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No olho do furacão

24 de Julho de 2020 às 00:01

Os últimos dias têm sido particularmente agitados para a alta cúpula do PSDB de São Paulo. O partido que desde 1995 elege sucessivos governadores paulistas, elegeu um presidente da República e esteve sempre presente no segundo turno das eleições presidenciais, com exceção das últimas eleições, encontra-se em uma séria crise, alcançado que foi por um dos braços da Operação Lava Jato, responsável por esmiuçar as entranhas do Partido dos Trabalhadores e aliados e levar um ex-presidente para a cadeia. O que chama a atenção é que nas últimas investigações da Polícia Federal, não foram personagens periféricos que foram colocados no centro do furacão, nem supostos operadores, como são chamados os personagens que nos bastidores recolhem dinheiro de doadores para abastecer campanhas dos partidos ou contas particulares de políticos em paraísos fiscais. A operação está investigando dois ex-governadores paulistas, ex-candidatos à Presidência, entre eles um senador eleito por São Paulo em pleno mandato.

Não é a primeira vez que o senador José Serra é alvo de operações de busca e apreensão. Em duas oportunidades anteriores a residência e escritórios do senador foram visitados pelos agentes federais em busca de indícios de corrupção. Mais recentemente seu nome e o de sua filha estiveram envolvidos na suposta venda de obras de arte no exterior como forma de lavagem de dinheiro. Desta vez, quando o senador tucano se encontrava em um spa de Sorocaba, agentes tentaram revistar seu gabinete em Brasília, no que foram impedidos pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e pela intervenção do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. A Polícia Federal também estava atrás do telefone celular do senador, mas foi impedida pelo juiz Marco Antonio Martin Vargas, da Justiça Eleitoral de São Paulo, que vetou a apreensão do aparelho. Serra é alvo da Operação Paralelo 23, que investiga suposto caixa dois de R$ 5 milhões na campanha eleitoral de 2014. Ele foi acusado por Elon Gomes na Polícia Federal de ter recebido essa quantia ocultada pela simulação de diversos negócios jurídicos.

Já o ex-governador Geraldo Alckmin foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral. O escândalo envolveria R$ 11,3 milhões pagos pela empreiteira Odebrecht. As investigações teriam encontrado referências ao ex-governador em planilhas e e-mails no famoso Setor de Operações Estruturadas da empresa, por onde passava o propinoduto para agentes políticos. De acordo com a Promotoria, Alckmin teria recebido R$ 2 milhões em espécie na campanha a governador em 2010 e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição em 2014. As investigações chegaram até aos intermediários das propinas, segundo foi divulgado ontem. Há dez anos, o intermediário teria sido o cunhado do então candidato, Adhemar César Ribeiro, e em 2014 foi a vez do tesoureiro Marco Antônio Monteiro fazer a ponte entre a fonte de recursos e o político.

A denúncia contra Alckmin é resultado do que está sendo chamado de Lava Jato Eleitoral. Ele foi indiciado pela Polícia Federal na segunda etapa da operação desde que o Supremo Tribunal Federal reafirmou a competência da Justiça Eleitoral para avaliar crimes conexos aos crimes eleitorais. Foi a mesma etapa da Lava Jato Eleitoral que investiga o ex-governador José Serra, quando foi candidato ao Senado em 2014.

A revelação de que líderes importantes do PSDB são alvos de investigações sobre corrupção e lavagem de dinheiro não chega a ser uma novidade. Várias denúncias já chegaram ao conhecimento público, inclusive com a prisão daquele que seria um dos operadores das propinas, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, diretor de empresas públicas durante vários anos. O nome de Serra já tinha aparecido em algumas investigações e provocado os constrangimentos esperados. A novidade agora é o indiciamento do ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do partido à Presidência nas últimas eleições. A situação inusitada provocou várias manifestações de solidariedade de dentro e fora do partido. Até o governador de São Paulo, João Doria, que tenta se manter longe dessa confusão toda, se manifestou publicamente em defesa de Alckmin.

De toda maneira, é importante que a Operação Lava Jato e suas ramificações continuem com suas investigações. Todas as denúncias e suspeitas de corrupção precisam ser apuradas. A população, como demonstrou em várias oportunidades, não tolera mais esse tipo de comportamento da classe política.