roque Romanó, que fica praticamente atrás de uma fábrica de refrigerantes, passou a ser um verdadeiro depósito de restos de construção, galhos de árvore e outros materiais inservíveis.

O volume de entulho está crescendo tanto que, em alguns pontos chega a atrapalhar a circulação de veículos, pois a rua não tem pavimentação e os buracos não ajudam muito o trânsito de automóveis.

Além de emporcalhar o bairro jogando restos de construção e até móveis quebrados em local inapropriado, quem descarta esse material nessa rua está ameaçando uma área de mata nativa e de preservação, onde inclusive existem placas indicativas.

O lixo e o entulho estão se acumulando em um longo trecho da via, inclusive na parte posterior do Lar Escola Monteiro Lobato, entidade que atende crianças e adolescentes.

Como se sabe, lixo e entulho formam o habitat ideal para roedores e todo tipo de insetos, inclusive escorpiões, o que pode colocar em risco as crianças atendidas pelo “Projeto Renovar”, mantido pela entidade. Mas o Jardim Tatiana não tem exclusividade de ter uma rua que está se transformando em um lixão.

Sorocaba tem inúmeros pontos semelhantes e é difícil entender o que leva um cidadão, por exemplo, a descartar um sofá velho ou um colchão em uma área verde da Prefeitura ou no canto de uma praça.

A cidade, como já foi comentado neste espalho em mais de uma oportunidade, criou no passado recente uma rede de ecopontos, um sistema que teoricamente deveria acomodar esse tipo de descarte sem causar problemas à comunidade.

O ecoponto era basicamente uma área com vários contêineres onde as pessoas poderiam jogar quantidades limitadas de restos de construção ou aparas de jardim, materiais que a coleta de lixo comum não recolhe.

O que na teoria era uma boa ideia, na prática tornou-se um pesadelo para os moradores do entorno. As pessoas passaram a descartar não apenas quantidades muito grandes de entulho, lotando totalmente os recipientes, como também móveis, utensílios domésticos quebrados e lixo.

O resultado foi que surgiram vários locais onde se proliferavam roedores e insetos, que exalavam mau cheiro para o desespero da vizinhança.

As queixas eram tantas que a Prefeitura resolveu diminuir o número de ecopontos até eliminá-los de vez. Retirou os contêineres e as placas de aviso que nunca foram respeitadas e limpou esses locais.

A emenda, como diz o dito popular, ficou pior que o soneto, pois em questão de horas -- já sem as caçambas -- vários locais começaram a se transformar em lixões, pois parte da população continuou a jogar entulho e objetos inservíveis naqueles locais, como espalhar lixo pelas ruas da cidade fosse uma coisa normal.

Na semana passada, um grupo bastante representativo de moradores no bairro Iporanga tomou uma decisão importante diante da inoperância do poder público em acabar com o garimpo ilegal na área da antiga fábrica de baterias Saturnia, que começou há dois anos, sem que providências efetivas tenham sido tomadas.

Eles se reuniram para discutir o problema e convidaram autoridades para o encontro. Estiveram presentes o secretário municipal do Meio Ambiente e um vereador atuante no bairro.

Sintomaticamente, a Cetesb, a quem cabe fiscalizar esse tipo de problema ambiental não enviou representante, muito menos os novos proprietários da área, que a adquiriram em leilão judicial. A área total tem mais de 167 mil metros, mas segundo relatório final elaborado pela Comissão Especial da Câmara sobre a área da Saturnia, concluiu que existe uma área de 63 mil metros quadrados -- equivalente a seis campos de futebol atulhada de resíduos sólidos altamente tóxicos.

Esse material, descartado criminosamente pela empresa, contrariando todas as normas ambientais, está enterrado a uma profundidade de um metro de profundidade e é o que atrai os garimpeiros. De uns tempos para cá, começou a sair muita fumaça do solo escavado, o que prejudica muito quem mora nas proximidades.

Promover reuniões, denunciar irregularidades, discutir os problemas comuns e, se possível, convidar autoridades da área para que se inteirem da situação pode ser um caminho tanto para a questão da Saturnia como dos bairros que se sentem prejudicados pelo descarte irresponsável de entulho e lixo.

O diálogo é sempre importante e dá aos cidadãos o direito de cobrar o que foi prometido nesses encontros. A proximidade das eleições municipais certamente vai fazer com que representantes do Executivo e da Câmara se interessem por esses temas.