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Manutenção precária

10 de Janeiro de 2019 às 08:50

Os cemitérios públicos de Sorocaba, pelo tamanho, pela quantidade de sepulturas e movimento que têm, principalmente em datas especiais, como Finados e final de ano, são sempre motivo de reclamação de muitos munícipes. Um bom termômetro para conhecer os problemas desses locais são as cartas de leitores que este jornal recebe, onde os cidadãos ao perceber problemas de manutenção nesses locais públicos resolvem expor os fatos que os incomodam.

A cidade tem quatro cemitérios municipais, o mais novo deles, o Santo Antônio, localizado na região oeste da cidade, talvez seja o que recebe mais reclamações, principalmente com relação ao mato alto que impede até que muitas pessoas localizem o jazigo de familiares ou amigos ali sepultados. Nas vésperas de Finados do ano passado, a reportagem deste jornal entrevistou pessoas incomodadas com as condições de limpeza e do piso de algumas alamedas do Cemitério da Consolação, na Vila Haro. O piso irregular e com buracos oferecia risco de acidente aos visitantes. No caso do Cemitério Santo Antônio, a reclamação era justamente do mato alto que começou a ser capinado nas vésperas do dia de Finados, quando a visitação é intensa.

São comuns também as reclamações sobre furtos de jazigos no Cemitério da Saudade, principalmente de peças de bronze. No da Consolação é comum encontrar capelas abertas e usadas como sanitários. Há também quem reclame do horário de funcionamento dos cemitérios, basicamente o horário comercial, como se fosse uma repartição pública. Argumentam que os cemitérios poderiam abrir mais cedo para visitação, para atender sobretudo pessoas mais velhas.

Nos últimos dias, o foco das reclamações foi o Cemitério da Consolação, a partir das postagens de um cidadão indignado com o estado de abandono, principalmente a condição de algumas ruas e o mato alto que tomava conta de vários setores do cemitério. A quantidade de mato chegou a impressionar a reportagem que esteve no local. A Prefeitura informou que estava iniciando o trabalho de capinação, o que é correto, uma vez que uma equipe de trabalhadores começava o trabalho no local, mas não justifica que se deixe crescer o mato de tal maneira que impeça a passagem de pessoas, para só depois iniciar o trabalho de limpeza.

Esse padrão discutível de manutenção dos cemitérios municipais de Sorocaba talvez tenha relação com o projeto apresentado pelo prefeito José Crespo no início de seu mandato (projeto de lei nº 166/2017), que previa a entrega da administração dos quatro cemitérios para a iniciativa privada. O prefeito se preocupava com os recursos gastos na manutenção desses próprios e a incapacidade do poder público de investir na sua ampliação. Preocupava sobretudo a situação do Santo Antônio, que estava próximo de chegar a um ponto de saturação.

O cemitério mais antigo de Sorocaba é o da Saudade. Inaugurado em 1863, em frente ao Largo do Piques, em um ponto afastado do Centro, era conhecido por ser local de enforcamentos. Até então, os sepultamentos ocorriam em igrejas e seus entornos. O crescimento da cidade, as epidemias e a percepção dos riscos à saúde que aquele tipo de sepultamento representava, levou o poder público municipal a criar um local específico para sepultamento, distante do Centro e dos cursos d’água. Cemitérios particulares -- são vários nos dias de hoje, inclusive com serviço de cremação -- só começaram a surgir no final da década de 60 do século passado, explorando o conceito utilizado em muitos países de cemitério jardim.

Evidentemente que o tema da entrega dos cemitérios à iniciativa privada gerou polêmica, com discussões acaloradas no Legislativo. O projeto chegou a ser retirado da pauta para a realização de uma audiência pública para que a população e autoridades ligadas a essa área debatessem o assunto, mas a audiência não chegou a ser realizada. Crespo enfrentava dias turbulentos que o levaram a ser afastado do cargo por algum tempo e o assunto, aparentemente, foi esquecido.

Se a intenção é passar a administração dos cemitérios para particulares, o caminho é a ampla discussão sobre o tema, a realização de audiências públicas e ampla divulgação sobre a proposta para a população. O que não é correto é negligenciar a manutenção desses locais.