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Longe dos holofotes

08 de Setembro de 2018 às 07:50

Santa Casa de Juiz de Fora onde Bolsonaro recebeu os primeiros cuidados médicos. Crédito da foto: Guilherme Leite/Folhapress

Jair Bolsonaro, o candidato do PSL à Presidência da República, que sofreu um atentado na cidade mineira de Juiz de Fora, está desde ontem internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Israelita Albert Einstein no bairro do Morumbi, em São Paulo, um dos mais prestigiados -- e caros -- do País. Ele foi transferido logo cedo por avião especialmente preparado da Santa Casa da cidade mineira, para o hospital paulistano, acompanhado por equipe de especialistas que, antes da transferência, atestaram seu estado de saúde.

Boletim médico divulgado no início da tarde de ontem informava que o líder nas pesquisas de intenção de votos continua internado na UTI, realizou exames laboratoriais e de imagens e foi avaliado por uma equipe multiprofissional. Ele está consciente e se comunicando com a equipe médica e eventuais visitas. Como se recorda, quando fazia campanha política junto a populares em um calçadão da região central de Juiz de Fora, o candidato que estava sobre os ombros de um correligionário, foi atingido por uma facada no abdômen por um agressor identificado pela polícia como Adelio Bispo de Oliveira, que foi preso logo em seguida. Ele recebeu um único golpe de faca que perfurou seu intestino delgado em três partes, provocando traumatismo abdominal e hemorragia interna.

Antes de chegar ao Hospital Albert Einstein, onde deverá permanecer por um bom tempo, Bolsonaro foi atendido pelos médicos da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Lá ele passou por uma cirurgia complexa e recebeu os cuidados que lhe salvaram a vida. Segundo depoimentos dos médicos que o atenderam na Santa Casa, o candidato perdeu muito sangue devido a uma hemorragia interna. Sua pressão arterial caiu muito e houve uma lesão em uma veia do intestino, chamada mesentérica. Houve também uma grande lesão no cólon, o que poderia resultar numa contaminação com risco de infecção generalizada. A ação da equipe deu resultado e a atuação do cirurgião vascular Paulo Gonçalves de Oliveira Junior foi fundamental para estancar a hemorragia. Com sua intervenção, o quadro clínico de Bolsonaro se estabilizou. Após a cirurgia, que demorou várias horas, ele foi encaminhado ao CTI da Santa Casa, onde foi entubado e lá ficou até ser transferido para São Paulo.

Antes de ser levado para o Albert Einstein, porém, hospital que rivaliza com o Sírio-Libanês na preferência de políticos e dos que têm muito dinheiro, é bom lembrar que o candidato passou por uma cirurgia complexa, passou uma noite internado na Santa Casa de uma cidade do interior e sob os cuidados de médicos remunerados pelo SUS. Reportagem da jornalista Consuelo Dieguez, da revista Piauí, revela que o discreto cirurgião Oliveira Junior será remunerado pelo Sistema Único de Saúde em R$ 367,06, preço pago por este tipo de cirurgia pela tabela do SUS. O procedimento é descrito como “tratamento cirúrgico de lesões vasculares traumáticas do abdômen”. O hospital onde ocorreu a cirurgia e o deputado ficou internado em uma vaga do CTI receberá R$ 1.090,80, dinheiro insuficiente para pagar algumas horas de internação no Einstein, hospital onde a diária de UTI chega a milhares de reais.

O que se quer mostrar aqui é que nesse caso de extrema emergência, o candidato que lidera as pesquisas no momento na campanha presidencial foi atendido em uma Santa Casa, por médicos comuns, sem qualquer tipo de estrelismos e remunerados pelo SUS. Foi o que lhe salvou a vida. Basicamente a mesma medicina oferecida à população e que pode ser muito boa, como demonstrou o atendimento recebido pelo deputado. As Santas Casas, que têm prestado inestimáveis serviços à população em todo o Brasil, diga-se de passagem, são geralmente deficitárias e lutam desesperadamente para fechar as contas no final de cada mês. Ontem pela manhã, ao ser visitado por um colega parlamentar, Bolsonaro gravou um depoimento em que agradece a equipe de médicos que o atendeu e que, segundo ele, salvaram sua vida. É um bom momento para que a classe política faça uma reflexão sobre a importância do SUS e a necessidade de recursos para hospitais públicos e Santas Casas do interior deste País.