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Pontapé inicial

21 de Julho de 2018 às 15:02

Pode-se dizer que, oficialmente, a campanha presidencial começou ontem, com a formalização pelo PDT da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. Começa, portanto, um período que promete turbulências e só termina no dia 7 de outubro se o candidato mais votado vencer no primeiro turno, ou no dia 28 de outubro, se houver necessidade de segundo turno.

O primeiro discurso do primeiro candidato oficial das eleições, feito para a militância e dirigentes do partido reunidos em Brasília, foi contido e sem improvisos. Gomes afagou a memória de Leonel Brizola, fundador da sigla, mas continuou enviando sinais para o Centrão, falando em rigor no ajuste fiscal, mudanças na segurança pública e um olhar especial para a classe média. Nem parecia Ciro Gomes.

O candidato pedetista, que assim como Geraldo Alckmin nasceu em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, mas que fez sua carreira política no Ceará, é especialista em metamorfoses políticas. Começou sua carreira política em Sobral (CE) elegendo-se deputado estadual pelo PDS, partido que sucedeu a Arena no apoio ao regime militar, e em seguida mudou para o PMDB.

Reeleito em 1986, apoiou a eleição de Tasso Jereissati, empresário que se destacou na política cearense. Assumiu a prefeitura de Fortaleza em 1989 e no ano seguinte abandonou o cargo para disputar o governo estadual pelo PSDB. Cumpriu o mandato e teve seu governo bem avaliado. Foi ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Sua primeira tentativa para chegar à Presidência ocorreu em 1998, quando trocou o PSDB pelo PPS. Também se candidatou em 2002. Teve passagem pelo Ministério da Integração Nacional durante o governo Lula e cumpriu mandato como deputado federal, de 2007 a 2010.

Até a véspera da convenção, Gomes tentava o apoio do Centrão, bloco partidário formado por DEM, PP, PRB e Solidariedade que decidiu apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). Como corteja o Centrão ou parte dele, Gomes adapta seu discurso de acordo com o ambiente em que se encontra, pouco se importando com eventuais contradições.

Falando para lideranças empresariais, ele suavizou seu discurso contra a reforma trabalhista, defendeu privatizações e o rigor fiscal. Na última quinta-feira, falando para sindicalistas, em Brasília, adotou posturas mais à esquerda. Em seu discurso declarou que "o Brasil nunca será um país em paz enquanto Lula não tiver recuperado sua liberdade" e voltou suas baterias para o Judiciário e Ministério Público, criticando o episódio em que o desembargador Rogério Favreto tentou libertar o ex-presidente com base em um pedido de habeas corpus apresentado por três deputados petistas.

Em seu estilo "deixa que eu chuto", Gomes comprou uma briga do Ministério Público de São Paulo, que publicou uma nota de repúdio contra declarações do candidato. Falando na terça-feira em um evento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos, o candidato insultou um membro do Ministério Público que fez um pedido de investigação para apurar denúncia de injúria racial.

Gomes usou palavras de baixo calão e termos absolutamente inapropriados contra o representante do MP, no caso uma promotora pública, que agiu estritamente dentro dos marcos estabelecidos pela legislação e pela Constituição.

Esse destempero verbal não é uma novidade. O primeiro candidato oficial à Presidência da República das eleições deste ano tem um histórico vexatório. Em março de 2017 ele gravou um vídeo desafiando o juiz Sérgio Moro a prendê-lo e afirmou que receberia a "turma do Moro" na bala.

Durante uma sabatina promovida em junho com os pré-candidatos disse que seu concorrente Jair Bolsonaro é um "boçal desorientado" e "um câncer a ser extirpado". Já classificou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, de "burrice do PT" o fato do partido querer que os candidatos de centro-esquerda defendam um indulto para Lula.

O País passa por um momento histórico em que patina para sair de uma grave crise econômica e precisa urgentemente moralizar a atividade política. A população está cansada de tanta corrupção, quer propostas concretas de mudança e espera mais de uma campanha política do que posturas ambíguas frente a temas importantes, arrogância e linguagem grosseira.