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Mais agilidade, menos burocracia

25 de Agosto de 2018 às 07:23

Problemas graves de saúde de parentes, amigos e colegas de trabalho tornam as pessoas mais sensíveis e dispostas a colaborar para o bem-estar do paciente. O mais comum, em casos de intervenções cirúrgicas ou alguns tipos de doenças, é que familiares se mobilizem junto à comunidade onde vivem para conseguir doadores de sangue que possa ser usado pelo paciente. Todo sangue doado, de diferentes tipos, entra como um crédito no Hemonúcleo para aquela pessoa que pode utilizar o que necessita em razão de sua enfermidade.

Com menos frequência vemos grupos de amigos se mobilizando para conseguir voluntários para doação de medula óssea, para socorrer pessoas que necessitam desse procedimento complexo. Na realidade, o que se pede é que os voluntários se cadastrem como possíveis doadores de medula. Para participar do banco de doadores, o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), entretanto, é preciso passar por alguns procedimentos e vencer a burocracia. O voluntário precisa preencher uma ficha de inscrição com informações pessoais e se submeter à coleta de 10 ml de sangue para que seja feito um exame em que serão identificadas as características de suas células. Feito o cadastro em locais autorizados, o voluntário poderá ser chamado para a doação de medula se algum paciente com características celulares iguais ou muito semelhantes precisar. Estima-se que a chance de encontrar um doador compatível seja de 1 em 100 doadores aparentados e 1 em 100 mil não aparentados.

Desde 2012 existe uma norma definida por portaria do Ministério da Saúde que estabelece, por exemplo, que o Estado de São Paulo pode cadastrar anualmente 72.110 novos doadores. O Hemonúcleo de Sorocaba, local onde é possível realizar esse cadastro, tem um limite para registrar 2.400 voluntários por ano, 200 por mês, dez por dia, aproximadamente. Os custos desse procedimento são cobertos pelo Ministério da Saúde.

É perfeitamente compreensível que o Ministério da Saúde e os administradores do Redome imponham normas rígidas para o cadastro de novos doadores, pois as informações e a coleta de sangue precisam ser feitas com precisão. Ocorre que em muitos casos, como acontece atualmente com o gerente comercial Thiago Marini Wilfer, um sorocabano de 34 anos que precisa com urgência encontrar um doador compatível para realizar um transplante de medula, essas cotas atrapalham. Seu caso é grave e mobilizou uma rede de amigos que fizeram pelas redes sociais uma campanha para arregimentar novos doadores de medula. A situação de Thiago sensibilizou um grande número de pessoas dispostas a se cadastrar e, caso necessário, fazer a doação de medula óssea, mas foram barradas pelo sistema de cotas. Devido aos problemas com as limitações de Sorocaba, os amigos e voluntários tentarão cadastrar doadores em São Paulo, pois é um caso urgente. Quanto mais cedo novos voluntários se cadastrarem, aumenta a chance de se localizar mais rápido um doador compatível.

Essa limitação é tão frustrante para familiares de pessoas doentes e voluntários que o Ministério Público do Estado de São Paulo ingressou com uma ação civil na Justiça pedindo aumento no número de procedimentos em Sorocaba. O pedido, entretanto, foi negado. O juiz que examinou a questão entendeu que não há ilegalidade no sistema de distribuição de cotas.

Assim como é necessário ter um grande número de doadores de sangue, também é importante ter o maior número possível de cadastros de possíveis doadores de medula. Tanto que os voluntários são frequentemente estimulados por campanhas publicitárias patrocinadas por órgãos oficiais. As pessoas se entusiasmam para fazer a doação e, eventualmente, encontram a barreira das cotas. Caso semelhante acontece com as campanhas para incentivar mamografias e exames de próstata. O público-alvo se interessa e aí descobre que exames dessa natureza pelo SUS podem demorar mais de um ano. Seria pertinente que o Ministério da Saúde criasse um sistema mais flexível, mesmo que temporário, para atender casos específicos. O aumento rápido de voluntários reforça o registro geral de doadores e melhora as chances daqueles que esperam uma doação encontrar um doador compatível. Agilidade nesse processo pode salvar vidas.