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Muito barulho por nada

14 de Novembro de 2018 às 09:23

Francamente, a nossa cidade não merece.

Novamente energias que poderiam ser canalizadas em atividade produtivas estão sendo desviadas, merecendo o título da peça do Bardo: Muito Barulho por Nada.

Mais um novo episódio de conflitos e da provocativa saga pelo poder em Sorocaba, um espetáculo longe de ser digno de uma peça de Shakespeare, acomete a cidade e toma conta dos poderes existentes: o Ministério Público que abre um inquérito, mas apenas recomenda; vai buscar decisões na Constituição do Estado do Maranhão, julgada por Joaquim Barbosa há 11 anos e recomenda; a Lei Orgânica do Município supostamente é contrariada na recomendação do MP. E assim vamos.

E de que estamos falando mesmo? Da quase posse, ontem, pela vice-prefeita, da administração municipal. Um assunto que durante o dia preencheu os noticiários das emissoras de rádio, notícias da web e de jornais como este, que precisa levar ao leitor factoides como este, que também preencheu a sessão da Câmara com fotos de oportunidade e de saudações entusiasmadas de opositores ao prefeito; programou excursões para encontrar portas fechadas no sexto andar do Paço Municipal; e, mais do que nunca, preencheu com o uso e abuso das horas públicas que deveriam estar voltadas a atividades produtivas a favor do cidadão. Muito barulho por nada. Para supostamente cumprir uma recomendação para não deixar uma cidade acéfala, como se dependesse única e exclusivamente do alcaide a administração da cidade cheia de secretários municipais e uma Câmara de Vereadores que se quer fazer de Executivo. Talvez no Maranhão... Já não custasse ao contribuinte até o final de seu mandato 3/4 de milhões de reais, a vice-prefeita ainda “causa” despesas extras.

O prefeito de nossa cidade, cidade esta que não merece esse vergonhoso espetáculo de ser ou não ser -- mesmo que seja prefeita por um dia -- saiu em viagem ao exterior na semana passada em programação oficial. Crespo viajou para a Espanha onde, em Barcelona, participa da Smart City Expo World Congress, que acontece de 12 a 15 deste mês. Ele é um dos representantes da frente de prefeitos brasileiros que participa do evento. Crespo viajou no último dia 8 e seu retorno está previsto para o dia 19, segunda-feira. Ele não passou formalmente o bastão administrativo para sua vice uma vez que, pelo entendimento jurídico de sua equipe, como dito anteriormente, a Lei Orgânica do Município não prevê a necessidade de transmissão do cargo por ser uma viagem com menos de 15 dias de duração. Não tendo sido formalmente informada sobre sua saída, a vice-prefeita disse que tomou conhecimento da viagem pela imprensa, e que não foi convocada para assumir o posto. Ora, mas ontem entre suas diversas falas, disse que soube que ele estava fora e que deveria substituir a vacância. Sabia mas não sabia.

Em outra oportunidade, também durante a ausência do prefeito da cidade e com a licença da vice que concorria a um cargo eletivo (para o qual não foi eleita), o prefeito passou seu posto para o presidente da Mesa Diretora da Câmara, que assim pôde ter o gosto de ser prefeito por alguns dias ou horas e assim incrementar seu curriculum-vitae: Prefeito de Sorocaba!

Desta vez foi diferente, uma vez que a vice-prefeita está efetiva em seu posto, de direito. O prefeito não lhe passou o cargo. Por birra, por capricho, por razões que suas emoções talvez expliquem, mas não justificam dentro de um clima civilizado e de convívio harmônico que a Sorocaba merece.

E assim, dias depois, do meio do nada, como se ninguém provocasse uma posição do MP, como se não houvesse proximidade de interesses entre partes, surge uma, novamente, recomendação para que a vice assuma sua posição, ou como disse ela, a assunção ao posto.

Ao final do dia, o resultado de um período de notícias vazias, de muito barulho por nada, uma cidade que supostamente continua acéfala, se existe de fato tal coisa, onde tudo continua como antes no quartel de Abrantes. E um resquício amargo de que nossa Sorocaba não merece esse espetáculo que também lembra uma personagem de Dias Gomes, aquela que foi sem nunca ter sido.