Estamos em 2019 e o Brasil ainda tem aproximadamente 14 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever. Fora os milhões de cidadãos que aprenderam rudimentos da língua portuguesa, suficientes apenas para assinar o nome, os chamados analfabetos funcionais. Um levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostra que mais de 38% dos analfabetos da América Latina são brasileiros. Alguma coisa deu muito errado com a educação do País nas últimas décadas para que esses índices vergonhosos ainda existam.

Especialistas lembram que o baixo nível do ensino brasileiro é resultado da dificuldade em direcionar recursos e bons professores para os locais mais necessitados, como o interior dos Estados e as regiões Norte e Nordeste, onde há grande número de adultos analfabetos, herança de gestões passadas e que se acumulam em boa parte da zona rural e nas favelas existentes nas periferias das grandes cidades. Um estudo técnico realizado recentemente mostrou a situação de jovens brasileiros na faixa dos 15 anos: de um lado, jovens pobres da zona rural e do outro, jovens de famílias abastadas das cidades. Entre os primeiros, somente 9% alcançam os padrões mínimos de aprendizagem, enquanto que no segundo grupo, a taxa é de 55%.

Essa situação persiste em praticamente todo o país e a tendência é que os números se repitam nos próximos anos caso não sejam adotadas políticas de impacto para levar a alfabetização e educação básica para esse grande contingente de brasileiros. Reportagem publicada neste jornal na última terça-feira mostra que a Educação para Jovens e Adultos (EJA) avança a passos lentíssimos na Região Metropolitana de Sorocaba. O EJA, que sucedeu o antigo Supletivo, é uma modalidade educacional criada para a democratização do ensino destinada a pessoas que não tiveram acesso à escola em idade convencional e com isso possam concluir os estudos nos ensinos fundamental e médio. No ano passado, 23 cidades da RMS mantinham o projeto, com quase 13 mil alunos matriculados. Quatro municípios da região sequer tinham classes dessa modalidade e de 2017 para 2018 os dados do Censo Escolar mostram que houve pequeno avanço (3%) no número de matriculados na região. Esse crescimento atípico é atribuído pelos especialistas às dificuldades decorrentes da crise econômica dos últimos anos. O EJA foi criado para dar oportunidade às pessoas que precisam melhorar seu nível educacional, concluir etapas de ensino para poder ingressar em cursos técnicos ou mesmo na universidade e melhorar sua perspectiva profissional.

Em situação de alto desemprego como a que ainda vivemos, apesar de pequenas melhoras nos últimos meses, a qualificação profissional é essencial para quem pretende uma recolocação no mercado de trabalho. Uma prova dessa necessidade de qualificação profissional tivemos na última segunda-feira aqui em Sorocaba quando a Universidade do Trabalhador, Empreendedor e Negócios (Uniten), mantida pela Prefeitura, abriu inscrições para diversos cursos profissionalizantes de curta duração. Foram oferecidas 225 vagas para nove cursos a serem preenchidas por ordem de chegada dos candidatos. Os primeiros interessados chegaram ao local de inscrição às 18h do dia anterior, domingo. A maioria das pessoas que buscaram uma vaga nos cursos é composta por desempregados ou pessoas que querem aprender uma nova profissão para conseguir uma melhor colocação no mercado de trabalho.

Analfabetismo, baixo nível educacional, necessidade urgente de aprimoramento profissional deveriam estimular o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação dos Estados a planejarem programas nacionais de alto impacto para atender essa demanda. Seria altamente positivo que programas bem estruturados, aproveitando a estrutura educacional que o País já dispõe, que mobilizassem o país para atender adultos e jovens adultos com educação de qualidade; cursos para fornecer técnicos que o mercado precisa em cada região. Talvez uma releitura ampliada e aperfeiçoada do Mobral, um projeto de alfabetização em massa dos anos 1970 que apesar de suas limitações, erros e acertos, diminuiu em 2,7% o índice de analfabetismo. Levar educação a quem precisa é uma tarefa urgente. O progresso do País passa necessariamente pela democratização da educação.