O alerta que vem dos esportes
Em meio à luta contra a recém-surgida versão do coronavírus, causadora da Covid-19, o planeta padece de uma nova recaída de racismo, seguramente, a mais antiga e resistente pandemia enfrentada pela raça humana. O assassinato do negro George Floyd por um policial branco, em Minneapolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de maio, gerou uma das costumeiras ondas de protestos contra a discriminação racial. O movimento se alastrou por todos os continentes, chegando ao Brasil e até mesmo a Sorocaba, como relata reportagem publicada hoje no Cruzeiro do Sul.
Dessa vez, a exemplo do que vem ocorrendo desde meados do século passado, atletas e artistas assumiram o papel de porta-vozes do bom senso. Publicaram declarações na mídia -- especialmente nas suas redes sociais -- e participaram de manifestações populares. Lamentavelmente, embora significativas, ações desse tipo mostram o caminho a ser seguido, mas se revelam insuficientes para reverter milênios de ignorância. Atitudes efetivas precisam e devem partir dos governantes -- em todos os níveis -- e instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas subordinadas, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia (UE), entre outras, para incentivar o diálogo inter-racial e criar legislações igualitárias.
Tão avassaladora e traiçoeira quanto a SARS-Cov-2 -- culpada pela morte de quase meio milhão de pessoas nos quatro cantos do planeta em menos de seis meses --, a segregação é inigualavelmente mais resistente e difícil de combater. Enquanto a ciência prevê para o ano que vem -- ou, no mais tardar, para 2022 -- uma vacina definitiva, capaz de evitar a doença respiratória -- propalada a partir de Wuhan, na China, pouco antes do Natal de 2019 --, a intolerância às diferenças biológicas e segregação até mesmo dentro dos próprios grupos -- como as discriminações por sexo e ideologia, por exemplo --, surgida com a gênese da sociedade, continua à mercê, exclusivamente, da evolução do discernimento das pessoas.
Mesmo em países considerados paraísos de diversidade cultural -- como é o caso do Brasil --, os fatos provam que a sociedade igualitária ainda está muito longe de ser alcançada. Exemplo dessa realidade é visível nas estatísticas da violência. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada cem pessoas assassinadas no País no ano passado, 75 eram negras. Da mesma forma, na medida em que o índice de homicídios segue estável ou cai de uma maneira geral, entre negros ocorreu o inverso, registrando crescimento superior a 33% em 2019. Um cálculo simples, revela algo ainda mais preocupante: a chance de um jovem negro ser assassinado é 2,7 vezes maior do que a de um jovem branco. Ainda de acordo com os dados, 75,4% das pessoas mortas em razão de intervenção policial são negras.
Porém, enquanto nos preparamos para o estágio em que a igualdade seja uma condição natural para todos os seres humanos, a alternativa é adotar os protocolos sugeridos por desportistas, artistas e demais defensores da harmonia diante da diversidade. Ao invés de máscara, deve-se entender que apenas não ser racista não basta; é preciso ser antirracista. No lugar do isolamento social, é imperativo assimilar que ninguém é livre até que todos sejam livres. Por fim, em substituição ao álcool em gel, carecemos ter a consciência de que injustiça em qualquer lugar do mundo é uma ameaça à justiça em todos os lugares.